Mulher grávida depois de receber a dose da vacina da Pfizer-BioNTech contra a covid-19 em Bogotá, em 23 de julho de 2021 ( AFP / Raul Arboleda)

Postagens usam documento antigo para desinformar sobre a vacina da Pfizer em gestantes

Publicações que circulam nas redes sociais desde o último dia 10 de maio afirmam que documentos divulgados recentemente pela Pfizer mostram que a vacina anticovid da farmacêutica não é segura para grávidas ou lactantes. No entanto, essa alegação é falsa. Órgãos reguladores de saúde e médicos independentes afirmam que não foram identificados sinais de efeitos colaterais sérios em mulheres que foram vacinadas durante a gravidez. O documento apresentado nas postagens não é o da farmacêutica, e sim uma recomendação desatualizada publicada no Reino Unido em 2020.

“A própria Pfizer diz que a vacina não é recomendada a mulheres grávidas nem a mulheres que amamentam os seus filhos, por não saberem se os componentes podem ser excretados no leite materno, onde o risco, para os recém nascidos e bébés amamentados, não pode ser excluído”, afirmam publicações no Facebook (1, 2) e Twitter (1, 2).

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Captura de tela feita em 19 de maio de 2022 de uma publicação no Twitter ( . / )

Conteúdo similar circula em espanhol e inglês.

A Agência de Medicamentos e Alimentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) foi ordenada a cumprir uma solicitação da Lei da Liberdade de Informação - Freedom of Information Act (FOIA) - e liberou o acesso a milhares de páginas dos documentos usados na aprovação da vacina da Pfizer-BioNTech contra a covid-19.

No entanto, o documento compartilhado nas publicações não se tratava dos mesmos liberados pela FDA, mas sim de um antigo texto redigido pelo governo britânico.

Uma busca feita pela AFP por palavras-chave contidas nas capturas de tela das publicações levou ao documento original, publicado por profissionais de saúde do Reino Unido em dezembro de 2020.

Um porta-voz da Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde do Reino Unido (MHRA) confirmou a origem do documento e reiterou que ele não reflete as orientações atuais sobre as vacinas.

Como na maioria dos ensaios clínicos de imunizantes, grávidas e lactantes foram excluídas dos estudos iniciais da vacina da Pfizer-BioNTech contra a covid-19. Os dados insuficientes significaram, inicialmente, que o Reino Unido não recomendava a vacina para esse grupo.

O porta-voz da MHRA disse sobre o documento: “Essa foi nossa avaliação na época”.

As orientações foram atualizadas continuamente e o governo britânico, atualmente, recomenda fortemente a aplicação da vacina contra a covid-19 em mulheres grávidas e lactantes.

O porta-voz da MHRA afirmou que não há preocupações sobre a segurança com relação à aplicação da vacina Pfizer-BioNTech durante a gestação. Uma avaliação com mais de 104 mil grávidas que tomaram a primeira dose foi feita na Inglaterra e Escócia.

Também não há evidências atuais de que a vacinação contra a covid-19 durante a amamentação cause algum dano às crianças amamentadas ou afete a capacidade de amamentar”, indicou o porta-voz da MHRA.

Victoria Male, professora de imunologia reprodutiva do Imperial College London, usou o Twitter para desmascarar as recentes alegações que deturparam o documento de 2020.

Em entrevista à AFP em 10 de maio de 2022, a professora afirmou: “Como as grávidas não foram incluídas nos ensaios clínicos, nas primeiras semanas do início da vacinação no Reino Unido a vacina não foi oferecida a elas. No entanto, a partir de 1° de janeiro de 2021, reconhecendo que a covid pode gerar consequências graves durante a gestação, incluindo o parto prematuro ou natimorto, nós estendemos a vacinação para gravidez de alto risco”.

Male afirmou que os dados coletados desde então oferecem fortes evidências a favor da vacinação.

Estudos feitos com mais de 208 mil pessoas vacinadas durante a gravidez mostram que não há maior risco de problemas na gestação após a vacinação. Alguns desses estudos também acompanharam bebês até os seis meses e não foram constatados problemas: há algumas evidências de que essas crianças estariam protegidas contra a covid”, disse ela.

No caso do Brasil, desde julho de 2021, o Ministério da Saúde recomenda a vacinação de mulheres grávidas e puérperas sem comorbidades.

Um estudo com 97.590 pessoas realizado em Ontário, no Canadá, concluiu que a vacinação contra a covid-19 durante a gravidez “não estava significativamente associada ao aumento do risco de resultados adversos na hora do parto”, incluindo hemorragias, cesarianas e internação em UTI neonatal.

Kathryn Gray, médica assistente no Women’s Hospital em Boston, nos Estados Unidos, disse à AFP que “definitivamente” continua recomendando a vacina anticovid para suas pacientes grávidas.

Ela apontou que uma análise de 23 estudos feita em maio de 2022 concluiu que “a vacinação com RNA mensageiro contra a covid-19 na gravidez aparenta ser segura e está associada a redução de natimortalidade.

Além disso, as associações médicas continuam afirmando que não há risco amplo à fertilidade ao tomar a vacina da covid-19.

Uma declaração do American College of Obstetricians and Gynecologist em conjunto com a Society for Reproductive Medicine e Society for Maternal-Fetal Medicine indica: “Nenhuma perda de fertilidade foi relatada entre os participantes do estudo ou entre os milhões que receberam as vacinas desde a sua autorização. Nenhum sinal de infertilidade apareceu, também, em estudos com animais.

Uma pesquisa publicada em janeiro de 2022 acompanhou casais nos Estados Unidos e no Canadá e “descobriu que as chances de concepção não mudaram depois dos parceiros terem tomado a vacina”.

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