Não há registro de que site canadense tenha publicado manchete viral sobre vacina da Pfizer
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- Publicado em 9 de junho de 2022 às 15:43
- 4 minutos de leitura
- Por Marisha GOLDHAMER, AFP Canadá, AFP Brasil
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“Novos documentos revelam que a vacina contra a covid-19 da Pfizer tem apenas 12% de eficácia. Isso mesmo 12%”, diz uma das publicações no Twitter (1, 2). Conteúdo similar também circula no Facebook (1).
As publicações se baseiam em uma captura de tela que exibe um suposto artigo do site Global News com a manchete, em tradução livre do inglês: “Dados de ensaios clínicos da Pfizer revelam que a vacina contra covid da companhia tem 12% de taxa de eficácia”.
A mesma imagem também foi compartilhada em inglês, inclusive pela ex-patinadora artística canadense Jamie Sale. Questionada pela AFP sobre um link para o suposto artigo, a ex-atleta não respondeu.
Uma busca pela manchete no site do Global News não levou a nenhum artigo semelhante ao viralizado - em vez disso, revelou uma reportagem de 2020 dizendo que a vacina da Pfizer tem uma efetividade de 95%.
Pesquisas no Google pela manchete também não levaram à suposta publicação, mas a artigos de checagem de outros veículos (1, 2) desmentindo a alegação.
De maneira semelhante, uma consulta a versões arquivadas do site Global News registradas nos serviços Wayback Machine e Archive a partir de 20 de maio - quando o conteúdo começou a circular - não encontrou nenhum artigo como o compartilhado nas redes.
Contatado pela AFP, o porta-voz do Global News disse: “Nós podemos confirmar que a manchete e o subtítulo em questão nunca foram publicados no nosso site e eles são falsamente associados à marca do Global News”.
Embora capturas de tela possam ser evidências de que algo foi publicado, elas nem sempre são verdadeiras: imagens falsas podem ser facilmente fabricadas alterando o código HTML de um página, ou manipulando seus elementos em editores de foto.
Eficácia de 12%
Como a AFP já verificou anteriormente, 12% não é a porcentagem correta da eficácia da vacina da Pfizer contra a covid-19, de acordo com informações publicadas pela companhia e pela Agência de Medicamentos e Alimentos dos Estados Unidos (FDA).
A afirmação de que a vacina é somente 12% efetiva teve origem em um artigo publicado em 3 de abril de 2022 por Sonia Elijah, que escreve para o Trial Site News - um portal que promoveu tratamentos sem comprovação científica para a covid-19.
Em sua publicação, Elijah afirma que a eficácia da vacina deveria ser calculada com base nos números disponíveis na página 42 de um documento de dezembro de 2020, que inclui dados da Pfizer compartilhados com a FDA. O trecho mencionado diz: “Entre o total de 3.410 casos suspeitos, mas não confirmados de covid-19, em toda a população do estudo, 1.594 ocorreram no grupo vacinado contra 1.816 no grupo que recebeu o placebo”.
Entretanto, esses indivíduos não tiveram casos de covid-19 confirmados por um teste de PCR.
Os protocolos de ensaios clínicos da Pfizer deixam claro que os participantes foram orientados a realizar um teste de PCR caso apresentassem sintomas reconhecidos, como febre, tosse, falta de ar, dor de garganta ou perda de paladar ou olfato.
Jeffrey Morris, diretor de bioestatística da Perelman School of Medicine da Universidade da Pensilvânia, explicou em seu site que os 3.410 casos “suspeitos, mas não confirmados” são pessoas que tiveram “algum sintoma mencionado na lista, que, claro, pode vir de muitas causas, não apenas de infecções por covid-19”.
E continuou: “Uma vez que obviamente a vacina contra o SARS-CoV-2 não se destinava a prevenir todas as tosses, febres, calafrios, dor de garganta , dores musculares, falta de ar, vômito, etc., de qualquer causa, seria ridículo incluir todos os relatos de tais sintomas comuns como casos de covid-19 para fins de cálculos de Eficácia da Vacina”.
Enquanto essas publicações nas redes sociais atribuem os 12% aos “dados de ensaios clínicos” da Pfizer, outras postagens (1, 2) fazem referência a um estudo preliminar do Departamento de Saúde do Estado de Nova York noticiado pela imprensa norte-americana.
O estudo apontou que a dose mais baixa da vacina da Pfizer - administrada em crianças de 5 a 11 anos - teve 12% de eficácia contra a infecção durante a onda da variante ômicron, que afetou o estado em dezembro de 2021 e em janeiro de 2022. Apesar da descoberta, os pesquisadores concluíram: "A vacinação de crianças de 5 a 11 anos ofereceu proteção contra doenças graves e é recomendada”.
O AFP Checamos já verificou outras alegações sobre vacinas.