O Japão não declarou que a ivermectina é mais eficaz do que a vacinação contra a covid-19
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- Publicado em 26 de janeiro de 2022 às 21:28
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- Por AFP Brasil
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“JAPÃO DECLARA AO MUNDO QUE A IVERMECTINA É MAIS EFICAZ QUE A VACINA”, indicam as publicações compartilhadas no Facebook (1, 2), no Twitter (1) e no Instagram (1).
Em novembro de 2021 já havia circulado nas redes a alegação de que o país teria trocado a campanha de imunização pelo uso da ivermectina, fazendo a covid-19 “desaparecer” em menos de um mês, conteúdo que foi verificado pela AFP.
A campanha de vacinação contra a covid-19 no Japão teve início em 17 de fevereiro de 2021 e não parou até a data de publicação deste artigo. As autoridades colocaram à disposição dos residentes os imunizantes da Pfizer, Moderna e AstraZeneca, em um processo financiado pelo Estado japonês.
Até 25 de janeiro de 2022, 101,3 milhões de residentes no Japão tinham tomado pelo menos a primeira dose e 99,6 milhões completaram o esquema vacinal, segundo dados oficiais.
Aqueles que contam com, no mínimo, a primeira dose da vacina contra a covid-19 representam 80,4% da população japonesa, de acordo com dados do projeto Our World in Data, da Universidade de Oxford.
No Japão, qualquer pessoa acima de 18 anos que tenha completado o esquema vacinal contra a covid-19 pode tomar a dose de reforço. Os imunizantes aprovados para a terceira dose são os da Pfizer e da Moderna.
De acordo com uma matéria da emissora pública NHK de 26 de janeiro de 2022, cerca de 20% da população japonesa já tomou a dose de reforço da vacina.
Em 21 de janeiro de 2022, o Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar Social (MHLW) do Japão aprovou oficialmente a extensão da imunização para crianças com idades entre 5 e 11 anos.
Até 26 de janeiro de 2022, o Japão registrou mais de 2,2 milhões de contágios desde o início da pandemia, segundo dados oficiais do Ministério da Saúde nipônico.
O Japão tem vivido um novo surto de casos de coronavírus (1, 2), superando a marca de 60 mil contágios em apenas um dia.
Diante disso, novas medidas preventivas foram adotadas em algumas regiões do país, inclusive de restrição de locomoção.
A ivermectina não é um tratamento aprovado
As publicações viralizadas indicam que o governo teria declarado que a ivermectina, um antiparasitário de amplo espectro, é mais eficaz do que as vacinas. Entretanto, esse remédio não está na lista de produtos médicos aprovados para tratar a covid-19 da Agência Japonesa de Produtos Farmacêuticos e Dispositivos Médicos (PMDA), encarregada de supervisionar e regulamentar os medicamentos no país.
Além disso, a bula do medicamento foi atualizada para alertar sobre possíveis efeitos adversos graves.
Em novembro de 2021, a PMDA havia indicado à AFP que a ivermectina estava sendo testada, mas que “não está aprovada para tratar a doença causada pela infecção pelo SARS-CoV-2 (covid-19)”.
Em 21 de dezembro de 2021, uma matéria publicada pelo Japan Times mencionava sobre a preocupação das autoridades diante das mensagens em redes sociais estimulando o uso do antiparasitário para combater o coronavírus.
Uma busca pelos termos em inglês “governo + Japão + ivermectina + eficácia” não mostra qualquer resultado que indique ter havido uma declaração oficial sobre a eficácia desse medicamento.
Anteriormente, o ex-ministro da Saúde e membro da Câmara de Representantes do Japão Norihisa Tamura assinalou durante um comitê parlamentar que eram necessárias mais provas para demonstrar que a ivermectina é eficaz para que seja prescrita no tratamento da covid-19.
Em março de 2021, a Organização Mundial da Saúde (OMS) desaconselhou o uso da ivermectina para tratar a covid-19 após revisar os dados reunidos de 16 testes controlados e concluir que seus benefícios eram “muito pouco confiáveis”.
Da mesma forma, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) não indica o uso do antiparasitário para prevenir ou tratar a covid-19 e só o aprova para tratar algumas infestações parasitárias e condições de pele como a rosácea.
A EMA informou também em março de 2021 que eram necessários mais estudos aleatorizados “bem concebidos” para tirar conclusões sobre a eficácia e a segurança do produto.
Um artigo da Agência de Medicamentos e Alimentos (FDA) dos Estados Unidos, atualizado em outubro de 2021, levanta questões sobre o uso da ivermectina no tratamento do coronavírus e reitera que “a FDA não autorizou ou aprovou o uso da ivermectina na prevenção ou tratamento da covid-19 em humanos ou animais”. Inclusive, orienta que “a ingestão de grandes doses de ivermectina é perigosa”.
O especialista em virologia e membro da Sociedade Mexicana de Saúde Pública(SMSP) Andreu Comasexplicou à AFP que a ivermectina pode afetar a saúde das pessoas porque “aquelas que tomaram essas doses por tempo prolongado apresentaram quadros de toxicidade, sobretudo cardíaca e renal”.
O Checamos já verificou diversas alegações sobre a eficácia da ivermectina no tratamento da covid-19 (1, 2, 3).
Esta verificação foi realizada com base em informações científicas e oficiais sobre o novo coronavírus disponíveis na data desta publicação.