Veículo administrado pelo governo de Tóquio promove medidas de prevenção contra a covid-19 ( AFP / Kazuhiro Nogi)

Ivermectina não foi aprovada para tratar a covid-19 no Japão; país aplica dose de reforço

Publicações compartilhadas milhares de vezes nas redes sociais ao menos desde o final de outubro de 2021, e que voltaram a circular em julho de 2022, afirmam que o Japão parou de vacinar a sua população contra a covid-19 e está usando o antiparasitário ivermectina para enfrentar a pandemia. Mas isso é falso. Em julho de 2022, o Japão estava aplicando doses de reforço de imunizantes contra a covid-19 e a ivermectina não constava como medicação aprovada para tratar a doença.

“JAPÃO DECLARA AO MUNDO QUE A IVERMECTINA É MAIS EFICAZ QUE A VACINA”, dizem publicações compartilhadas no Twitter e Facebook, acompanhadas por um vídeo.

Mensagens similares circularam em outubro e novembro de 2021, algumas baseadas em um artigo escrito originalmente em italiano, e foram compartilhadas também em espanhol e em inglês.

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Captura de tela feita em 8 de julho de 2022 de uma publicação no Twitter ( . / )

A campanha de vacinação contra a covid-19 no Japão teve início em 17 de fevereiro de 2021 e não parou até a data de publicação deste artigo. As autoridades colocaram à disposição dos residentes os imunizantes da Pfizer, Moderna, AstraZeneca e Novavax, em um processo totalmente gratuito e financiado pelo Estado japonês.

Até 8 de julho de 2022, o governo japonês havia administrado 287.257.646 de doses de vacina, das quais mais de 78 milhões de terceira dose e mais de 2 milhões de quarta dose.

Aqueles que tomaram pelo menos a primeira dose da vacina contra a covid-19 representam 82,3% da população japonesa, de acordo com dados do projeto Our World in Data, da Universidade de Oxford.

O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, anunciou em sua primeira coletiva de imprensa após tomar posse do governo, em 4 de outubro de 2021, que iria estabelecer um pacote abrangente contra a covid-19 e fortaleceria a vacinação e a capacidade médica, “assumindo e estimulando todos os tipos de cenários possíveis”.

Na página oficial do gabinete do premiê, destaca-se: “O governo recomenda que a população seja vacinada porque os benefícios da vacinação são maiores que o risco de reações adversas”.

Casos confirmados

Até 11 de julho de 2022, o Japão havia registrado mais de 9,6 milhões de contágios desde o início da pandemia, segundo dados oficiais do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar Social (MHLW).

Em 1º de fevereiro de 2022, o país atingiu seu pico de contágios por dia, com 104.483 novos casos. Houve registro de queda nos meses posteriores até cerca de 5 mil casos diários, até uma nova alta em julho deste ano, com 54.993 casos confirmados no último dia 9, de acordo com a pasta.

A assessora de políticas de saúde na organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) Angela Uyen Cateriano explicou à AFP em novembro de 2021 que os países asiáticos estão em vantagem sobre os países ocidentais em termos de transmissão e gerenciamento do vírus porque essa “não é uma situação nova para a Ásia. As últimas epidemias, como a SARS em 2003 (especialmente China, Hong Kong e Taiwan) e a MERS, em 2015, levaram muitos países asiáticos a investir em infraestrutura sólida de atendimento médico e saúde pública”.

A ivermectina não é um tratamento aprovado

As publicações viralizadas mencionam a ivermectina, um antiparasitário de amplo espectro, como medicamente que poderia “prevenir e curar” o coronavírus. Entretanto, esse remédio não está na lista de medicamentos aprovados para tratar a covid-19 divulgada pelo governo japonês em junho de 2022.

Além disso, o ex-ministro da Saúde e membro da Câmara de Representantes do Japão Norihisa Tamura assinalou durante um comitê parlamentar em agosto de 2021 que eram necessárias mais provas para demonstrar que a ivermectina é eficaz para que seja prescrita no tratamento da covid-19.

Em 31 de março de 2021, a Organização Mundial da Saúde (OMS) desaconselhou o uso da ivermectina para tratar a covid-19 após revisar os dados reunidos de 16 testes controlados e concluir que seus benefícios eram “muito pouco confiáveis”.

Da mesma forma, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) não aconselha o uso da ivermectina para a prevenção ou o tratamento da covid-19, e só a aprova para tratar algumas infestações parasitárias e condições de pele como a rosácea.

A EMA informou em 22 de março de 2021 que eram necessários mais estudos aleatorizados “bem concebidos” para tirar conclusões sobre a eficácia e a segurança do produto.

Um artigo da Agência de Medicamentos e Alimentos (FDA) dos Estados Unidos, atualizado em 9 de outubro de 2021, levanta uma série de questões sobre o uso da ivermectina no tratamento do coronavírus e reitera que “a FDA não autorizou ou aprovou o uso da ivermectina na prevenção ou tratamento da covid-19 em humanos ou animais”. Inclusive, orienta que “a ingestão de grandes doses de ivermectina é perigosa”.

O especialista em virologia e membro da Sociedade Mexicana de Saúde Pública (SMSP) Andreu Comas explicou à AFP que a ivermectina pode afetar a saúde das pessoas porque “aquelas que tomaram essas doses por tempo prolongado apresentaram quadros de toxicidade, sobretudo cardíaca e renal”.

O Checamos já verificou diversas alegações sobre a eficácia da ivermectina no tratamento da covid-19 (1, 2, 3).

Esta verificação foi realizada com base em informações científicas e oficiais sobre o novo coronavírus disponíveis na data desta publicação.

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