Filmagem de combate a incêndio no interior de São Paulo é compartilhada como se fosse ato criminoso
- Publicado em 11 de setembro de 2024 às 21:08
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- Por AFP Brasil
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“Ciclistas da Barra Bonita flagraram a situação e anotaram a Placa. Bora compartilhar e publicar”, diz a legenda de um vídeo publicado no Threads. O conteúdo também circula no TikTok, no Telegram, no LinkedIn, no Facebook, no Bluesky, no YouTube, no X* e no Instagram.
Na gravação, vê-se um homem colocando fogo em um canavial e indo embora em uma caminhonete. Ao fundo, é possível ver que já havia outro foco de incêndio no local antes de o homem queimar a plantação.
O conteúdo circula em meio aos incêndios que atingem Amazônia, Cerrado e o estado de São Paulo, que tem 10 focos ativos de incêndio até o fechamento desta matéria.
Contudo, as imagens não mostram uma ação criminosa, mas sim uma técnica de combate ao fogo.
Incêndio em Igaraçu do Tietê
Por meio de uma busca reversa no Google, o Checamos localizou as imagens virais em uma matéria do programa Balanço Geral Interior transmitida em 4 de setembro de 2024. O repórter alega que se trata de um crime ambiental e informa que o registro foi feito em uma fazenda em Igaraçu do Tietê, cidade vizinha a Barra Bonita. No dia anterior à reportagem, um incêndio de grandes proporções havia atingido um canavial da cidade.
Procurado pela AFP, o Comando de Policiamento Ambiental do estado informou em nota que, frente às suspeitas de possível crime ambiental, analisou as imagens, foi até o local onde a gravação foi feita e entrevistou a pessoa que aparece nas imagens. A apuração do órgão constatou que o homem era um brigadista que estava empregando uma técnica de controle de incêndio e que havia dois caminhões pipa no local para apoiar a ação.
De fato, ao final da sequência, é possível ver um jato d’água ao fundo.
De acordo com o Comando, devido às condições climáticas, o brigadista adotou a técnica de “fogo contra fogo” ou “fogo de encontro”, que consiste em queimar de forma controlada um trecho da vegetação para impedir a propagação de um incêndio preexistente.
“O fogo queima a vegetação que seria combustível para o incêndio, eliminando-a. Quando o fogo criado encontra o incêndio já existente, por não haver mais vegetação que sirva como combustível no solo, ambos perdem força e se apagam. Posteriormente, o solo é resfriado para apagar as chamas mais próximas e que porventura ainda existam”, explicou a nota.
O Comando também ressaltou que a área onde foi realizada a técnica era cercada por estradas sem vegetação, de forma que o fogo só poderia seguir de encontro ao incêndio já existente.
“Vale ressaltar que a pessoa filmada é brigadista treinado e que possui conhecimentos e técnicas para utilizar o ‘fogo de encontro’, além do fato de que, naquele momento, existiam ainda outros dois caminhões-pipa, próprios para o combate a incêndio nas proximidades, trabalhando juntamente com ele”.
A AFP verificou outros conteúdos relacionados aos incêndios no país e a técnicas de controle do fogo (1, 2).
* As publicações do X foram acessadas por integrantes da AFP localizados fora do Brasil devido à suspensão da plataforma no país.