Japão não proibiu vacinação contra a covid-19 nem doação de sangue de pessoas imunizadas

Após o Japão encerrar o seu programa gratuito de vacinação contra a covid-19, publicações nas redes sociais com mais de 120 compartilhamentos alegam falsamente que o país anunciou a proibição das vacinas e restringiu que pessoas imunizadas doassem sangue devido a receios de “contaminação”. Na verdade, as vacinas continuam disponíveis no país e não há restrição para a doação de sangue por pessoas imunizadas. Além disso, o artigo citado nas postagens – escrito por um pesquisador conhecido por sua postura antivacina – não foi revisado por pares da comunidade científica.

O Japão acaba de proibir as injeções de mRNA da Covid para uso público e apelou a outras nações para seguirem o exemplo depois que um estudo oficial do governo vinculou as injeções ao aumento das mortes súbitas no país. (...) A questão tornou-se tão grave no Japão que o país enfrenta agora o colapso populacional à medida que morrem mais cidadãos do que nascem”, diz uma publicação no Facebook

Mensagens semelhantes são compartilhadas também no Twitter e no Telegram. Algumas postagens alegam ainda que o país “proibiu a doação de sangue de vacinados por ser contaminado”.

O conteúdo também circula em tailandês, inglês e coreano.

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Captura de tela feita em 4 de abril de 2024 de uma publicação no Facebook (.)

Vacinação e doações de sangue não foram proibidas

O Japão encerrou seu programa gratuito de vacinação contra a covid-19 em 31 de março de 2024. No entanto, os cidadãos japoneses com menos de 65 anos ainda têm a opção de se vacinarem por conta própria, e o governo continuará fornecendo vacinas a grupos de alto risco.

De acordo com um comunicado publicado pelo Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar do país, "as vacinações regulares pelos governos locais vão começar no outono/inverno de 2024 para pessoas com 65 anos ou mais e para pessoas entre 60 e 64 anos com problemas cardíacos, renais ou respiratórios."

A Cruz Vermelha japonesa esclareceu em seu site que os indivíduos vacinados ainda eram elegíveis para serem doadores de sangue. A instituição aconselha os doadores a esperar 48 horas após a vacina de mRNA antes de doar sangue.

A AFP já havia verificado a alegação de que o Japão proibiu as pessoas imunizadas com vacina mRNA de doarem sangue em 2021.

Artigo não revisado

Algumas das publicações compartilham um texto do site The People's Voice, já verificado pela AFP anteriormente (1, 2). O material cita como fonte um artigo japonês, não revisado por pares, que destacou os riscos potenciais para a saúde da "transfusão de material genético através de vacinas".

O artigo encontra-se atualmente em “pré-impressão” após ter sido divulgado em março de 2024 em um site que permite publicações sem qualquer revisão prévia. Ele foi publicado um dia depois de ter sido submetido ao site, período muito curto para permitir um processo de revisão completo.

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Captura de tela feita em 4 de abril de 2024 do site preprints.org (.)

Um dos autores do trabalho é Masanori Fukushima, um ex-professor apelidado de “demagogo antivacina” pelo ex-ministro responsável por supervisionar a vacinação no Japão, Taro Kono.

Alegações de que o sangue de indivíduos vacinados “contamina” indivíduos não vacinados têm sido compartilhadas nas redes sociais desde que a vacinação contra a covid-19 começou, em 2020, e já foram verificadas pela AFP.

A Cruz Vermelha norte-americana explicou à AFP em 2022 que os componentes da vacina não circulam na corrente sanguínea das pessoas vacinadas.

Não houve aumento de mortes súbitas

As publicações associam a redução da população japonesa à imunização, contudo não há relação entre os dois eventos. A demografia do país do Leste Asiático tem diminuído há mais de uma década, marcada por uma taxa de crescimento negativa – onde as mortes superam os novos nascimentos.

Neste gráfico retirado do site do Banco Mundial, é possível ver que a população do Japão diminui desde a década de 2010:

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Screenshot from the World Bank's website

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou repetidamente que as vacinas contra a covid-19 permanecem seguras e que os efeitos secundários graves são “extremamente raros”.

A AFP já verificou outras alegações sobre as vacinas.

Referências

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