Os supostos crematórios enviados a países durante a pandemia são equipamentos industriais

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  • Publicado em 18 de novembro de 2020 às 17:55
  • Atualizado em 25 de novembro de 2020 às 15:23
  • 3 minutos de leitura
  • Por AFP Argentina, Nadia NASANOVSKY
  • Tradução e adaptação AFP Brasil
Um vídeo em que uma mulher assegura mostrar “novas câmaras crematórias modernas” enviadas à Argentina e a outros países para lidar com as mortes que supostamente serão provocadas pela vacinação contra a covid-19 circula nas redes desde meados de novembro. A história é falsa. A sequência mostra, na verdade, equipamentos industriais utilizados para secar forragem que estavam armazenados em um porto espanhol, à espera de serem enviados à Romênia.

A gravação, de quase um minuto e meio, foi compartilhada centenas de vezes no Facebook (1, 2, 3) e Twitter (1, 2, 3) ao menos desde o último dia 13 de novembro. Nela, uma voz em espanhol assegura que as grandes estruturas exibidas são “câmaras crematórias” enviadas “a todos os países que têm, obedientemente, pandemia, quarentena e vacinação obrigatória”.

“Sabe-se que, posteriormente, os humanos que recebermos estas vacinas, partiremos”, continua, no vídeo que também circula em postagens em espanhol.

A narração continua: “então, para não ter que ocupar lugares em cemitérios, para que não haja perguntas, para que não haja autópsias, para que ninguém saiba de nada, estão arranjando isso. Esta é a novidade que chegou à Argentina misteriosamente e silenciosamente, mas se está distribuindo a todas as nações obedientes à nova ordem mundial”

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Captura de tela feita em 17 de novembro de 2020 de uma publicação no Twitter

Outras publicações com textos semelhantes são ilustradas com capturas de tela do vídeo, no lugar da própria gravação. 

Uma busca com a ferramenta CrowdTangle revela que o mesmo vídeo (1, 2), em uma versão mais curta, circula desde 10 dias antes em publicações que asseguram mostrar câmaras crematórias em Tarragona, na Espanha. Nesta sequência, se ouve uma voz masculina, que diz, também em espanhol: “e como eu disse, são fornos bastante grandes, bastante potentes, e não é um, mas alguns, alguns, assusta né? Aqui há uma grande previsão de mortes”.

Uma logo verde

No primeiro segundo da gravação é possível identificar, sobre uma das máquinas, uma logo verde com o nome “APISA”. Uma busca no Google por esse termo revela que é o nome de uma empresa espanhola dedicada à “desidratação de forragem, secagem e armazenamento de cereais e tratamento de biomassa desde 1972”.

Juan José Ayerbe Pejon, um dos proprietários da APISA, explicou à equipe de checagem da AFP, por e-mail: “no vídeo se vêem os componentes de câmaras de combustão para biomassa, combustível ecológico normalmente formado por resíduos agrícolas e/ou florestais que, caso contrário, seriam jogados no lixo”.

O empresário sinalizou, ainda, que estas câmaras “se destinam à geração de ar quente para secar alfafa e outras forragens”.

Além disso, detalhou que no momento da gravação, as câmaras estavam no porto da cidade espanhola de Tarragona esperando para serem carregadas em um navio com destino à Romênia.

No site da companhia é possível ver fotos destes geradores de ar quente, que têm características muito semelhantes aos do vídeo viralizado, como visto na comparação abaixo: 

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Comparação feita em 17 de novembro de 2020 entre vídeo publicado no Twitter e foto disponível no site da companhia APISA

Em resposta a um tuíte posteriormente deletado, a autoridade portuária de Tarragona também negou, no último dia 3 de novembro, as alegações que circulam nas redes sociais, explicando que as máquinas vistas no vídeo são “equipamentos industriais fabricados em Aragón para desidratação de forragens com destino à Romênia”.

Em resumo, o vídeo de supostas câmaras crematórias enviadas à Argentina e a outros países durante a pandemia de covid-19 mostra, na verdade, equipamentos industriais para agricultura produzidos na Espanha e armazenados no país para posterior exportação à Romênia.

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