O governo alemão não anunciou que vacinados contra a covid-19 desenvolveram aids

“O governo alemão admitiu que um ‘número alarmante’ de pessoas vacinadas está desenvolvendo ‘sintomas semelhantes aos da AIDS’”, diz uma das publicações que circula no Twitter, no Facebook, no Instagram e no LinkedIn.

Junto às publicações, usuários compartilham o link para um artigo em inglês do site NewsPunch ou uma captura de tela com a manchete.

Image

Captura de tela feita em 1º de fevereiro de 2023 de uma publicação no Twitter ( .)

Algumas postagens mencionam o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que teve um inquérito aberto pela Polícia Federal após associar a vacina anticovid com a aids, em 2021, sem apresentar provas sobre essa relação.

Vacinas contra a covid-19 não “desenvolvem” aids

A aids é a fase mais grave da infecção pelo vírus do HIV, que pode ser transmitido por meio de relação sexual, ao compartilhar agulhas e seringas contaminadas, pelo sangue, pelo sêmen, pelo líquido pré-seminal, por fluidos retais e vaginais, ou pelo leite materno.

Não há causas adicionais que “gerem” aids, disse à AFP Zandrea Ambrose, especialista em HIV e professora associada do Departamento de Doenças Infecciosas da Universidade de Pittsburgh.

María Victoria Sánchez, pesquisadora do Laboratório de Imunologia e Desenvolvimento de Vacinas do IMBECU-CCT-CONICET, da Argentina, explicou que “a resposta imune gerada pela vacina contra a covid-19 é específica para o SARS-CoV-2” e que “de nenhuma maneira pode induzir uma resposta relacionada à aids. Isto se produz apenas pelo ingresso do HIV”.

Este vídeo da AFP explica o processo de infecção pelo HIV:

Diferentes alegações que vinculam a aids com as vacinas anticovid já foram verificadas pelo AFP Checamos em diversas ocasiões. Além disso, especialistas concordaram os imunizantes tampouco danificam o sistema imunológico.

Documento mal-interpretado

As publicações virais citam um artigo do NewsPunch, um site anteriormente conhecido como YourNewsWire, que já publicou em outras ocasiões alegações incorretas e teorias da conspiração.

O texto compartilha um relatório do Instituto Robert Koch, uma agência de saúde do governo da Alemanha, sobre a situação da covid-19 no país em 30 de dezembro de 2021. No entanto, o documento em nenhum momento menciona a aids ou o HIV, como confirmou esta entidade à AFP em abril de 2022.

O NewsPunch acrescenta uma captura de tela da página 14 do relatório intitulado “Dados clínico-epidemiológicos”. O conteúdo se baseia em números de casos da variante ômicron fornecidos pelo Instituto Robert Koch. Uma dessas cifras, a de pessoas infectadas não vacinadas, estava incorreta e foi corrigida.

No início do informe, vê-se a correção destacada em vermelho: “Na página 14 foi corrigido o número de não vacinados entre os casos de ômicron notificados em 3 de janeiro de 2022 (antes: 186 ; depois: 1.097). Em 5 de de janeiro de 2022, o número e a proporção de casos da variante delta e ômicron foram corrigidos na tabela 3”.

Image

Captura de tela feita em 2 de fevereiro de 2023 de um relatório do Instituto Robert Koch sobre a situação da covid-19 em 30 de dezembro de 2021 ( .)

Em nenhum trecho do documento há uma referência a casos adversos ou relatos de consequências pela vacina contra a covid-19, nem de problemas imunológicos causados por elas.

Além disso, uma busca pelas palavras “aids” e “covid”, em alemão, no site e no Twitter do Ministério da Saúde da Alemanha não levaram a nenhum resultado sobre um comunicado vinculando as vacinas anticovid com a aids.