Vídeo de 2017 de militares contrários a Maduro circula falsamente associado às eleições em 2024

Um vídeo em que militares venezuelanos declaram rebelião contra o governo de Nicolás Maduro circula como se tivesse ocorrido após a reeleição do mandatário em 28 de julho de 2024, em um resultado eleitoral que tem sido questionado pela oposição e em vários países. Mas a gravação, compartilhada centenas de vezes nas redes sociais desde então, é de agosto de 2017, quando um grupo de oficiais protestou contra Maduro ao tentar tomar uma base militar em Valencia, no estado de Carabobo.

“Venezuela Unidades militares venezuelanas começaram a declarar rebelião contra o ditador criminoso NIKOLAS MADURO”, diz uma das publicações que circulam no Facebook, no Instagram, no X e no TikTok.

O conteúdo também circula em espanhol.

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Captura de tela feita em 30 de julho de 2024 de uma publicação no X (.)

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamou Nicolás Maduro vencedor das eleições presidenciais venezuelanas em 29 de julho de 2024, em um resultado contestado pela oposição e por vários países.

O anúncio da reeleição desencadeou protestos pelo país, que já deixaram ao menos 12 mortos e dezenas de feridos. 

Mas a gravação viralizada não tem relação com os episódios recentes.

Vídeo de 2017

As publicações acompanham um vídeo em que um oficial, que se identifica como capitão Juan Caguaripano, “comandante da operação David Carabobo”, se declara em rebelião junto a um grupo de soldados e diz que não reconhece o governo de Maduro.

No minuto 1:09, o oficial diz que respeita a autoridade da Assembleia Nacional, porém lhe exige que honre “a memória heróica de jovens como Neomar, Geraldin, Pernalete e tantos outros que com escudos de papelão, mas com corações de aço, ofereceram suas vidas para ensinar o povo a derrotar o medo”.

Uma pesquisa no Google pelos nomes que o militar mencionou no vídeo junto com a palavra “Venezuela” permitiu indicar que ele se referia a Neomar Lander, Geraldin Moreno e Juan Pablo Pernalete, jovens mortos pelas forças de segurança do Estado nos protestos contra o governo Maduro em 2014 e 2017.

Uma busca no Google por “Juan Caguaripano”, o militar que se identifica na sequência, levou a publicações com o mesmo vídeo (1, 2), feitas entre 6 e 7 de agosto de 2017. De acordo com uma delas, o grupo de rebeldes tentou invadir a base militar do Forte Paramacay, localizado em Valencia (centro-norte), no estado de Carabobo.

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Comparação de capturas de tela feita em 30 de julho de 2024 entre uma publicação viral em 2024 (E) e um vídeo no YouTube em 2017
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A AFP informou em 11 de agosto de 2017 que os líderes do ataque foram capturados na ocasião. Caguaripano, por sua vez, já tinha sido expulso das Forças Armadas em 2014 por rebelião e traição. O caso também foi reportado pela mídia brasileira (1, 2).

Em 2017 houve protestos que exigiam a saída de Maduro. As manifestações deixaram 130 mortos e a posterior instalação de uma Assembleia Nacional Constituinte.

Uma busca no X com os termos “forte Paramacay” levou a imagens (1, 2) que mostram dezenas de pessoas concentradas em frente à base militar em 29 de julho de 2024. No entanto, não foram encontradas informações sobre rebeliões militares após o pleito eleitoral deste ano.

A AFP já verificou outros conteúdos com desinformação sobre as eleições na Venezuela em 2024.

Referências

  • Vídeos publicados em agosto de 2017 (1, 2)
  • Matérias sobre o ataque à base militar em 2017 (1, 2)

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