Não há registro de que Palocci tenha dito que as urnas foram encomendadas para fraudar eleições
- Este artigo tem mais de um ano
- Publicado em 27 de novembro de 2020 às 17:59
- 3 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
Copyright © AFP 2017-2024. Qualquer uso comercial deste conteúdo requer uma assinatura. Clique aqui para saber mais.
“Palocci afirmou que eleições eram decididas pela cúpula. Urnas foram encomendadas para fraudar eleições! O que o TSE vai dizer agora?”, diz o texto de algumas publicações, compartilhadas mais de 3 mil vezes no Facebook (1, 2, 3) e Instagram desde o último dia 17 de novembro.
Outras versões citam a frase que teria sido dita “inúmeras vezes” pelo ex-ministro da Fazenda do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003 - 2011) e ex-ministro-chefe da Casa Civil do governo de Dilma Rousseff (2011 - 2016): “nós trouxemos doutor, as urnas eletrônicas para o Brasil com o objetivo de fraudar as eleições em benefício de todos os partidos de esquerda”.
O conteúdo ganha força alguns dias antes do segundo turno das eleições municipais de 29 de novembro, no qual candidatos de esquerda disputarão a Prefeitura de importantes capitais como São Paulo, Recife e Porto Alegre.
Um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT) e aliado próximo do ex-presidente Lula, Palocci foi condenado a mais de 12 anos de prisão no âmbito da Operação Lava Jato pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, em junho de 2017.
Um ano depois, firmou um acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal, denunciando trocas de favores governamentais por vantagens ilícitas entre integrantes do PT, incluindo Lula, e grandes empresas brasileiras. Em novembro do mesmo ano, teve a sua pena reduzida e passou a cumprir a sentença em prisão domiciliar.
Não há, no entanto, em qualquer arquivo de sua delação premiada a afirmação de que as urnas eletrônicas foram trazidas ao Brasil para manipular eleições.
A palavra “urna” não é sequer citada em seu termo de colaboração premiada, ou nos 39 anexos da delação divulgados pela coluna do jornalista Fausto Macedo, do jornal Estado de S. Paulo, em outubro de 2019.
Uma busca no Google pelas palavras-chave “Palocci + urnas + encomendadas + fraudar + eleições” tampouco localiza qualquer registro de que o político tenha feito essa denúncia em outra ocasião.
Uma segunda pesquisa, desta vez pela frase exata que é atribuída ao ex-ministro em algumas versões das postagens, leva apenas a checagens que desmentem a alegação.
Procurado pelo AFP Checamos, o escritório de advocacia criminal Tracy Reinaldet, responsável pela defesa de Palocci, negou que ele tenha afirmado que as urnas eletrônicas foram encomendadas para manipular eleições. “Não há nenhuma declaração do ex-ministro Antônio Palocci sobre o tema”, disse por e-mail.
O voto eletrônico nem mesmo foi implementado no Brasil durante um governo do PT, mas no mandato do então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 1996. Além disso, na primeira eleição presidencial disputada com o uso de urnas eletrônicas, em 1998, FHC derrotou Lula já no primeiro turno.
(AFP / Antonio Scorza)
As urnas eletrônicas não foram, ainda, “trazidas” ao Brasil de um outro país, como dão a entender as postagens. O projeto técnico da urna eletrônica foi desenvolvido por um grupo de especialistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), das Forças Armadas e do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), como explica o TSE.
A equipe de checagem da AFP já verificou outras alegações que colocam em dúvida a integridade das eleições municipais de 2020, questionando a segurança do voto eletrônico, retórica frequentemente empregada pelo presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores.
Este conteúdo também foi verificado pelas equipes do Aos Fatos, Agência Lupa e Estadão Verifica.
Em resumo, não há qualquer registro de que o ex-ministro dos governos do PT Antônio Palocci tenha afirmado que as urnas eletrônicas foram trazidas ao Brasil para manipular eleições a favor de partidos de esquerda. Além disso, o escritório de advocacia responsável por sua defesa negou que ele tenha dado tal declaração.