Filmagem de pessoas atiradas de prédio mostra execução do EI no Iraque, não do Hamas em Gaza

As imagens de pessoas sendo jogadas do alto de um edifício não têm relação com o grupo palestino Hamas, ao contrário do que afirmam publicações com mais de 1.900 visualizações nas redes sociais desde 2 de dezembro de 2023. Na realidade, o vídeo mostra militantes da organização jihadista Estado Islâmico executando civis no Iraque em 2015, como confirmaram a organização não governamental Site Intelligence Group e vários meios de comunicação.

“O Hamas executa cidadãos suspeitos de colaborar com Israel, atirando-os do telhado de um edifício!”, diz a legenda de publicações com o vídeo no Facebook, no Kwai e no Telegram.

O conteúdo também circula em inglês e espanhol.

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Captura de tela feita em 19 de dezembro de 2023 de uma publicação no Telegram ( .)

Em 7 de outubro de 2023, um violento ataque do Hamas contra Israel deixou pelo menos 1.140 mortos, a maioria civis, e quase 250 pessoas foram feitas reféns, segundo as autoridades israelenses. Atualmente, 129 reféns permanecem retidos em Gaza.

O Ministério da Saúde do Hamas, que governa o território palestino, afirma que cerca de 20 mil pessoas, a maioria mulheres e menores de idade, morreram na ofensiva de Israel, destinada à destruição do Hamas.

Em setembro de 2022, o Hamas executou duas pessoas acusadas de serem colaboradoras de Israel, juntamente com outras três acusadas de assassinato, sendo estas as primeiras sentenças de morte executadas em cinco anos. As execuções teriam sido realizadas por enforcamento ou fuzilamento.

Em agosto de 2023, um tribunal do Hamas condenou sete palestinos à forca por “colaboração com Israel”.

Mas o conteúdo compartilhado não tem relação com o conflito atual.

Vídeo não relacionado ao Hamas

A gravação difundida nas redes mostra duas pessoas jogando continuamente outras quatro pessoas do terraço de um edifício.

Uma pesquisa reversa no Google dos frames do vídeo mostrou que, na verdade, as imagens circulam desde 2015 e estão relacionadas ao Estado Islâmico (EI), também conhecido como Isis ou Daesh.

Um texto publicado em 2 de julho de 2015 pelo jornal britânico The Mirror traz o título em inglês: “Execução do Isis: Grupo terrorista orgulhosamente publica imagens de militantes jogando homens ‘gays’ do alto de um prédio”. A reportagem é ilustrada por imagens semelhantes às vistas no vídeo viral. Outra manchete e imagens similares foram publicadas no dia anterior, em 1º de julho, pelo Daily Mail.

O grupo jihadista Estado Islâmico proclamou, em junho de 2014, um califado em zonas conquistadas da Síria e do Iraque. O Estado Islâmico perdeu a última parte do seu território em março de 2019, mas continua cometendo ataques.

Em 2015, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) foi informado sobre execuções públicas de membros da comunidade LGBT+ na Síria e no Iraque. Jessica Stern, então diretora da Comissão Internacional de Direitos Humanos de pessoas LGBT+, afirmou que o EI divulgava vídeos e fotos online sobre os assassinatos.

A ONG Site Intelligence Group, que monitora organizações jihadistas e de supremacia branca, confirmou à AFP por e-mail em 7 de dezembro de 2023 que o vídeo corresponde a imagens de uma reportagem fotográfica, de 1º de julho de 2015, que mostra execuções realizadas pelo Estado Islâmico na região iraquiana de Al-Faluja.

Uma comparação entre fragmentos da sequência viral e imagens publicadas pela imprensa permite observar os mesmos elementos, como a estrutura do prédio de quatro andares e elementos curvos acima das janelas:

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Comparação feita em 19 de dezembro de 2023 entre uma publicação no Telegram (E) e uma imagem publicada pelo site do Daily Mail ( .)

O Checamos verificou anteriormente imagens que ligam o Hamas com agressões à comunidade LGBT+. Embora o grupo palestino não tenha participado desses ataques, a ONG UN Watch, ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), divulgou relatórios que registram maus-tratos e torturas às pessoas LGBT+ por integrantes do Hamas.

O AFP Checamos já verificou outros conteúdos que circulam sobre o conflito entre o grupo Hamas e Israel em 2023.

Referências

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