Perfis pró-Rússia alegam falsamente que incêndios em Los Angeles destruíram casas de generais ucranianos
- Publicado em 24 de janeiro de 2025 às 22:40
- 4 minutos de leitura
- Por Daniel GALGANO, AFP Estados Unidos
- Tradução e adaptação AFP Brasil
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“Casas de generais ucranianos ardem na Califórnia”, diz uma publicação no Facebook. “A publicação United24 relata que 8 mansões pertencentes a militares ucranianos de alto escalão foram danificadas durante os incêndios na Califórnia. Note-se que as mansões foram compradas por ‘membros da equipa de Zaluzhny’ de Abril de 2022 a Fevereiro de 2024. O valor total dos imóveis destruídos ronda os US$ 90 milhões”.
Em um outro vídeo que circula no Instagram, são exibidas diversas residências luxuosas junto aos nomes de juízes e promotores ucranianos.
Os conteúdos circularam também em inglês, e foram amplificados por veículos (1, 2) e canais de Telegram russos, junto a uma rede de sites acusada pelo governo francês de espalhar propaganda pró-Rússia.
Desde 7 de janeiro de 2025, a cidade de Los Angeles, na Califórnia, enfrenta incêndios florestais que deixaram mais de 25 mortos e bilhões de dólares em propriedades e estruturas danificadas.
Os funcionários do governo ucraniano são frequentemente alvo de falsas alegações de que gastam grandes quantias de dinheiro em bens, incluindo imóveis ou veículos de luxo. Muitos conteúdos fazem parte de uma campanha pró-Moscou que procura minar o apoio ocidental a Kiev e prejudicar a confiança no governo do país em meio à guerra com a Rússia.
Falta de evidências
O primeiro vídeo viral afirma que os subordinados de Valerii Zaluzhnyi, ex-comandante-chefe das Forças Armadas da Ucrânia, compraram oito mansões em Los Angeles. A sequência inclui uma suposta citação do comandante das forças terrestres ucranianas, Mykhailo Drapaty, dizendo: “Quando você rouba dinheiro das pessoas que lutam por suas vidas, esteja preparado, pois o fogo da guerra te atingirá até mesmo em outro continente.”
O Centro de Comunicação Estratégica e Segurança da Informação (CSCIS), uma organização governamental ucraniana, chamou as postagens de “falsas” e disse que Drapaty não fez nenhuma declaração sobre os incêndios em Los Angeles.
“Com tais mentiras, os propagandistas do Kremlin estão tentando desacreditar a Ucrânia e a sua liderança militar e política, bem como minar a confiança nas Forças Armadas”, diz uma publicação do CSCIS no Facebook de 13 de Janeiro, em ucraniano.
O vídeo viral também contém o logo da plataforma governamental ucraniana United24, cujo objetivo é arrecadar doações para o país em guerra. No entanto, uma pesquisa no site da Untied24 não levou a nenhum artigo ou vídeo sobre militares ucranianos possuírem mansões na Califórnia.
O Centro de Combate à Desinformação, outro órgão ucraniano, também desmentiu o vídeo. “Depois de verificar esta informação com a United24, o Centro informa que a plataforma não criou nem compartilhou este vídeo”, postou no X.
Uma pesquisa por palavras-chave não revelou nenhuma fonte de notícias confiável que detalhasse as alegações, e os artigos em russo e usuários do Telegram citam apenas "fontes ucranianas" não identificadas. Uma das primeiras postagens do Telegram também inclui a palavra russa para “sátira” na parte inferior.
Pesquisadores da empresa de análise de mídia social Graphika vincularam as alegações a mídias e usuários de redes sociais pró-Kremlin, como parte de uma campanha de influência estrangeira ligada à guerra na Ucrânia.
Casas não relacionadas
Uma busca reversa por fragmentos do segundo vídeo, que traz uma visão aérea de diversas mansões, mostrou que várias dessas casas foram fotografadas pela organização não-governamental Automaidan, que mantém uma base de dados que rastreia os ativos financeiros de autoridades judiciais ucranianas.
O site frequentemente publica filmagens aéreas das casas de oficiais e suas famílias. Pelo menos meia dúzia das casas incluídas no vídeo foram fotografadas na Ucrânia, não na Califórnia (1, 2, 3, 4, 5, 6).
A Automaidan publicou essas investigações antes de a Rússia invadir a Ucrânia em fevereiro de 2022.
Referências
- Publicação do CSCIS no Facebook
- Publicação do Centro de Combate à Desinformação da Ucrânia
- Publicação da Graphika
- Investigações publicadas pela Automaidan (1, 2, 3, 4, 5, 6)