Este vídeo não é do conflito na Ucrânia, mostra uma menina palestina e um soldado israelense em 2012

Um vídeo em que uma menina grita e ameaça bater em um soldado armado, em meio a veículos militares, foi visualizado mais de 95 mil vezes em redes sociais desde 27 de fevereiro de 2022. Segundo as publicações, a protagonista das imagens seria uma criança ucraniana que estaria pedindo que um militar russo colocasse um fim na ocupação de seu país. No entanto, a sequência foi gravada em 2012 na Cisjordânia, e a menina é a ativista palestina Ahed Tamimi.

“Menina Ucraniana enfrenta sozinha um soldado Russo. ‘Deixe meu país em paz’ entre outras palavras proferidas pela valente menina”, diz uma das publicações que difundem a gravação no Facebook e Twitter.

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Captura de tela feita em 2 de março de 2022 de uma publicação no Facebook ( . / )

A sequência também tem sido compartilhada com alegações semelhantes em espanhol e inglês.

O conteúdo começou a circular após o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenar a realização de uma “operação militar” na Ucrânia no último dia 24 de fevereiro, citando como justificativa o pedido de ajuda de separatistas pró-russos e uma política agressiva da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em relação a Moscou.

Mas as imagens compartilhadas nas redes não têm relação com esse conflito. Uma busca reversa por fragmentos da sequência levou a um vídeo mais longo publicado no YouTube em 2012, com a descrição: “Menina palestina (Ahed Al Tamimi) pedindo que soldados israelenses liberassem seu irmão (15 anos) que foi preso há alguns minutos”.

A sequência tem a logo do meio de comunicação Raya FM, uma rádio palestina. Uma consulta a seu site demonstrou que o episódio viralizado foi noticiado pela primeira vez em 2 de novembro de 2012, detalhando que a cena aconteceu no povoado de Nabi Saleh, na Cisjordânia, território ocupado por Israel desde 1967.

O incidente também foi registrado em 2 de novembro de 2012 por um fotógrafo da AFP em Nabi Saleh:

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A palestina Ahed Tamimi gesticula em frente a um soldado israelense em 2 de novembro de 2012, durante um protesto contra o confisco de terras palestinas por parte de Israel em Nabi Saleh, Cisjordânia ( AFP / Abbas Momani)

Naquela época, a imagem em que Tamimi enfrenta o soldado foi amplamente difundida por veículos de comunicação e a levou a receber o prêmio Handala de coragem na Turquia, onde também foi recebida pelo então primeiro-ministro e hoje presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.

Israel ocupou a Cisjordânia e a Faixa de Gaza após a guerra árabe-israelense de 1967. Desde então, palestinos lutam para obter o controle desses territórios para estabelecer um Estado palestino.

Tamimi tornou- se um símbolo da resistência palestina. Em dezembro de 2017, quando tinha 16 anos, enfrentou novamente dois soldados israelenses perto de sua casa, em Nabi Saleh, o que a fez passar oito meses na prisão.

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A ativista palestina Ahed Tamimi em uma manifestação em Londres, em 11 de maio de 2019 ( AFP / Daniel Leal)

Invasão russa

Após o início da ofensiva militar em 24 de fevereiro de 2022, a Rússia intensificou suas ações na Ucrânia em 1º de março, lançando uma operação maior contra Kiev, um bombardeio severo contra Kharkiv e um cerco ao porto de Mariupol.

O presidente russo, Vladimir Putin, afirma que a operação militar é justificada porque está defendendo os separatistas apoiados por Moscou no leste da Ucrânia.

Os rebeldes têm lutado contra as forças do governo ucraniano há oito anos em um conflito que, até fevereiro de 2022, havia causado a morte de mais de 14 mil pessoas.

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