As baterias dos carros elétricos, usadas adequadamente, resistem a temperaturas extremas

Utilizadas corretamente, as baterias dos veículos elétricos podem funcionar durante muitas horas em condições extremas. No entanto, publicações replicadas nas redes sociais mais de 4,8 mil vezes desde janeiro de 2022 asseguram que esses carros são “o maior golpe que o mundo já viu”, já que o aquecimento ou o ar-condicionado consomem toda a vida útil da bateria “em um curto período de tempo” ou “em um instante”. Além disso, algumas postagens afirmam que “ninguém fala sobre o futuro problema de descartar baterias não usadas”, o que também é enganoso, pois existem iniciativas de reciclagem em diversos países e regiões.

“Carros elétricos - o maior golpe que o mundo já viu?”, indagam publicações compartilhadas no Facebook (1, 2), indicando que em condições de temperaturas rigorosas, durante o inverno e o verão, os carros elétricos formarão enormes engarrafamentos nas estradas, já que o uso da calefação ou do ar-condicionado gastará toda a energia das baterias.

Algumas postagens replicam esta matéria, já apagada, datada de 18 de janeiro de 2022.

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Captura de tela feita em 1º de agosto de 2022 de uma publicação no Facebook ( . / )

Conteúdos similares circulam em inglês, espanhol, sérvio e húngaro.

O frio afeta a capacidade das baterias, mas não acaba com elas em “um instante”

“Os comentários nas redes sociais estão errados e se baseiam em uma série de mitos sobre os VE (veículos elétricos)”, disse à AFP Lars Lund Godbolt, assessor da Associação de Veículos Elétricos da Noruega, VE Elbil.

O impacto das temperaturas abaixo de zero na bateria de um carro não é um segredo. “Em um veículo elétrico, as condições extremas podem provocar uma redução da autonomia ou um aumento no tempo para carregar”, explica o guia Renault 2019 que dá dicas de como otimizar a autonomia de um carro elétrico no inverno.

No entanto, o fabricante explica que para limitar o impacto do frio na capacidade da bateria é preciso começar a esquentar o veículo quando este ainda está ligado a uma estação de carga, sair logo depois que a bateria esteja completamente carregada e adotar o modo “condução ecológica”.

O Clube Geral de Automóvel Alemão (ADAC) explicou, em janeiro de 2022, que “é necessária uma grande quantidade de energia para aquecer uma bateria completamente fria”, por isso é importante conectar o veículo na carga até o momento de dar a partida.

Sobre o consumo da bateria, Alexis Grimaud, pesquisador associado do Laboratório de Química e Energia do Estado Sólido em Paris, disse à AFP que assim como um veículo convencional pode esgotar seu combustível ao utilizar ar-condicionado ou aquecedor, “esses veículos também utilizam a energia da bateria quando estão em uso contínuo. O problema é exatamente o mesmo do que o com um motor de combustão e simplesmente depende do uso adequado do veículo”.

“Em grande medida, o consumo depende da qualidade da tecnologia do calor que a bateria utiliza, ou seja, a presença de uma bomba de calor e a estratégia de calefação em geral”, disse à AFP Julia Poliscanova, diretora sênior da Federação Europeia de Transporte e Meio Ambiente, com sede em Bruxelas.

“Há um preconceito de que a bateria de um carro elétrico se esgotará tão rapidamente em um engarrafamento que poderia congelar o motorista e o passageiro”, observou a especialista. “Mas um teste do ADAC demonstrou que um veículo elétrico consome relativamente pouca energia quando está parado, mesmo no inverno”.

O ADAC testou o rendimento de um Renault Zoe ZE50 e um VW e-Up! em um engarrafamento de 12 horas a temperaturas entre -9ºC e -14ºC com o aquecimento do veículo ajustado a 22ºC. “Depois de 12 horas, só foi usada cerca de 70% da bateria do Renault Zoe e de 80% do VW e-Up!”, mostrou o estudo.

E o ar-condicionado?

A afirmação viral de que as baterias morreriam “em um instante” ao ligar o ar-condicionado durante engarrafamentos no verão também foi desmentida por testes realizados com vários modelos de veículos elétricos.

A revista britânica “Which?” testou o impacto de estar preso no tráfego durante um longo período com o ar-condicionado e outros acessórios ligados em um SUV elétrico Volkswagen ID.4. “Em pouco mais de uma hora e 15 minutos perdemos só 2% de carga de uma bateria de 77kWh”, mostrou o estudo, publicado em agosto de 2021.

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Motor de um carro elétrico na fábrica da Renault, na França, em 5 de julho de 2022 ( AFP / Lou Benoist)

“Um veículo elétrico ser menos eficiente do que um convencional quando está preso no trânsito dependerá da eficiência/qualidade do sistema de aquecimento da bateria utilizada no modelo do automóvel”, disse Poliscanova. “É algo que está melhorando rapidamente à medida que os ‘VE’ são mais eficientes e estão mais otimizados”, concluiu.

Reciclagem

Em algumas publicações, usuários alegam que “ninguém fala do futuro problema de se desfazer das baterias sem usar”. Mas isso é falso. Na Noruega, por exemplo, as baterias que não são mais utilizadas em veículos elétricos “são recicladas em sua maior parte (se reutiliza até 80%), ou usadas em outros âmbitos”, disse Lars Lund Godbolt.

“A taxa de reciclagem de uma bateria de íons de lítio, fixada atualmente em 50%, deve aumentar para 65% em 2025 e 70% em 2030, de acordo com a diretrizda União Europeia sobre baterias de 2006 e a nova norma do Pacto Verde da UE, explicou Grimaud.

Nos Estados Unidos, vários programas estatais pesquisam ou financiam a reciclagem de baterias de carros elétricos. Também existem iniciativas no Japão.

E a fotografia?

Para ilustrar o suposto risco de os carros elétricos ficarem sem bateria devido ao frio, a maioria das publicações utiliza uma foto da agência Associated Press de fevereiro de 2011.

O registro foi feito durante uma tempestade em Chicago e, por isso, a maior parte dos veículos aparece coberta de neve, impedindo que se possa comprovar que estes são elétricos. Além disso, as matérias focavam na quantidade de neve que bloqueou as estradas, e não nos automóveis.

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