Vídeo de fumaça invadindo uma aeronave não tem relação com incêndios na Amazônia em 2024
- Publicado em 29 de agosto de 2024 às 21:53
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- Por AFP Brasil
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“Fumaça da Amazônia invade aviões que passam pelo local”, diz uma das publicações que circulam com o registro no X, no Facebook, no Instagram e no Telegram.
A gravação mostra uma fumaça adentrando uma aeronave. Apesar do aparente problema durante o voo, os passageiros permanecem sentados e não demonstram pânico.
O material circula em meio à onda de incêndios que atingiu várias regiões do Brasil. A situação se agravou principalmente em São Paulo, com incêndios florestais que deixaram ao menos 40 municípios em alerta máximo.
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o estado enfrenta o pior mês de agosto com relação às queimadas desde o início do monitoramento, em 1998, com 3.530 focos de incêndio identificados até o momento de publicação deste texto.
Entre as regiões mais afetadas também está a Amazônia, que teve o contexto agravado por conta do período prolongado de seca nos rios. Segundo o Inpe, a Amazônia Legal registrou mais de 37 mil focos de incêndios em 2024, o maior número em 19 anos.
Mas o vídeo da fumaça invadindo a aeronave não foi registrado durante um voo pela área.
Incidente em avião de companhia chinesa
Uma busca reversa por fragmentos da sequência no Google levou à mesma gravação publicada em 18 de agosto de 2024 na plataforma de vídeos Newsflare — nome que aparece sobreposto no conteúdo viral. A publicação, em inglês, afirma que o caso ocorreu na mesma data durante um voo entre as cidades de Changchun e Yangzhou, na China.
A página informou, ainda, que o episódio foi provocado porque o avião sobrevoava uma área com ar quente e úmido, que entrou na cabine pelo ar-condicionado, que o resfriou, e classificou o fenômeno como algo “comum” e “inofensivo”.
Uma nova busca no Google, dessa vez com os termos em inglês “flight”, “smoke” e “China”, levou a mais informações sobre o caso no canal do South China Morning Post no YouTube. Em sua publicação, o jornal reforçou a explicação anterior e indicou que não se tratava de fumaça, mas de uma névoa.
Ainda segundo a reportagem, o incidente ocorreu em um avião da companhia aérea Spring Airlines, que na mesma semana já tinha registrado um fenômeno semelhante em outro voo também na China.
Ao AFP Checamos, Fernando Martini Catalano, professor de Engenharia Aeronáutica da Universidade de São Paulo (USP) e diretor da Escola de Engenharia de São Carlos, confirmou que o caso pode ter sido provocado por problemas no ar-condicionado. “Pode acontecer algum defeito no sistema de sangramento do compressor do motor que envia ar para o sistema de ar-condicionado, ocasionando fumaça.”
Sobre a possibilidade de a fumaça entrar em uma aeronave que sobrevoa regiões com incêndios, o professor disse ser pouco provável, uma vez que não há comunicação direta entre o ar exterior e o interior da cabine: “O ar é pressurizado pela sangria do compressor do motor e passa por vários filtros até chegar à cabine. Fumaças externas tendem a ser filtradas”.
O consultor em aviação e mecânico de aeronaves Lito Sousa também disse à AFP ser pouco provável que uma fumaça externa entre em um avião: “Quando o avião passa dentro das nuvens, elas não invadem a cabine. Existem filtros de ar que impedem. Para acontecer o que vimos no vídeo, o avião teria que ficar muito tempo dentro da fumaça”.
À AFP, a Anac informou que não chegaram ao seu conhecimento informações sobre essa suposta ocorrência na Amazônia em agosto de 2024.
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