O Supremo Tribunal Federal não foi chamado de “cúmplice da corrupção” em relatório da OCDE

  • Publicado em 22 de dezembro de 2023 às 16:40
  • 3 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Em outubro de 2023, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou um documento de implementação da Convenção Antissuborno no Brasil com recomendações e avaliações feitas por um grupo de examinadores. Nesse contexto, publicações que somam mais de 10 mil interações nas redes sociais desde o final de novembro alegam que a instituição teria chamado o Supremo Tribunal Federal (STF) de “cúmplice da corrupção” no texto. Mas uma consulta ao relatório permite observar que não há nenhuma indicação semelhante. À AFP, a OCDE confirmou que a afirmação é falsa.

“O Clube dos países ricos OCDE, chamou o STF de cúmplice da corrupção e vai reagir contra o STF”, diz a legenda de uma das publicações, acompanhada pelo vídeo de uma reportagem, compartilhada no Facebook, no X, no Instagram, no TikTok e no Kwai.

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Captura de tela feita em 18 de dezembro de 2023 de uma publicação no X ( .)

A reportagem faz referência ao relatório da fase quatro da implementação da Convenção Antissuborno da OCDE no Brasil, divulgado em outubro de 2023. Uma pesquisa por palavras-chave com os termos “Brazil”, “OECD” e “Corruption” levou ao texto, publicado na página da instituição.

O documento, elaborado por um grupo de examinadores da OCDE, faz uma análise do Brasil em relação aos objetivos estabelecidos na Convenção Antissuborno.

Na página 11 do relatório, de 117 páginas, o grupo indicou “preocupação” com os possíveis impactos no país após o ministro do STF Dias Toffoli decidir anular provas do acordo de leniência da empreiteira Odebrecht, em setembro.

O documento também informou, na página 13, que a OCDE iria monitorar os efeitos da decisão no Brasil.

Procurada por e-mail pela AFP, a organização confirmou em 18 de dezembro de 2023, ao contrário do que alegam as publicações virais, “não haver nenhuma referência à Suprema Corte como ‘cúmplice da corrupção’ em nosso relatório da Fase 4 de implementação da Convenção Antissuborno no Brasil”.

O Brasil é signatário do acordo de cooperação internacional da OCDE em casos de corrupção e suborno desde 2000.

A anulação das provas do acordo de leniência em questão fez com que a instituição manifestasse “preocupação” sobre a forma como a decisão poderia impactar o envolvimento do Brasil no apoio ao combate internacional aos casos de suborno e corrupção.

Mas o relatório não faz acusações ao STF.

Reportagem utilizada de forma enganosa

Para ilustrar a alegação, as publicações foram compartilhadas nas redes sociais acompanhadas de um trecho de um programa da CNN Brasil.

Ao realizar uma segunda pesquisa por palavras-chave, dessa vez pelos termos “OCDE”, “Odebrecht” e “CNN”, ouvidos na gravação viral, foi possível encontrar a sequência original, da qual o fragmento foi retirado.

Trata-se de uma reportagem retirada de uma edição do programa “CNN 360º”, que foi ao ar no dia 19 de outubro de 2023.

Na sequência, a apresentadora Raquel Landim menciona a preocupação da OCDE explicitada no documento, dentre elas com a forma como a decisão de Dias Toffoli poderia “comprometer a habilidade do Brasil de prover e obter assistência mútua em casos de suborno internacional”.

Porém, nem a jornalista, nem a CNN disseram que o estudo da OCDE classificou o STF como um órgão aliado à corrupção. A expressão “cúmplice da corrupção” não foi dita pela apresentadora, nem está presente no relatório.

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