É falso que zonas eleitorais de São Paulo tenham registrado resultados iguais
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- Publicado em 25 de novembro de 2020 às 21:35
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- Por AFP Brasil
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“ISSO ACONTECEU NO BRASIL INTEIRO!!! ‘São Paulo, são 20 zonas eleitorais que votaram praticamente igual! FRAUDE, FRAUDE, FRAUDE!!!’” e “Votação em São Paulo é caso de polícia, todas as zonas eleitorais votam igual”, são algumas das legendas que acompanham a gravação, visualizada mais de 105,4 mil vezes no Facebook (1, 2, 3) e no YouTube desde meados de novembro de 2020, em referência ao primeiro turno das eleições municipais em 15 de novembro.
Na sequência de 1 minuto e 45 segundos é possível ouvir uma voz masculina dizendo que “são 20 zonas eleitorais que votaram praticamente igual, né Marcelo?”, quando a câmera mostra um segundo homem, que afirma: “São Paulo é ‘tudo’ igual, cara”.
Em seguida, o primeiro indivíduo pede que seja mostrado o número de votos, que supostamente se repete nas zonas eleitorais: “o Antônio Carlos [PCO] ele tem oito aqui, é tudo muito parecido, ‘oito doze’, dezesseis, é muito parecido ‘os votos’”, indica o homem que mexe no computador.
E o narrador da gravação continua: “então quer dizer, [em] São Paulo ninguém tem opinião diferente, ‘tudo vota’ igual, na mesma proporção, inclusive”, ao que o segundo indivíduo acrescenta - “em todas as zonas”. E, por fim, assinalam: “olha que fraude maldita, gente, presta atenção”.
Mas uma consulta ao portal Resultados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que nas 58 zonas eleitorais existentes na cidade de São Paulo a sequência de candidatos é a mesma, pois ela obedece à ordem do final da apuração, organizando dos mais votados para os menos votados, sem que isso seja alterado de forma interativa de acordo com cada zona eleitoral.
No vídeo, é afirmado que 20 zonas eleitorais seguem esta ordem de candidatos - Bruno Covas (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Márcio França (PSB), Celso Russomanno (Republicanos) e Arthur Do Val (Patriota) - por, supostamente, serem os mais votados. Eles seriam seguidos por Jilmar Tatto, Joice Hasselmann, Angelo Matarazzo, Marina Helou, Orlando Junior, Levy Fidelix, Vera Lucia e Antônio Carlos. Mas isso ocorreu apenas em 15 das 58 zonas.
Em uma análise de todas as zonas eleitorais paulistas feita pela equipe do Checamos foi possível constatar que 43 zonas continham ordens numéricas diferentes, apesar de manterem a sequência de exibição dos candidatos.
A raiz da confusão se dá pelo fato do site de resultados do TSE não ordenar os candidatos em cada zona eleitoral do mais votado ao menos votado. Na realidade, a sequência é sempre a mesma: o mais votado no total (Bruno Covas) ao menos votado no total (Antônio Carlos Silva - PCO).
Na captura de tela abaixo pode-se constatar que na zona 371, por exemplo, Jilmar Tatto aparece abaixo de vários candidatos, apesar de ter tido o segundo maior número de votos da zona, inclusive superior ao de Boulos, que disputará o segundo turno com Covas.
Uma comparação entre os resultados da zona 371 anteriormente mencionada, da zona 1 (que numericamente repete a ordem do vídeo viralizado) e o total de votos em São Paulo, revela que apesar do número de votos variar em cada zona, a sequência segue o padrão do mais votado ao menos votado no total do município.
Apesar da baixa qualidade da imagem do vídeo, é possível identificar algumas das zonas eleitorais contadas como tendo a mesma sequência de votos e candidatos.
Um exemplo é a zona 259, que aparece aos 10 segundos da gravação. Uma consulta no site de resultados do TSE, contudo, mostra Arthur do Val com uma porcentagem de votos superior à de Russomanno, embora figure abaixo do candidato, já que no total de votos da capital o candidato pelo Patriotas não superou o do Republicanos.
Além disso, das 15 zonas que repetem o padrão numérico indicado na gravação viral, as porcentagens do candidatos variam, diferentemente do que é afirmado: de 28,37% a 35,86% para Bruno Covas; de 15,85% a 29,66% para Guilherme Boulos; de 11,51% a 16,76% para Márcio França; de 8% a 13,14% para Celso Russomanno; e de 7,56% a 11,26% para Arthur Do Val.
Um conteúdo semelhante foi verificado pela equipe do Aos Fatos.
Em resumo, é falso que o vídeo de dois homens mostrando uma sequência de candidatos igual em diferentes zonas eleitorais prove uma fraude nas eleições municipais de São Paulo. A ordenação destes é feita a partir do total de votos obtidos ao final da apuração e esta não é modificada de maneira interativa de acordo com a zona eleitoral, ainda que um candidato localizado abaixo tenha obtido mais votos que o outro, acima.