O surgimento das cepas do SARS-CoV-2 não tem um cronograma pré-definido
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- Publicado em 29 de novembro de 2021 às 22:15
- Atualizado em 30 de novembro de 2021 às 15:46
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- Por AFP Brasil, AFP Romênia, AFP Espanha
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“A NOM já tem vaiantes do covid, prontas e batizadas até 2030”, diz uma das publicações compartilhadas no Twitter (1, 2, 3). O conteúdo também circulou no Facebook (1, 2, 3). A tabela viralizada é compartilhada desde, pelo menos, julho de 2021.
A imagem circula em vários idiomas, como espanhol, inglês, holandês, francês, romeno, indonésio, vietnamita, russo, árabe e alemão.
O conteúdo voltou a circular com a detecção da nova variante do coronavírus, batizada de ômicron pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Nas diferentes imagens viralizadas estão os logotipos da OMS, do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) e da Universidade Johns Hopkins. Várias dessas organizações têm sido alvo de teorias (1, 2) segundo as quais a pandemia de covid-19 é um “plano” para o controle global.
“Não é um documento da OMS”, disse Tarik Jašarevic, porta-voz da Organização Mundial da Saúde, à AFP em agosto de 2021. "Nunca tínhamos visto essa publicação e não estivemos envolvidos em sua criação", disse Chloé Laluc, porta-voz do Fórum Econômico Mundial, à AFP em 28 de julho.
A assessoria de imprensa da Universidade Johns Hopkins disse à AFP em novembro de 2021 que é “falso” o que aparece nas publicações viralizadas. “A Universidade Johns Hopkins não teve nenhum papel na difusão dessa desinformação”, respondeu um porta-voz.
Calendário equivocado
Além dos logotipos, chama a atenção que a OMS costuma listar, por um lado, as variantes de interesse (VOI, na sigla em inglês) do novo coronavírus e, por outro, as variantes de preocupação (VOC, na sigla em inglês). No caso do calendário que circula nas redes sociais, elas são inseridas na suposta ordem de aparição, passada e futura, a começar pela mais conhecida, a variante delta.
Até a data de publicação deste texto, a lista oficial da OMS inclui cinco variantes de preocupação (alfa, beta, gamma, delta e a recente ômicron) e duas variantes de interesse (lambda e mu).
De acordo com o cronograma publicado nas redes sociais, a variante delta estava programada para ser “lançada” em junho de 2021. Porém, essa variante, uma das mais contagiosas, foi detectada pela primeira vez em outubro de 2020, na Índia, conforme indicado pela OMS em seu site. Em abril de 2021 foi considerada como uma "variante de interesse" e em maio como uma "variante preocupante". No calendário viralizado não aparecem as variantes alfa, beta e gama, anteriores à delta.
Em setembro de 2021 seria o “lançamento” da eta; em novembro, da iota; em dezembro, da kappa; e em janeiro de 2022, da lambda, conforme o cronograma. Mas essas variantes de interesse foram detectadas no final de 2020. Em março, eta e iota foram classificadas como "variantes de interesse", enquanto a kappa foi classificada como tal em abril, e a lambda, em junho.
As variantes surgem de forma aleatória
Os vírus sofrem mutações regularmente, então o surgimento de novas variantes não é uma surpresa. Além disso, elas surgem ao acaso, disseram os cientistas entrevistados pela AFP.
Ao entrar em uma célula, um vírus se replica: ele copia a si mesmo para se propagar. Cada vez que ele se replica, ocorrem erros na cópia do genoma do vírus, como um "erro" em um computador, mas isso pode ou não ter um impacto maior ou menor no seu comportamento.
“O vírus sofre mutação involuntariamente e há sistemas de seleção que significam que, se uma variante tem uma vantagem, especialmente se for mais contagiosa, ela ganha terreno”, explicou à AFP Catherine Hill, epidemiologista do Instituto Gustave-Roussy de Villejuif, na França, no último 14 de julho.
A OMS observa: “Todos os vírus mudam com o tempo, assim como o SARS-CoV-2, o vírus causador da covid-19. A maioria das mudanças tem pouco ou nenhum efeito nas propriedades do vírus. No entanto, algumas alterações podem influenciar algumas delas, como a facilidade de propagação, a gravidade da doença associada ou a eficácia das vacinas, medicamentos para o tratamento, ferramentas de diagnóstico ou outras medidas de saúde pública e social”.
A organização internacional de saúde garante que "suas redes internacionais de especialistas" monitoram de perto a evolução dos vírus a fim de "informar os países e o público sobre quaisquer mudanças que possam ser necessárias para lidar com a variante e prevenir sua propagação".
*Esta verificação foi realizada com base em informações científicas e oficiais sobre o novo coronavírus disponíveis na data desta publicação.
30 de novembro de 2021 Acrescenta resposta da Universidade Johns Hopkins no parágrafo sete