As baterias dos carros elétricos, usadas adequadamente, resistem a temperaturas extremas
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- Publicado em 2 de agosto de 2022 às 21:44
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- Por Marion DAUTRY, AFP Belgrado, AFP Argentina, AFP Brasil
- Tradução e adaptação Ana PRIETO
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“Carros elétricos - o maior golpe que o mundo já viu?”, indagam publicações compartilhadas no Facebook (1, 2), indicando que em condições de temperaturas rigorosas, durante o inverno e o verão, os carros elétricos formarão enormes engarrafamentos nas estradas, já que o uso da calefação ou do ar-condicionado gastará toda a energia das baterias.
Algumas postagens replicam esta matéria, já apagada, datada de 18 de janeiro de 2022.
Conteúdos similares circulam em inglês, espanhol, sérvio e húngaro.
O frio afeta a capacidade das baterias, mas não acaba com elas em “um instante”
“Os comentários nas redes sociais estão errados e se baseiam em uma série de mitos sobre os VE (veículos elétricos)”, disse à AFP Lars Lund Godbolt, assessor da Associação de Veículos Elétricos da Noruega, VE Elbil.
O impacto das temperaturas abaixo de zero na bateria de um carro não é um segredo. “Em um veículo elétrico, as condições extremas podem provocar uma redução da autonomia ou um aumento no tempo para carregar”, explica o guia Renault 2019 que dá dicas de como otimizar a autonomia de um carro elétrico no inverno.
No entanto, o fabricante explica que para limitar o impacto do frio na capacidade da bateria é preciso começar a esquentar o veículo quando este ainda está ligado a uma estação de carga, sair logo depois que a bateria esteja completamente carregada e adotar o modo “condução ecológica”.
O Clube Geral de Automóvel Alemão (ADAC) explicou, em janeiro de 2022, que “é necessária uma grande quantidade de energia para aquecer uma bateria completamente fria”, por isso é importante conectar o veículo na carga até o momento de dar a partida.
Sobre o consumo da bateria, Alexis Grimaud, pesquisador associado do Laboratório de Química e Energia do Estado Sólido em Paris, disse à AFP que assim como um veículo convencional pode esgotar seu combustível ao utilizar ar-condicionado ou aquecedor, “esses veículos também utilizam a energia da bateria quando estão em uso contínuo. O problema é exatamente o mesmo do que o com um motor de combustão e simplesmente depende do uso adequado do veículo”.
“Em grande medida, o consumo depende da qualidade da tecnologia do calor que a bateria utiliza, ou seja, a presença de uma bomba de calor e a estratégia de calefação em geral”, disse à AFP Julia Poliscanova, diretora sênior da Federação Europeia de Transporte e Meio Ambiente, com sede em Bruxelas.
“Há um preconceito de que a bateria de um carro elétrico se esgotará tão rapidamente em um engarrafamento que poderia congelar o motorista e o passageiro”, observou a especialista. “Mas um teste do ADAC demonstrou que um veículo elétrico consome relativamente pouca energia quando está parado, mesmo no inverno”.
O ADAC testou o rendimento de um Renault Zoe ZE50 e um VW e-Up! em um engarrafamento de 12 horas a temperaturas entre -9ºC e -14ºC com o aquecimento do veículo ajustado a 22ºC. “Depois de 12 horas, só foi usada cerca de 70% da bateria do Renault Zoe e de 80% do VW e-Up!”, mostrou o estudo.
E o ar-condicionado?
A afirmação viral de que as baterias morreriam “em um instante” ao ligar o ar-condicionado durante engarrafamentos no verão também foi desmentida por testes realizados com vários modelos de veículos elétricos.
A revista britânica “Which?” testou o impacto de estar preso no tráfego durante um longo período com o ar-condicionado e outros acessórios ligados em um SUV elétrico Volkswagen ID.4. “Em pouco mais de uma hora e 15 minutos perdemos só 2% de carga de uma bateria de 77kWh”, mostrou o estudo, publicado em agosto de 2021.
“Um veículo elétrico ser menos eficiente do que um convencional quando está preso no trânsito dependerá da eficiência/qualidade do sistema de aquecimento da bateria utilizada no modelo do automóvel”, disse Poliscanova. “É algo que está melhorando rapidamente à medida que os ‘VE’ são mais eficientes e estão mais otimizados”, concluiu.
Reciclagem
Em algumas publicações, usuários alegam que “ninguém fala do futuro problema de se desfazer das baterias sem usar”. Mas isso é falso. Na Noruega, por exemplo, as baterias que não são mais utilizadas em veículos elétricos “são recicladas em sua maior parte (se reutiliza até 80%), ou usadas em outros âmbitos”, disse Lars Lund Godbolt.
“A taxa de reciclagem de uma bateria de íons de lítio, fixada atualmente em 50%, deve aumentar para 65% em 2025 e 70% em 2030, de acordo com a diretriz” da União Europeia sobre baterias de 2006 e a nova norma do Pacto Verde da UE, explicou Grimaud.
Nos Estados Unidos, vários programas estatais pesquisam ou financiam a reciclagem de baterias de carros elétricos. Também existem iniciativas no Japão.
E a fotografia?
Para ilustrar o suposto risco de os carros elétricos ficarem sem bateria devido ao frio, a maioria das publicações utiliza uma foto da agência Associated Press de fevereiro de 2011.
O registro foi feito durante uma tempestade em Chicago e, por isso, a maior parte dos veículos aparece coberta de neve, impedindo que se possa comprovar que estes são elétricos. Além disso, as matérias focavam na quantidade de neve que bloqueou as estradas, e não nos automóveis.