Suprema Corte do Canadá não aceitou ação judicial contra a OMS por crimes contra a humanidade
- Este artigo tem mais de um ano
- Publicado em 30 de dezembro de 2021 às 16:09
- 4 minutos de leitura
- Por Ana PRIETO, AFP Argentina, AFP Brasil
Copyright © AFP 2017-2025. Qualquer uso comercial deste conteúdo requer uma assinatura. Clique aqui para saber mais.
“INICIADO E ACEITO PELO TSJ DO CANADÁ, PROCESSO POR CRIMES CONTRA A HUMANIDADE”, alegam publicações no Facebook (1, 2, 3) e no Twitter (1, 2).
As mensagens acrescentam: “Uma equipe de mais de 1.000 advogados e mais de 10.000 especialistas médicos liderados pelo alemão Reiner Fuellmich, um dos advogados mais poderosos da Europa, abriu o maior processo da história chamado ‘Nuremberg 2’, contra a OMS (Organização Mundial da Saúde) e o Grupo Davos (Mundial Fórum Econômico liderado por Klaus Schwab, mais de 80 anos) por crimes contra a humanidade”.
A informação também foi publicada em um artigo na internet, compartilhado mais de 600 vezes, segundo a ferramenta de medição de audiências CrowdTangle.
O conteúdo também foi compartilhado em espanhol, francês, inglês, alemão e polonês.
Quem é Reiner Fuellmich?
Fuellmich é um advogado alemão com um escritório de advocacia na cidade de Göttingen. Desde 2020, ele promove uma “Demanda de indenização por danos relacionados ao coronavírus” contra a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o virologista alemão Christian Drosten, cujo protocolo para detectar SARS-CoV-2 por meio de testes PCR vem orientando os laboratórios do mundo durante a pandemia.
Quem quiser entrar na ação coletiva deve pagar a Fuellmich e sua equipe uma "taxa fixa" de 800 euros mais um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) e, depois, 10% do valor eventualmente ganho com a ação, conforme se lê na seção "Perguntas frequentes" da iniciativa.
Além disso, o advogado pretende processar o governo alemão pela gestão da pandemia de covid-19 e é cofundador do chamado “Comitê Corona”. Segundo o grupo, eles também buscam responsáveis pelo chamado “dano colateral” que teria sido causado pelas ações tomadas para prevenir a disseminação do coronavírus.
No entanto, não há registro de que nenhum desses casos tenha chegado aos tribunais, nem há menção a isso no canal de Telegram do advogado.
Nada na Suprema Corte do Canadá
No último 13 de dezembro, a AFP contatou a Suprema Corte do Canadá.
Por e-mail, um porta-voz do tribunal pontuou que os casos atuais ou históricos perante a Corte podem ser rastreados no site da instituição, e que as informações são mantidas atualizadas.
“Em outras palavras, se a sua busca não der resultado, você saberá que o caso em questão não foi apresentado à Suprema Corte ou, pelo menos, não foi apresentado naquela data”, acrescentou.
Até 30 de dezembro de 2021, a pesquisa não produziu nenhum resultado sobre Reiner Fuellmich ou sobre casos de crimes “contra a humanidade” contra a OMS pela gestão da pandemia.
Fuellmich também nega a alegação
Em 16 de dezembro, o advogado alemão negou em seu canal no Telegram a informação viral.
"Mais uma vez, circulam informações falsas segundo as quais o Dr. Reiner Fuellmich estaria liderando centenas de advogados e profissionais de saúde e teria iniciado um Nuremberg 2.0 no Canadá", diz a mensagem, que se refere a uma desinformação semelhante que viralizou em maio de 2021 e foi verificada pela equipe de checagem da AFP.
No Telegram, Fuellmich detalha que o “Comitê Corona” e uma equipe de advogados estão planejando um “Tribunal de Opinião Pública”: uma espécie de audiência probatória que ocorrerá em 2022 para reunir evidências sobre os “crimes contra a humanidade” cometidos no contexto da gestão da pandemia, bem como “declarações das vítimas da vacina”.
Não é a primeira vez que o advogado tem que desmentir que chegaram aos tribunais suas ações coletivas contra a OMS ou o governo alemão e os supostos julgamentos de “Nuremberg 2.0”. Por exemplo, em uma entrevista em junho passado com o ex-conselheiro de Donald Trump e executivo de mídia Steve Bannon, Fuellmich disse que, para realizar os “julgamentos de Nuremberg 2.0”, seria necessária a formação de um “Tribunal Internacional do Coronavírus”, sem especificar quando seria criado e com que garantias. À época, o próprio advogado admitiu que não estavam “prontos para isso ainda”.
Testes e imunizantes
Algumas publicações afirmam ainda que há "milhares de evidências científicas que apoiam a total falta de confiabilidade dos testes de PCR", mas isso não é verdade. Como já explicado pela AFP em outras verificações (1, 2, 3), os testes PCR são projetados especificamente para detectar o vírus SARS-CoV-2.
“Estimamos que a especificidade dos RT-PCR seja da ordem de 99%”, informou Cédric Carbonneil, chefe do serviço de avaliação dos atos profissionais da Alta Autoridade de Saúde francesa (HAS), em outubro de 2020 à AFP.
As publicações também afirmam que os imunizantes “fazem parte de experimentos genéticos”. Embora cheguem ao núcleo da célula muscular, as vacinas não são capazes de afetar o genoma, como explicaram especialistas em outras oportunidades (1, 2).
Ainda segundo as mesmas publicações, as vacinas violam “todos os 10 códigos de Nuremberg”. No entanto, especialistas em ética e saúde já destacaram à AFP que o Código de Nuremberg trata de experimentos em humanos, e não de vacinas, e que não há incompatibilidade alguma entre elas e o Código.
A equipe de checagem da AFP já verificou várias declarações falsas de Reiner Fuellmich sobre a pandemia, vacinas contra a covid-19 e o coronavírus (1, 2).