A modelo Nyakim Gatwech não foi reconhecida com um Recorde do Guinness por sua cor de pele

Postagens que garantem que a modelo Nyakim Gatwech “entrou no Guinness” por ter “o tom da pele mais escura do planeta” foram compartilhadas centenas de vezes nas redes sociais desde, pelo menos, 27 de novembro de 2021. Isso é falso: o Guinness Book negou que tal categoria exista. Além disso, uma foto que acompanha algumas das publicações não mostra Gatwech, mas sim outra modelo.

“Nativa de Gambela, na Etiopía, Nyakim Gatwech de 28 anos, entrou no livro de Recordes do Guinness por ter a tez mais escura do mundo. Esta mulher tem o apelido de ‘Rainha das Trevas’. Só q acho estranho q não acusaram o livro do Guiness de racista ainda”, é lido em publicações no Twitter (1, 2) e Facebook (1, 2, 3), que incluem a foto de uma mulher sentada na areia com um vestido azul claro.

Publicações com legendas semelhantes que incluem outras fotografias foram compartilhadas no Instagram (1, 2) e no Facebook (1, 2, 3).

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Captura de tela tirada em 13 de dezembro de 2021 de uma postagem no Facebook ( . / )

A história também circula em espanhol, inglês e francês.

História falsa

“Essa história é falsa”, disse um porta-voz do departamento de comunicação do Guinness World Records, contatado em 6 de dezembro de 2021 pela AFP. “Não incluímos este ou nenhum outro registro baseado na cor da pele”, acrescentou.

Em uma busca pelas palavras-chave “darkest” “skin” “tone” (tom de pele mais escuro) na lista do Guinness Book, não foi encontrado nenhum resultado para a categoria referida.

O boato de que Nyakim Gatwech havia entrado no Guinness pela cor de sua pele ser a “mais escura do planeta” já havia surgido em 2020 (1, 2, 3), e o Guinness World Records já o havia negado em 4 de maio de 2020.

Além disso, questionado sobre o suposto registro, o agente de Nyakim Gatwech, Erodney Davis, garantiu à AFP no último 7 de dezembro: "Não é verdade, o Guinness World Records não se preocupa com a cor da pele."

A mulher da foto

Uma busca reversa de imagens com o mecanismo de busca Yandex encontrou uma imagem semelhante à foto viral de uma mulher com vestido azul, que leva à conta no Instagram de outra modelo, Florence Baitio, que também tem um tom de pele muito escuro. Sua conta no Instagram está localizada geograficamente em Perth, Austrália.

Em sua conta no Instagram, com mais de 200 mil seguidores, até 13 de dezembro de 2021, há um vídeo de 26 de outubro de 2020 no qual a modelo é vista na mesma pose da imagem viral e aparentemente no mesmo lugar.

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Comparação feita em 13 de dezembro de 2021 entre o vídeo postado por Florence Baitio (E) e uma das postagens virais sobre Nyakim Gatwech ( . / )

Nesta página do Facebook página chamada “Florença Baitio” há também uma foto semelhante, de 11 de junho de 2021: mesmo vestido, mesma pose e mesma cena.

Baitio e seu agente não responderam às perguntas da AFP até a data de publicação desta verificação.

Ademais, algumas postagens virais (1, 2), com a mesma história, incluem outra fotografia que mostra a modelo Nyakim Gatwech e que foi postada em sua conta no Instagram em janeiro de 2020.

Nyakim Gatwech e Florence Baitio

De acordo com um artigo publicado em 2017 pela revista de moda adolescente americana TeenVogue, Nyakim Gatwech, na época com 24 anos, foi apelidada de “Rainha das Trevas” por seus fãs.

A modelo foi criada no Sudão e posteriormente emigrou para os Estados Unidos. De acordo com a TeenVogue, “ela se tornou um fenômeno viral depois de compartilhar uma história no Instagram sobre uma discussão com um motorista do Uber. Quando questionada pelo motorista do Uber se ela branquearia a pele por US $ 10.000, Nyakim riu. ‘Eu nunca faria isso. Considero minha pele uma bênção’, disse ela”.

Nessa entrevista, ela explicou que regularmente enfrentava comentários inadequados e até racistas sobre a cor de sua pele.

Gatwech fez inúmeras sessões de fotos para revistas de moda e designers e desfilou em passarelas ao redor do mundo.

Florence Baitio, por sua vez, é de origem ugandense e mora na Austrália. Em um artigo de 2017 na revista digital americana Galore, ela contou que viveu em um campo de refugiados em Uganda antes de chegar à Austrália quando tinha 7 anos. Ela também fez referência aos tempos difíceis, relacionados aos transtornos alimentares e ao racismo que sofreu em seu país de adoção.

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