Esta foto de multidão protestando não foi feita em Ottawa, mas em Moscou em 1991

Publicações que mostram uma imagem de uma grande manifestação foram compartilhadas mais de mil vezes nas redes sociais desde pelo menos 2 de fevereiro de 2022. Segundo os usuários, o registro retrata 2 milhões de pessoas reunidas em Ottawa, no Canadá, “exigindo liberdade” contra o “globalismo”. Embora a foto seja verdadeira, ela não foi feita durante os protestos contra as medidas sanitárias aplicadas na capital canadense, mas em Moscou, em 1991, em um ato em apoio a Boris Yeltsin.

“Ottawa, Canadá, dois milhões de pessoas nas ruas exigindo liberdade! É assim que deve ser um povo que não quer ser servo do globalismo.Nada na TV sobre a enorme manif3stação. Mais uma vez está provado que a mídia é o braço mentiroso da inf3cção que abraçou a humanidade”, diz uma das publicações compartilhadas no Twitter e no Facebook (1, 2).

Conteúdo semelhante também circulou em francês e espanhol.

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Captura de tela feita em 2 de fevereiro de 2022 de uma publicação no Twitter ( .)

Manifestações em Moscou em 1991

Uma busca reversa pela fotografia viralizada levou ao portal de notícias russo Gazeta.ru, no qual a mesma imagem pode ser vista em uma galeria publicada em 2016. A legenda da foto indica que ela foi feita em 1991 em uma manifestação na praça Manezhnaya de Moscou em apoio a Boris Yeltsin, que foi presidente da Federação Russa entre 1991 e 1999.

O site Dekoder, que traduz veículos russos independentes, também reproduz a foto citando o mesmo contexto. Nesse caso, especifica que a imagem foi tirada em 10 de março de 1991, na véspera de um referendo para decidir o futuro da União Soviética.

O site da biblioteca da escola francesa de Ciências Políticas SciencesPo afirma que cerca de 500.000 pessoas participaram da manifestação em Moscou em 10 de março de 1991 em apoio a Boris Yeltsin.

A foto também aparece em um artigo na revista The Atlantic datado de 23 de dezembro de 2011, com o título em inglês “20 anos desde a queda da União Soviética”. Sua legenda credita o registro a Dominique Mollard, da agência Associated Press (AP). Há também um link e uma nota do editor que explica que houve manipulação da imagem ao copiar e colar parte da multidão.

O registro original foi encontrado no arquivo da AP e mostra alguns elementos semelhantes aos da foto viral, como a posição das bandeiras e a área iluminada no canto superior esquerdo.

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Comparação de capturas de tela feitas em 3 de fevereiro de 2022 de uma publicação no Facebook (E) e da foto no arquivo da AP ( .)

Ao comparar a foto que circula nas redes sociais em 2022 com outras da praça Manezhnaya em Moscou, a AFP constatou que alguns edifícios correspondentes podem ser identificados em ambos os registros, como o Moscow Manège e o Museu Geológico do Estado, que ficam no local:

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Comparação feita em 3 de fevereiro de 2022 de capturas de tela de uma publicação no Facebook (E) e uma visualização do Google Maps da Praça Manezhnaya de Moscou

Não é a primeira vez que esta fotografia é utilizada indevidamente para ilustrar manifestações de oposição às medidas sanitárias implementadas para combater a pandemia de covid-19. Em agosto de 2021 ela foi vinculada a um protesto em Paris e, meses depois, em novembro, circulou como se mostrasse um ato na Áustria. As duas alegações foram verificadas como falsas pela AFP.

Protestos de caminhões no Canadá

Os opositores das medidas sanitárias se manifestaram nos dias 29 e 30 de janeiro de 2022 na capital canadense, Ottawa.

Caminhoneiros, simpatizantes do autodenominado "Comboio da Liberdade" e contrários à obrigatoriedade da vacinação para cruzar a fronteira terrestre entre Canadá e Estados Unidos, também bloquearam a rodovia 4 em Alberta (oeste), que é a principal via rodoviária para o transporte de mercadorias e fica próxima à fronteira entre os dois países.

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Manifestantes contra restrições sanitárias e vacinação contra a covid-19 no Parliament Hill, Ottawa, em 29 de janeiro de 2022 ( AFP / Lars Hagberg)

Durante os dias de protesto, a polícia abriu várias investigações criminais por profanação de monumentos nacionais, por comportamento considerado “ameaçador, ilegal e intimidador" com a polícia e por vandalismo.

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