Vídeo de queima controlada em MG é compartilhado como se retratasse incêndio criminoso em SP
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- Publicado em 30 de agosto de 2024 às 21:06
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- Por AFP Brasil
“Funcionários de Usina são flagrados provocando queimadas no interior de São Paulo”, diz um vídeo compartilhado no TikTok. A mesma gravação circula com alegações semelhantes no Instagram, no Facebook, no X, no Kwai, no YouTube e foi publicada também em alguns sites (1, 2).
Na sequência, um homem grava funcionários de uma indústria colocando fogo em uma plantação. Ele mostra também um caminhão com o logotipo da empresa Delta Sucroenergia e afirma: “Eles falam [que é] ‘queima controlada’, mas [isso] não existe não”.
O conteúdo circula no contexto da série de incêndios florestais em São Paulo, ocorridos no final de agosto de 2024 e que deixaram mais de 40 cidades do estado em alerta máximo. A situação no município de Ribeirão Preto, no interior paulista, foi particularmente alarmante, com alguns moradores tendo que deixar suas casas.
Segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), é possível que os focos de incêndio tenham origem humana. Até 30 de agosto, 11 pessoas haviam sido presas por suspeita de envolvimento nos incêndios.
O vídeo viral, porém, não tem relação com esse cenário.
A empresa Delta Sucroenergia, mencionada na gravação, publicou uma nota em suas redes sociais no dia 25 de agosto, na qual informa que o episódio em questão ocorreu em 29 de maio de 2024, na região do município mineiro de Conceição das Alagoas.
Ainda segundo o texto publicado pela companhia, “as imagens mostram a equipe aplicando a técnica do contra-fogo, prevista em lei, essencial para impedir a propagação de incêndios. As autoridades ambientais, cientes do vídeo, estiveram no local e não constataram irregularidades”.
Uma pesquisa por “usina Delta fogo” no Google, filtrando por resultados publicados entre 28 de maio e 2 de junho de 2024, de fato localizou o mesmo vídeo publicado no Facebook em 1º de junho — mais de dois meses antes dos incêndios de agosto no estado paulista.
Consultada pelo AFP Checamos, a Polícia Militar de Minas Gerais (PM-MG) informou, em 28 de agosto, que, “no dia 8 de junho, uma equipe da Polícia Militar de Meio Ambiente esteve na empresa para averiguar denúncia de incêndio, demonstrada no teor do vídeo em questão”.
“Em contato com a representante da empresa, ela relatou tratar-se de queima controlada, executada por meio de técnicas de contra-fogo, e apresentou autorização do órgão competente para tal fim”, continuou a nota, acrescentando que os militares se deslocaram até o local em questão e não constataram “quaisquer descumprimentos ao que fora autorizado”.
A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) de Minas Gerais também informou à AFP que “a empresa citada na demanda possui autorização para queima controlada, emitida pela Unidade Regional de Florestas e Biodiversidade do Instituto Estadual de Florestas (IEF)”.
A nota da Semad cita, além disso, que a Polícia Militar do Meio Ambiente realizou a fiscalização mencionada anteriormente e não encontrou irregularidades.
Queima controlada
O governo do estado de Minas Gerais define a técnica citada no vídeo como “o uso do fogo de forma planejada com fins agrossilpastoris ou fitossanitários em propriedades rurais”. A queima controlada pode ser autorizada mediante uma série de condições, incluindo prevenção a incêndios florestais.
Diferentemente do que é dito no vídeo, a queima controlada é um método previsto no Código Florestal.
Em uma verificação anterior realizada juntamente com o projeto Comprova — do qual o AFP Checamos faz parte —, o analista ambiental do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (PrevFogo) Alexandre Pereira já havia explicado o funcionamento da técnica.
Segundo o especialista, a tática funciona queimando de maneira controlada a vegetação do local para impedir que ela possa servir de combustível para a queimada descontrolada, de proporção bem maior, que se aproxima.
A AFP já verificou outras alegações envolvendo o uso de técnicas de combate a incêndios (1, 2).
Referências
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