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Mapas viralizados são de veículos diferentes e não provam “golpe” do aquecimento global
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- Publicado em 9 de junho de 2022 às 00:28
- 5 minutos de leitura
- Por Claire-Line NASS, AFP França, AFP Argentina, AFP Brasil
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“Em 1986, isso era considerado um verão normal. Hoje, eles colorem o mapa de vermelho e chamam de calor extremo”, diz o texto que acompanha a peça gráfica em publicações no Facebook (1, 2) e no Twitter (1, 2).
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A AFP identificou que o conteúdo foi publicado originalmente em sueco somando mais de 20 mil compartilhamentos. Os mapas também circulam com alegação semelhante em francês, espanhol e inglês.
O mapa que aparece à esquerda, totalmente verde, mostra temperaturas em sua maioria superiores a 22 graus, e foi feito, segundo a captura, em 1986. O segundo, de cor laranja, mostra temperaturas similares, por volta dos 20 graus, e consta como sendo de 2022.
Uma busca reversa pela imagem no Google revelou que o mapa da esquerda foi publicado pela cadeia sueca SVT (Sveriges Television), mas em 2016 e não em 1986 como asseguram as publicações virais. O gráfico original tem tamanho maior e retrata a península escandinava, onde estão situados Suécia, Noruega e Finlândia.
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Os mapas para 8 de junho de 2022 do canal de televisão também são da cor verde, e não laranja, como o segundo mapa compartilhado nas redes sociais. O mesmo ocorre com o arquivo de busca de informes meteorológicos do site, disponíveis para determinados dias de 2021 e 2022 até maio.
Além disso, todos os mapas meteorológicos da SVT mostram figuras com sol e nuvens, que não aparecem no mapa à direita das publicações virais.
Uma busca reversa na ferramenta russa Yandex pelo segundo mapa revela que, em agosto de 2021, um usuário compartilhou uma versão ampliada deste mesmo mapa no Twitter. Nessa versão observa-se uma logo com o número “4” no canto superior à direita, a palavra “Fredag” (sexta-feira, em sueco) à esquerda e a presença de uma apresentadora de televisão, que indicam se tratar, originalmente, de um print de um vídeo.
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O “4” é a logo do canal de televisão sueco TV4 e a apresentadora é Madeleine Westin. Os arquivos da TV4 permitem chegar ao mapa laranja viralizado, em um vídeo de 13 de agosto de 2021.
As temperaturas e outros elementos visuais confirmam que se trata do mesmo mapa compartilhado nas redes sociais.
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O verão mais quente da história da Europa
No final de abril, o Serviço Europeu de Mudança Climática Copernicus (C3S) apontou em seu informe anual que o verão de 2021 foi o mais quente da história da Europa, com 1°C acima da média dos últimos 30 anos.
Este verão especialmente quente foi caracterizado por várias semanas de onda de calor intensas, em que o termômetro subiu até os 48,8° na Sicília, Itália, um novo recorde europeu (que ainda deve se confirmar oficialmente), ou os 47° na Espanha, um novo recorde nacional.
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“2021 foi um ano de extremos, como o verão mais quente da Europa, ondas de calor no Mediterrâneo, inundações e falta de vento, o que demonstra que compreender os extremos meteorológicos e climáticos é cada vez mais importante para os setores chaves da sociedade”, disse Carlo Buontempo, diretor do Copernicus à AFP.
Desde a era pré-industrial, o planeta ganhou entre 1,1 e 1,2°C. A Europa está ficando mais quente rapidamente, com o aumento médio da temperatura de 2°C, apontou o Copernicus.
Nas redes sociais circulam com regularidade conteúdos que buscam minimizar a presença do aquecimento global ou a responsabilidade humana sobre ele. O AFP Checamos já dedicou alguns artigos a este tema.
O IPCC (Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática), criado em 1988, informa periodicamente o estado dos conhecimentos sobre as mudanças do clima.
Em 4 de abril de 2022, o IPCC publicou a terceira parte de seu sexto informe de avaliação (2021-2022), em que alertou para a urgência de tomar-se várias medidas.
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Na primeira parte do sexto informe de avaliação, publicado em 9 de agosto de 2021, o IPCC escreveu que “é inequívoco que a influência humana aqueceu a atmosfera, o oceano e a terra”.