A BBC não informou que as vacinas contra covid-19 causaram excesso de mortes no Reino Unido
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- Publicado em 31 de maio de 2023 às 22:18
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- Por Kate TAN, AFP Austrália, AFP Argentina, AFP Brasil
- Tradução e adaptação Martín RASCHINSKY
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“BBC News finalmente admite que vacinas COVID causaram 'excesso de mortes' em 2022”, escreveu um usuário no Twitter. Conteúdo semelhante circula no Facebook, Kwai e TikTok.
As alegações são compartilhadas com o logo do site Tribuna Nacional, onde a alegação foi publicada. O portal já publicou conteúdos falsos sobre vacinas e a pandemia de covid-19 verificados pela AFP (1, 2, 3),
O conteúdo também circula em espanhol e inglês.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) explica que os termos “morte em excesso” ou “mortalidade em excesso” referem-se à diferença entre o número total de mortes estimadas para um local específico em determinado período de tempo, e o número que seria esperado na ausência de uma crise sanitária (por exemplo, a pandemia de covid-19).
Relatório mal interpretado
O texto do Tribuna Nacional cita como fonte um artigo publicado no site The Exposé – já verificado pela AFP no passado – , que cita fragmentos de uma reportagem da BBC publicada em 10 de janeiro de 2023 intitulada: “Excesso de mortes em 2022 entre as piores em 50 anos”.
No entanto, o texto relata o oposto do que os conteúdos compartilhados nas redes sociais afirmam. A reportagem da BBC faz um levantamento, com dados até junho de 2022, segundo o qual pessoas não vacinadas tiveram mais probabilidade de morrer do que as imunizadas contra o coronavírus. O texto enfatiza: “Se as vacinas estivessem causando excesso de mortalidade, esperaríamos que fosse o contrário”.
Um porta-voz da BBC confirmou à AFP em 26 de abril que seu relatório sobre o excesso de mortalidade não sustenta a afirmação que circula nas redes.
Excesso de mortalidade
A reportagem da BBC indica que houve 650 mil mortes no Reino Unido em 2022, um aumento de 9% em relação a 2019. Entre as principais explicações estão o “efeito da pandemia na saúde” e “as pressões do Sistema Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS)”, referindo-se à crise que assola o NHS.
Paul Hunter, professor de medicina da Universidade de East Anglia, na Inglaterra, disse à AFP que a alegação de que as vacinas são responsáveis pelo excesso de mortes no Reino Unido “é falsa e não há evidências sólidas para apoiá-la”.
Hunter apontou que os dados do Gabinete de Estatísticas Nacionais (ONS, na sigla em inglês) do Reino Unido mostram que as pessoas vacinadas realmente apresentam uma taxa de mortalidade geral mais baixa: “Se a taxa de mortalidade por todas as causas for menor em pessoas que foram vacinadas, então a vacinação não pode estar contribuindo para o excesso de mortalidade”.
Segundo o professor, existem outras explicações possíveis para o aumento da mortalidade excessiva, como “o atraso no diagnóstico de doenças letais devido à pandemia e às medidas de controle implementadas associadas a ela”. Ou o impacto gerado pela redução da mobilidade devido às restrições impostas. Hunter acrescentou que "pode-se dizer com certeza" que esse aumento "não se deve à vacinação".
Um porta-voz do ONS reiterou à AFP que os dados da agência “mostram que as pessoas que foram vacinadas têm uma taxa de mortalidade geral menor do que aquelas que não foram vacinadas”.
A AFP já verificou outras alegações falsas relacionadas ao excesso de mortes e vacinas contra a covid-19 (1, 2, 3).