Cena de tortura de um filme circula vinculada ao contexto pós-eleitoral na Venezuela em 2024

Um vídeo de cinco homens pendurados pelas mãos não mostra prisioneiros políticos na Venezuela, e sim uma cena extraída de um filme de ficção. A sequência, que já acumula mais de 63 mil interações nas redes sociais, circula como se exibisse jovens presos e torturados por protestar contra a reeleição de Nicolás Maduro, após o pleito de 28 de julho de 2024. Mas a gravação, na verdade, é um fragmento do longa-metragem “Simón”, lançado em 2023 e inspirado na crise social venezuelana. 

“Meu Deus, olha como está a ditadura na Venezuela”, diz uma mensagem escrita sobre a sequência, compartilhada no Instagram, no Facebook, no X, no TikTok e no Kwai.

O conteúdo também circula em espanhol e foi compartilhado, entre outros usuários, pela senadora colombiana María Fernanda Cabal no X.

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Captura de tela feita em 5 de agosto de 2024 de uma publicação no Instagram (.)

Em 29 de julho de 2024, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) concedeu a vitória a Maduro para um terceiro mandato de seis anos. A oposição denunciou fraude e publicou em um site cópias dos relatórios eleitorais que indicariam a vitória de seu candidato, Edmundo González Urrutia, documentos rejeitados pelo chavismo. 

Milhares de opositores saíram às ruas para reivindicar a vitória de González Urrutia, em mobilizações, reprimidas pela polícia, que já deixaram uma dezena de mortos.

Em 2 de agosto, a autoridade eleitoral ratificou a reeleição de Maduro, com 52% dos votos contra 43% de González Urrutia, mas não publicou resultados detalhados. 

Vários países pedem que a Venezuela permita uma verificaçãotransparente” dos resultados eleitorais. Por sua vez, o chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, reconheceu Edmundo González Urrutia como o vencedor das eleições.

Cena de um filme de ficção

O vídeo divulgado nas redes sociais, com 40 segundos de duração, mostra cinco pessoas amarradas pelos braços e vestindo roupas íntimas em um ambiente escuro. Em seguida, um homem se aproxima do grupo, dizendo: “Bem, pessoal, vocês sabem por que estão aqui? Eu vou contar. Vocês estão aqui porque são piqueteiros, guerrilheiros, golpistas”. O diálogo aparece legendado na gravação.

Nas redes sociais, alguns usuários responderam às publicações afirmando que as imagens são uma cena de ficção, extraída do filme “Simón”, de 2023.

Uma busca por essa produção, disponível na plataforma Netflix, permitiu constatar que, de fato, a sequência viral corresponde à cena que ocorre entre os minutos 30:40 e 31:20 do filme. As legendas também são as mesmas.

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Comparação entre as capturas de tela de uma publicação no X (E) e a página da Netflix com o filme “Simon”, feita em 5 de agosto de 2024 (.)

O longa-metragem é uma coprodução venezuelana e norte-americana, e conta a história de um jovem venezuelano que “lida não apenas com um trauma, mas também com uma profunda culpa pela escolha que deve fazer: ficar em Miami e começar uma nova vida ou voltar ao seu país para a luta perdida contra um regime tirânico”, segundo a ficha técnica disponível no site IMDb.

A encenação da tortura também aparece nas cenas de bastidores do filme, em um vídeo publicado no YouTube em 6 de junho de 2024.

Em entrevista ao canal Univisión, o diretor e roteirista venezuelano Diego Vicentini explicou no dia 14 de setembro de 2023 que o filme se baseia em diversas histórias de manifestantes em seu país, embora tenha afirmado que “não é um documentário, é ficção”.

Há mais de 2.000 detidos nos protestos que eclodiram após as eleições, e Maduro anunciou que está preparando duas prisões de segurança máxima para os manifestantes.

Uma busca no Google e nas redes sociais com os termos “tortura” e “Venezuela” não rendeu resultados com cena semelhante à viralizada. No entanto, organizações não-governamentais documentaram diversos casos de alegada tortura de presos políticos no país, em anos diferentes.

Em 30 de julho de 2024, o partido de oposição Voluntad Popular denunciou que seu coordenador político, Freddy Superlano, estava sendo vítima de tortura após ter sido detido por tropas governamentais no dia anterior.

O AFP Checamos já verificou outras alegações relacionadas às eleições presidenciais na Venezuela.

Referências

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