O cartaz que pede um reforço na Nova Zelândia por "liberdades" é uma montagem

Um cartaz em um outdoor com a imagem da primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, convocando para o "um reforço de Natal", em referência às vacinas contra a covid-19, foi compartilhado mais de 90 vezes por usuários nas redes sociais desde 7 de dezembro de 2021. A mensagem do outdoor, na qual é vista a logomarca do partido de Ardern, afirma em inglês que cada dose de reforço proporciona “até seis meses de liberdade". Mas a imagem foi manipulada a partir de um anúncio eleitoral para as eleições gerais do país em outubro de 2020.

“NOVA ZELÂNDIA, outra ditadura sanitária em guerra contra seus cidadãos. A führer local ganhou a devida decoração no outdoor. ‘Lembre-se de agendar a sua dose de reforço de natal. Cada dose te dá até 6 meses de liberdade’", diz o trecho de uma das publicações compartilhadas no Twitter e no Facebook (1, 2).

Conteúdos semelhantes também circulam em inglês, espanhol, romeno, italiano e macedônio.

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Captura de tela feita em 13 de dezembro de 2021 de uma publicação no Twitter ( . / )

A imagem foi manipulada

Uma busca reversa no Google pela foto viral levou à versão inalterada do cartaz estampado no outdoor em um site de propaganda eleitoral da Nova Zelândia, que informa que a publicidade do Partido Trabalhista foi feita nas Eleições Gerais de 2020.

Nessa comparação feita pela AFP, é possível constatar as diferenças entre as duas imagens:

Em 17 de outubro de 2020, a Nova Zelândia realizou uma eleição geral em que o Partido Trabalhista de Ardern saiu vitorioso. O partido tinha como slogan da campanha“Let’s keep moving” (“Vamos em frente”) que aparece na propaganda do outdoor e em outras fotografias na época:


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A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, após a vitória eleitoral do Partido Trabalhista em Auckland, Nova Zelândia, em 17 de outubro de 2020 ( AFP / Michael Bradley)

A campanha eleitoral de 2020 na Nova Zelândia começou meses antes de as vacinas contra a covid-19 estarem disponíveis no país. A vacinação começou em fevereiro de 2021.

Um porta-voz do gabinete do primeiro-ministro confirmou à AFP em 12 de dezembro de 2021 que o cartaz que relaciona o "reforço do Natal" a "seis meses de liberdade" é "falso". A AFP também não encontrou registros que vinculem o Partido Trabalhista neozelandês com essas palavras-chave ou qualquer convocação semelhante.

Doses de reforço

O cartaz de Ardern viralizou enquanto vários países do mundo discutem uma dose de reforço da vacina contra a covid-19 para aumentar a imunidade contra o vírus, especialmente após a detecção da nova variante ômicron.

Em 25 de novembro de 2021, a Comissão Europeia propôs atualizar as regras de livre circulação de pessoas na União Europeia (UE), com o aval apenas para aqueles que receberam o reforço do imunizante.

No Brasil, a Anvisa recomendou em 24 de novembro de 2021 a dose de reforço para toda a população acima dos 18 anos.

Vacinação obrigatória e reforço na Nova Zelândia

Entre as frases do anúncio viral no outdoor aparece "No Jab No Job" ("Sem vacina, sem trabalho"), que pode se referir às rígidas regulamentações da Nova Zelândia, onde a vacinação contra covid-19 é obrigatória para trabalhadores de certos setores, como educação, saúde e serviços.

De acordo com o Ministério da Saúde da Nova Zelândia, “qualquer pessoa com mais de 18 anos de idade pode ser elegível para receber uma dose da vacina seis meses após ter completado seu ciclo de vacinação primário”. Os trabalhadores da saúde e fronteiriços têm prioridade, assim como os imunossuprimidos e residentes em lares de idosos.

“Os reforços não serão obrigatórios (...) para ter o certificado de vacinação utilizado para ingressar em eventos, academias, igrejas, cabeleireiros e outros serviços e locais”, esclarece o ministério.

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