Vídeo de indígenas Enawenê-nawê com carros é falsamente associado ao povo Yanomami
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- Publicado em 2 de fevereiro de 2023 às 22:41
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- Por AFP Brasil
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“Índios passando fome?”, diz o texto sobreposto a um vídeo que circula no Facebook, no TikTok e no Twitter. A sequência mostra um grupo de indígenas reunidos em uma estrada ao lado de caminhonetes.
As publicações circulam após o Ministério da Saúde decretar emergência sanitária no território Yanomami, em 21 de janeiro de 2023, diante dos casos de desnutrição, malária e outras doenças na região.
A sequência viral, no entanto, não mostra indígenas Yanomami.
Por meio da marca da água, o AFP Checamos localizou o vídeo original, que foi publicado no Kwai em 12 de dezembro de 2022 por um usuário chamado Walakolary. A gravação é mais longa do que a compartilhada nas redes, com o trecho viral começando aos 1 minuto e 10 segundos.
Na descrição do perfil, Walakolary se apresenta como um indígena do povo Enawenê-nawê. De acordo com a legenda da publicação viral, os carros pertencem a sua comunidade.
Os veículos também aparecem em outros registros publicados pelo usuário no Kwai (1, 2) e no TikTok. Em um deles, no qual carros do mesmo tipo são vistos passando ao fundo, Walakolary diz que sua comunidade está localizada no município mato-grossense de Juína, que de fato é habitado por indígenas dessa etnia.
Já o povo Yanomami vive no norte dos estados de Amazonas e Roraima, próximo à fronteira com a Venezuela. Segundo dados do Censo Demográfico de 2010, existem no Brasil cerca de 897 mil indígenas, de 305 etnias diferentes.
Há também outros registros na imprensa de indígenas Enawenê-nawê com caminhonetes.
Situação dos Yanomami
No último dia 30 de janeiro, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a investigação de autoridades do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro por genocídio contra a comunidade. Também serão apurados os crimes de desobediência, quebra de segredos e justiça e crimes ambientais relacionados à vida, à saúde e à segurança de comunidades indígenas.
Os relatos de violência e casos malária no território Yanomami cresceram com o aumento do garimpo ilegal na região a partir de 2015, como mostra relatório da Hutukara Associação Yanomami. Em 2022, a mineração ilegal cresceu 54% na região, aponta um monitoramento da mesma assossiação.
Segundo o Ministério dos Povos Indígenas, nos últimos 4 anos, ao menos 570 crianças Yanomami morreram por desnutrição, malária, vermes, pneumonia e diarreia. Em 2022, foram 99 mortes de crianças de até 5 anos no território, de acordo com a pasta.