Foto na Inglaterra em 2020 circula atrelada a protesto francês contra medidas sanitárias em 2022

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  • Publicado em 10 de fevereiro de 2022 às 18:46
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  • Por AFP Brasil
Uma foto de diversos veículos enfileirados compartilhada centenas de vezes nas redes sociais circula desde, pelo menos, 8 de fevereiro de 2022 vinculada à notícia de que caminhoneiros franceses teriam aderido ao movimento “comboio da liberdade”, contrário às medidas restritivas para combater a pandemia de covid-19, que começou no Canadá. Mas a imagem é um registro feito pela AFP em dezembro de 2020 nos arredores do porto de Dover, que liga o Reino Unido à França, e retrata a espera de motoristas de caminhões de carga para fazer um teste de detecção do coronavírus antes de entrar em território francês.

“CAMINHONEIROS FRANCESES ADEREM AO COMBOIO DA LIBERDADE QUE COMEÇOU NO CANADÁ”, diz uma das publicações compartilhadas no Twitter (1, 2, 3) e no Facebook (1, 2, 3).

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Captura de tela feita em 9 de fevereiro de 2022 de uma publicação no Twitter ( . / )

Uma busca reversa no Google pela imagem, porém, levou a uma notícia do jornal francês Sud-Ouest, datada de 24 de dezembro de 2020. O texto informava sobre o tráfego intenso no Porto de Calais, na França, que excepcionalmente naquele ano ficaria aberto no dia de Natal para facilitar a passagem dos caminhões de carga vindos de Dover, na Inglaterra.

A razão para o congestionamento, ainda segundo a notícia, era a exigência da apresentação de um teste negativo para a covid-19 por parte dos motoristas de caminhão para a entrada em território francês, após a identificação, à época, de uma nova variante do SARS-CoV-2 no Reino Unido.

Na notícia, a legenda da foto identificou que o registro havia sido feito pela AFP e fazia referência ao porto de Dover, na Inglaterra.

Uma pesquisa pela fotografia no banco de imagens da AFP localizou o registro. “Caminhões de carga permanecem enfileirados na autoestrada M20, levando ao Porto de Dover em Mersham, no sudeste da Inglaterra, em 24 de dezembro de 2020, enquanto as ligações marítimas e terrestres entre Reino Unido e França devem permanecer abertas durante o Natal para liberar o acúmulo de milhares de caminhões retidos por uma nova cepa do coronavírus”, diz a legenda da fotografia.

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Veículos enfileirados em estrada que leva ao porto de Dover, na Inglaterra, em 24 de dezembro de 2020 ( AFP / Justin Tallis)

No dia 20 de dezembro de 2020, a França impôs um bloqueio de 48 horas a todas as viagens vindas do Reino Unido após a detecção de uma nova variante do vírus, nomeada “alpha” pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

No mesmo dia, o Porto de Dover anunciou que fecharia sua saída de tráfego devido às restrições impostas pela França. A passagem foi reaberta no dia 22 de dezembro daquele ano para motoristas de carga que apresentassem teste negativo para covid-19 feito nas últimas 72 horas.

“Comboio da Liberdade”

No Canadá, opositores das medidas sanitárias contra a covid-19 protestam desde 29 de janeiro de 2022 na capital, Ottawa, ao mesmo tempo em que caminhoneiros do autodenominado "comboio da liberdade" bloquearam vias e uma ponte de comércio entre o país e os Estados Unidos.

Na França, grupos contrários às medidas restritivas, sobretudo ao passaporte vacinal, se mobilizaram nas redes sociais para organizar movimentos inspirados no chamado "comboio da liberdade”, como reportado pela AFP. Em 9 de fevereiro de 2022, os manifestantes partiram em automóveis em comboios de várias cidades, como Nice (sul) e Bayonne (sudoeste), em direção a Paris. Em 10 de fevereiro de 2022, a polícia parisiense anunciou a proibição dos protestos e que a capital teria dispositivos específicos para impedir o bloqueio das ruas.

Outros países como Nova Zelândia, Estados Unidos e Bélgica registraram movimentações semelhantes.

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Um poster é erguido para fora da janela de um veículo enquanto o “comboio da liberdade” parte de Bayonne (sudoeste da França) em direção a Paris em 9 de fevereiro de 2022 ( AFP / Gaizka Iroz)

O Checamos já verificou outras alegações relacionadas aos protestos de Ottawa (1, 2).

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