Postagens usam documento antigo para desinformar sobre a vacina da Pfizer em gestantes
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- Publicado em 20 de maio de 2022 às 19:04
- 4 minutos de leitura
- Por Marisha GOLDHAMER, AFP Canadá, AFP Brasil
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“A própria Pfizer diz que a vacina não é recomendada a mulheres grávidas nem a mulheres que amamentam os seus filhos, por não saberem se os componentes podem ser excretados no leite materno, onde o risco, para os recém nascidos e bébés amamentados, não pode ser excluído”, afirmam publicações no Facebook (1, 2) e Twitter (1, 2).
Conteúdo similar circula em espanhol e inglês.
A Agência de Medicamentos e Alimentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) foi ordenada a cumprir uma solicitação da Lei da Liberdade de Informação - Freedom of Information Act (FOIA) - e liberou o acesso a milhares de páginas dos documentos usados na aprovação da vacina da Pfizer-BioNTech contra a covid-19.
No entanto, o documento compartilhado nas publicações não se tratava dos mesmos liberados pela FDA, mas sim de um antigo texto redigido pelo governo britânico.
Uma busca feita pela AFP por palavras-chave contidas nas capturas de tela das publicações levou ao documento original, publicado por profissionais de saúde do Reino Unido em dezembro de 2020.
Um porta-voz da Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde do Reino Unido (MHRA) confirmou a origem do documento e reiterou que ele não reflete as orientações atuais sobre as vacinas.
Como na maioria dos ensaios clínicos de imunizantes, grávidas e lactantes foram excluídas dos estudos iniciais da vacina da Pfizer-BioNTech contra a covid-19. Os dados insuficientes significaram, inicialmente, que o Reino Unido não recomendava a vacina para esse grupo.
O porta-voz da MHRA disse sobre o documento: “Essa foi nossa avaliação na época”.
As orientações foram atualizadas continuamente e o governo britânico, atualmente, recomenda fortemente a aplicação da vacina contra a covid-19 em mulheres grávidas e lactantes.
O porta-voz da MHRA afirmou que não há preocupações sobre a segurança com relação à aplicação da vacina Pfizer-BioNTech durante a gestação. Uma avaliação com mais de 104 mil grávidas que tomaram a primeira dose foi feita na Inglaterra e Escócia.
“Também não há evidências atuais de que a vacinação contra a covid-19 durante a amamentação cause algum dano às crianças amamentadas ou afete a capacidade de amamentar”, indicou o porta-voz da MHRA.
Victoria Male, professora de imunologia reprodutiva do Imperial College London, usou o Twitter para desmascarar as recentes alegações que deturparam o documento de 2020.
Em entrevista à AFP em 10 de maio de 2022, a professora afirmou: “Como as grávidas não foram incluídas nos ensaios clínicos, nas primeiras semanas do início da vacinação no Reino Unido a vacina não foi oferecida a elas. No entanto, a partir de 1° de janeiro de 2021, reconhecendo que a covid pode gerar consequências graves durante a gestação, incluindo o parto prematuro ou natimorto, nós estendemos a vacinação para gravidez de alto risco”.
Male afirmou que os dados coletados desde então oferecem fortes evidências a favor da vacinação.
“Estudos feitos com mais de 208 mil pessoas vacinadas durante a gravidez mostram que não há maior risco de problemas na gestação após a vacinação. Alguns desses estudos também acompanharam bebês até os seis meses e não foram constatados problemas: há algumas evidências de que essas crianças estariam protegidas contra a covid”, disse ela.
No caso do Brasil, desde julho de 2021, o Ministério da Saúde recomenda a vacinação de mulheres grávidas e puérperas sem comorbidades.
Um estudo com 97.590 pessoas realizado em Ontário, no Canadá, concluiu que a vacinação contra a covid-19 durante a gravidez “não estava significativamente associada ao aumento do risco de resultados adversos na hora do parto”, incluindo hemorragias, cesarianas e internação em UTI neonatal.
Kathryn Gray, médica assistente no Women’s Hospital em Boston, nos Estados Unidos, disse à AFP que “definitivamente” continua recomendando a vacina anticovid para suas pacientes grávidas.
Ela apontou que uma análise de 23 estudos feita em maio de 2022 concluiu que “a vacinação com RNA mensageiro contra a covid-19 na gravidez aparenta ser segura e está associada a redução de natimortalidade.”
Além disso, as associações médicas continuam afirmando que não há risco amplo à fertilidade ao tomar a vacina da covid-19.
Uma declaração do American College of Obstetricians and Gynecologist em conjunto com a Society for Reproductive Medicine e Society for Maternal-Fetal Medicine indica: “Nenhuma perda de fertilidade foi relatada entre os participantes do estudo ou entre os milhões que receberam as vacinas desde a sua autorização. Nenhum sinal de infertilidade apareceu, também, em estudos com animais.”
Uma pesquisa publicada em janeiro de 2022 acompanhou casais nos Estados Unidos e no Canadá e “descobriu que as chances de concepção não mudaram depois dos parceiros terem tomado a vacina”.
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