Suprema Corte dos EUA não decidiu que vacinas anticovid "não são vacinas"

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  • Publicado em 30 de novembro de 2023 às 19:08
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  • Por AFP Colômbia, AFP Brasil
A Suprema Corte dos Estados Unidos não decidiu a favor do advogado norte-americano Robert Kennedy Jr., determinando que as vacinas contra a covid-19 de RNA mensageiro não são vacinas, ao contrário do que alegam publicações compartilhadas mais de 3 mil vezes nas redes sociais desde 25 de outubro de 2023. Não há registro de tal decisão do tribunal e a suposta ação judicial foi desmentida à AFP pela organização fundada por Kennedy Jr.

“Decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos: As vacinas Covid NÃO são vacinas. Robert F. Kennedy Jr. ganhou seu processo contra todos os lobistas farmacêuticos. [...] Em sua decisão, o Supremo Tribunal confirma que os danos causados pelas terapias genéticas de mRNA da Covid são IRREPARÁVEIS”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook, no Gettr, no Telegram e no X (antes Twitter).

“Num comunicado, Robert F. Kennedy sublinhou que este sucesso só foi possível graças à cooperação internacional de um grande número de advogados e cientistas. É claro que esta decisão estabelece um precedente internacional. [...] O advogado alemão Rainer Füllmich e mais de 100 advogados alemães adicionais estão ativamente envolvidos nestes casos”, acrescentam os usuários nas redes.

Alegações similares circulam em espanhol, inglês, holandês e finlandês desde 2022.

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Captura de tela feita em 29 de novembro de 2023 de uma publicação no X ( .)

Não há registro na Fox News

A maioria das publicações virais sugerem que a fonte da notícia é o canal norte-americano Fox News, e compartilham um link de uma de suas matérias.

Contudo, o artigo não faz referência a uma decisão favorável a Robert F. Kennedy Jr. que determinaria que as vacinas contra a covid-19 “não são vacinas”.

A notícia foi publicada em 25 de outubro de 2022 e relata a decisão da Suprema Corte de Nova York de recontratar os funcionários demitidos até então por não estarem vacinados contra o coronavírus.

Organização de Kennedy desmentiu a decisão

As publicações indicam que Robert F. Kennedy Jr. ganhou uma ação judicial contra as farmacêuticas, mas isso também é falso.

Kennedy Jr. é um advogado ambientalista e proeminente ativista antivacinas norte-americano, além de ser defensor de teorias amplamente descredibilizadas, como a ideia de que as vacinas causam o autismo. Ele é administrador do site Children’s Health Defense, dedicado majoritariamente a questionar a eficácia e a segurança dos imunizantes. O AFP Checamos já verificou afirmações suas durante a pandemia.

À AFP, a Children’s Health Defense, organização presidida por Kennedy Jr. que fez campanha contra as vacinas da covid-19, explicou:

“Esse é um rumor que começou há mais de 3 anos. Circulam pelo mundo todo notícias e memes pouco confiáveis que afirmam que Robert F. Kennedy Jr. venceu recentemente uma sentença do Supremo Tribunal dos EUA, que determina que as vacinas contra a COVID-19 não são vacinas e que os danos causados pelas injeções são irreparáveis. Essa notícia é falsa”.

Sem registro na Suprema Corte dos EUA

Segundo as publicações virais, a Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu contra as vacinas anticovid de RNA mensageiro, ou seja, produzidas pela Pfizer-BioNTech e a Moderna.

Entretanto, até a data de publicação deste texto, o termo “RNA mensageiro” não consta em nenhuma sentença disponível no site do tribunal, que reúne todas as decisões em “Opiniões da corte”, para os casos atualmente em análise, e em “Ordens da corte” para julgamentos simplificados.

Além disso, a afirmação de que as vacinas de mRNA contra a covid-19 constituem “terapias genéticas” e que modificam o genoma humano circula desde 2020 e é falsa. O AFP Checamos já verificou essa desinformação com especialistas no desenvolvimento de vacinas, imunologistas e geneticistas (1, 2, 3).

A AFP também desmentiu alegações relacionadas a decisões da justiça contra as vacinas ou contra instituições de saúde (1, 2).

O advogado alemão Reiner Fuellmich, mencionado nas publicações virais, propagou informações falsas durante a pandemia, verificadas pelo AFP Checamos, e foi preso por fraude em outubro de 2023.

Referências

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