O procurador-geral não denunciou fraude nos EUA, questionou o voto por correio antes das eleições

Publicações compartilhadas mais de 1,2 mil vezes nas redes sociais desde o último dia 8 de novembro, cinco dias após as eleições presidenciais nos Estados Unidos, asseguram que o procurador-geral William Barr denunciou que houve fraude nos votos por correio. As declarações de Barr, contudo, são anteriores ao pleito, durante uma entrevista à CNN em 2 de setembro, quando fez referência a antecedentes que mostram que “o voto por correio é repleto de riscos de fraude e coação”.

“Houve fraude. A questão é, qual sua proporção...? *William Barr, fiscal geral dos Estados Unidos, literalmente a pessoa mais importante de todo o sistema judicial americano , acaba de denunciar publicamente que houve fraude eleitoral.*”, afirma a legenda de uma das postagens que contém o vídeo, visualizado mais de 12 mil vezes no Facebook (1, 2, 3).

A sequência com afirmações similares também circulou amplamente em espanhol (1).

“A comissão bipartidária comandada por Jimmy Carter e James Baker disse em 2009 que o voto por correio envolve o risco de fraude e coação [...] Nos jornais, nas televisões, em estudos acadêmicos, se diz que [o voto por correio] é aberto à fraude e à coação. A única vez que mudaram a narrativa foi depois que chegou essa administração [Trump], manifesta o procurador-geral no vídeo.

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Captura de tela feita em 12 de novembro de 2020 de uma publicação no Facebook

“Nas eleições que foram feitas por correio foram encontrados casos substanciais de fraude e coação [...] Não havíamos tido [anteriormente] um uso de cédulas como está sendo proposto. Recebemos votos ausentes de pessoas que os solicitaram em um endereço específico. Do que estamos falando agora é de enviar [as cédulas] a todo mundo na lista de eleitores quando todo mundo sabe que essas listas são imprecisas. As pessoas estão tentando mudar as regras para essa metodologia que, logicamente, está muito propensa à fraude e à coação, é temerária e perigosa, e as pessoas estão brincando com fogo”, continuou.

Em setembro, a equipe de checagem da AFP verificou, em inglês, uma afirmação de uma entrevista de Barr ao jornalista Wolf Blitzer na CNN, na qual pronunciou as palavras agora viralizadas nas publicações em redes sociais.

A entrevista em questão data de 2 de setembro, quase dois meses antes das eleições norte-americanas, motivo pelo qual não se trata de uma denúncia de fraude após o pleito realizado em 3 de novembro de 2020.

Barr se referia a antecedentes que assinalavam a possibilidade de fraude nos votos por correio, em apoio aos repetidos ataques do presidente Donald Trump à confiabilidade deste sistema, ao qual muitos cidadãos recorreram este ano em razão da pandemia de covid-19.

Após as eleições, Barr autorizou, por meio de uma carta publicada no New York Times, que os procuradores de todo o país investigassem as denúncias de fraude eleitoral recebidas, detalhando que isto não se trata de “uma indicação de que o Departamento [de Justiça] tenha concluído que as irregularidades no voto tiveram impacto no resultado de qualquer eleição”.

Com base na mesma entrevista, circulou em setembro que Barr havia dito que um homem que preencheu 1.700 cédulas de votação para um só candidato foi preso no Texas. Efetivamente, Barr se referiu a este caso em sua conversa com Blitzer, mas, como comprovou a equipe de verificação da AFP nos Estados Unidos, o procurador interpretou incorretamente um caso real suspeito de fraude eleitoral no Texas. Na verdade, um indivíduo foi pego com 700 cédulas relacionadas a um esquema de venda de voto a candidatos de conselhos municipais.

O Checamos já publicou diversos artigos (1, 2, 3, 4) relativos a afirmações de fraude eleitoral que circularam nas redes sociais em meio à apuração das presidenciais dos Estados Unidos.

Em resumo, o procurador-geral dos Estados Unidos, William Barr, não denunciou que tenha havido fraude no voto por correio nas eleições presidenciais de novembro de 2020. Barr deu declarações antes da realização do pleito, assinalando que existem antecedentes de que o voto por correio pode ser fraudulento, e que foram retiradas de contexto.

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