O Arizona não contabilizou dez mil votos ilegais na eleição presidencial dos Estados Unidos de 2020
- Publicado em 28 de agosto de 2024 às 21:34
- 4 minutos de leitura
- Por Daniel GALGANO, AFP Estados Unidos
- Tradução e adaptação AFP Brasil
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“Cerca de 10.000 imigrantes ilegais usaram o mesmo número do Seguro Social para votar no Arizona [em 2020]. O Congresso sabia disso e certificou os resultados de qualquer maneira”, alegam publicações no X, no Facebook, no Telegram e no Kwai.
Conteúdo semelhante circula em inglês e francês.
O presidente norte-americano, Joe Biden, foi eleito em novembro de 2020. No estado do Arizona, ele somou mais de dez mil votos, conforme a contagem oficial. Auditorias realizadas no condado de Maricopa, por exemplo, um dos 15 que compõe o estado norte-americano, e uma investigação do procurador-geral do Arizona não produziram evidências de que houve uma conspiração para fraudar a corrida eleitoral.
Diversos processos contestando os resultados foram rejeitados pelo Judiciário norte-americano. As alegações sobre os dez mil votos ilegítimos são igualmente infundadas.
“Lixo total”
A sequência viral foi publicada originalmente em junho de 2022 pela empresa de mídia conservadora Right Side Broadcast Media. O vídeo foi feito em um evento em Scottsdale, no Arizona, e mostra Jovan Hutton Pulitzer, um empresário e inventor que promoveu diversas teorias da conspiração eleitorais após o pleito de 2020.
Entre os presentes no local estavam Kari Lake e Mark Finchem, então candidatos a governador e secretário de estado do Arizona, respectivamente.
Na gravação, Pulitzer afirma, sem mostrar evidências, que cerca de dez mil imigrantes obtiveram o mesmo número de Seguro Social para trabalhar no Arizona e que, posteriormente, os utilizaram para obter carteiras de motorista e registrar seu voto.
“Eles vão trazer centenas de [imigrantes] ilegais. Eles vão espalhá-los por todas essas usinas e fábricas, dando-lhes empregos. Eles estão todos usando o mesmo número de Seguro Social”, afirma Pulitzer.
A Cyber Ninjas, uma extinta empresa de cibersegurança sediada na Flórida, contratou Pulitzer para auxiliar na auditoria de 2021 do Senado do Arizona, que verificou os resultados das eleições no condado de Maricopa. Ele alegou ter criado um processo chamado “detecção de artefatos cinemáticos” que, segundo indicou, poderia ajudar a determinar se as cédulas foram manipuladas por meio da digitalização de dobras e marcas no papel.
No entanto, um investigador contratado pelo Senado estadual para fazer uma dupla verificação do trabalho de Pulitzer chamou o relatório de “lixo total” e afirmou ter sido “doloroso de ler”, apontando várias falhas em sua metodologia.
Em setembro de 2021, os republicanos do estado do Arizona — que encomendaram e financiaram a revisão — publicaram as conclusões da Cyber Ninjas. Segundo a empresa, foram encontrados 99 votos adicionais para Biden e 261 a menos para o ex-presidente Donald Trump.
A AFP contatou Pulitzer para comentar as alegações, mas não obteve resposta até a publicação desta checagem.
Cidadania necessária para votar
Imigrantes que trabalham legalmente nos Estados Unidos podem solicitar o número do Seguro Social. O registro serve para a declaração de salário com finalidade fiscal e de determinação de elegibilidade para benefícios governamentais. Esses cartões, no entanto, não comprovam a cidadania — e aqueles emitidos para não cidadãos ou para os que não são residentes permanentes incluem restrições.
Trabalhadores estrangeiros podem obter carteira de motorista no Arizona, mas devem apresentar um documento comprovando que estão legalmente no país.
Com relação às eleições, a Lei Nacional de Registro de Eleitores de 1993 exige que todos os estados usem um formulário comum no qual os eleitores em potencial, em disputas federais, devem atestar que são cidadãos dos Estados Unidos, sob pena de perjúrio.
A Lei de Reforma da Imigração Ilegal e Responsabilidade do Imigrante de 1996 também “proíbe explicitamente cidadãos estrangeiros de votar em eleições federais”, explicou à AFP Rachel Orey, diretora sênior associada do Projeto Eleições do Bipartisan Policy Center, em julho de 2024.
“Afirmar falsamente que é cidadão norte-americano pode resultar em multas, prisão, deportação, inelegibilidade para imigração futura e/ou revogação do status legal”, disse Orey. “A detenção é um fator importante para desencorajar tentativas de não cidadãos de se registrarem para votar”, acrescentou.
A lei do Arizona exige que os eleitores forneçam “evidências satisfatórias” de que são cidadãos dos Estados Unidos antes de serem autorizados a votar. Se alguém se registrar para votar sem apresentar uma prova de cidadania, mas atestar esse fato, ele é considerado um “eleitor exclusivamente federal”, o que significa que ele só pode votar em disputas presidenciais e congressionais.
Sierra Ciaramella, porta-voz do Cartório de Registro do condado de Maricopa, indicou à AFP que quando alguém se registra para votar com uma carteira de motorista do Arizona, as autoridades usam os dados da Divisão de Veículos Motorizados do estado e da Administração da Previdência Social dos Estados Unidos para confirmar a elegibilidade.
Ciaramella disse “não estar ciente” de informações que corroborem a alegação de Pulitzer.
A AFP entrou em contato com a Administração da Previdência Social, mas não obteve resposta.
Referências
- Contagem oficial de votos do Arizona
- Investigação do procurador-geral do Arizona sobre fraude eleitoral
- Conclusões da auditoria feita pela Cyber Ninjas
- Regras de concessão de números de seguro social nos EUA
- Tipos de seguro social
- Lei Nacional de Registro de Eleitores de 1993
- Lei de Reforma da Imigração Ilegal e Responsabilidade do Imigrante de 1996
- Lei eleitoral do Arizona (1, 2)