Imagem com dados de Detroit é de dezembro de 2019 e não tem relação com a eleição nos EUA

Uma captura de tela da transmissão de um canal norte-americano que supostamente prova que houve fraude eleitoral em Detroit durante as presidenciais nos Estados Unidos foi publicada nas redes sociais, somando 12,6 mil interações desde o último dia 5 de novembro. A imagem, contudo, data de dezembro de 2019, quando uma fundação jurídica entrou com uma ação contra a cidade, acusando-a de fraude. O processo em questão foi finalizado em junho de 2020, meses antes do pleito de 3 de novembro.

“Em Detroit foi aberto um processo eleitoral. Motivo: 4.788 registros duplicados; 32.519 votos a mais do que votantes; 2.503 pessoas mortas registradas; Um votante nascido em 1823”, indicam as legendas das publicações, compartilhadas centenas de vezes no Facebook (1, 2), denunciando uma suposta fraude eleitoral nesta cidade do Michigan, estado vencido pelo candidato democrata, Joe Biden.

Esta imagem com a alegação de fraude nas eleições presidenciais norte-americanas também circulou no Instagram (1, 2) e Twitter (1, 2), assim como em outros idiomas, como francês, inglês e espanhol.

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Captura de tela feita em 9 de novembro de 2020 de uma publicação no Instagram

A apuração dos votos para eleger o 46º presidente dos Estados Unidos começou na própria terça-feira, 3 de novembro, mas o vencedor só foi confirmado dias depois, em 7 de novembro. Isso se deu após Biden alcançar uma liderança intransponível no estado-chave da Pensilvânia e apesar das acusações de fraude na votação feitas pelo atual presidente Donald Trump.

A captura de tela viralizada, entretanto, foi feita a partir de uma reportagem transmitida em dezembro de 2019 pelo canal de TV Fox 2. Os números foram apresentados por uma fundação jurídica conservadora e não provam uma fraude eleitoral em Detroit este ano.

Uma ação judicial terminada em junho de 2020

Na parte superior da imagem pode-se ler “Ação judicial referente à lista de eleitores de Detroit” e “Public Interest Legal Foundation”, que se trata de uma organização que afirma ter a missão de “ajudar a causa da integridade eleitoral” e “combater a ilegalidade nas eleições americanas”, segundo consta em seu site.

Em agosto deste ano, o presidente desta fundação, Christian Adams, foi nomeado por Donald Trump para a Comissão de Direitos Civis dos Estados Unidos.

No site da Public Interest Legal Foundation há, por sua vez, um comunicado, com data de 30 de junho de 2020, a respeito do término de uma ação judicial contra a cidade de Detroit.

Este processo teve início em 10 de dezembro de 2019 após a descoberta de irregularidades nas listas eleitorais de Detroit, de acordo com a Fundação.

Segundo a Public Interest Legal, a taxa de registro de eleitores em Detroit naquela época era maior do que o número de pessoas em idade para votar.

Além disso, 2.503 dos eleitores registrados foram declarados falecidos na ocasião e havia a suspeita de que 4.788 registros tivessem sido contados duas ou até três vezes. A fundação também mencionou um homem que estava nas listas e havia “nascido em 1823, muito antes de Michigan ter sido anexado à União”.

Os números vistos na ação da Public Interest Legal correspondem aos apresentados nas publicações viralizadas, como se pode conferir abaixo:

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Captura de tela feita em 6 de novembro de 2020 no site Public Interest Legal Foundation

Em seu comunicado, a Fundação afirma que abandonou a ação judicial contra Detroit por considerar que “medidas corretivas” haviam sido tomadas.

Reportagem transmitida em dezembro de 2019

Em resposta a essas postagens que questionavam os resultados da apuração em Detroit, o canal Fox 2 publicou em 5 de novembro de 2020 um esclarecimento, informando que a captura de tela compartilhada foi feita a partir de uma matéria da emissora sobre o processo que foi ao ar no fim de 2019.

O canal vinculou uma reportagem transmitida em 12 de dezembro de 2019, na qual um jornalista debatia a respeito dos números apresentados. A captura de tela que viralizou, contudo, não consta no vídeo on-line.

Um conteúdo semelhante foi checado pelo Aos Fatos.

Em resumo, é falso que a imagem compartilhada nas redes sociais prove que houve fraude eleitoral em Detroit durante as presidenciais de 2020 nos Estados Unidos, que teve o democrata Joe Biden como vencedor. A captura de tela foi feita a partir de uma reportagem transmitida em dezembro de 2019 e o processo, aberto por uma fundação, foi finalizado em junho deste ano.

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