O vídeo de um político belga fingindo se vacinar mostra uma simulação
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- Publicado em 14 de dezembro de 2021 às 01:43
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- Por Clémence OVEREEM, AFP Holanda, AFP Colômbia, AFP Brasil
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“Bélgica: O primeiro-ministro Alexander de Croo, tentou encenar sua vacinação, mas infelizmente para ele, a enfermeira que aplica a injeção não é tão boa atriz quanto ele”, lê-se em publicações no Facebook (1, 2, 3) e no Twitter (1, 2).
O conteúdo também circulou em espanhol, inglês, francês e holandês.
De fato, no vídeo se vê um homem supostamente recebendo uma vacina, e em seguida, fica evidente que a seringa que a profissional de saúde utiliza segue tampada. Nos comentários das publicações em holandês, os usuários de redes sociais mencionaram o centro de vacinação Bilzen, na província belga de Limburgo.
Buscas no Google com as palavras-chave “Bilzen vaccinatiecentrum test” (Teste do centro de vacinação Bilzen, em português), levaram a uma reportagem televisiva, publicada em 1º de fevereiro de 2021 pela cadeia belga de rádio e televisão VTR, na qual se explica que as imagens realmente correspondem a uma simulação de vacinação contra a covid-19.
O vídeo não está mais disponível nesse site. Mas o material audiovisual foi compartilhado no mesmo dia no Facebook por Bart Somers, vice-ministro presidente e ministro do Interior do governo da região flamenga, uma das três comunidades constitucionais da Bélgica.
Na verdade, é ele o político que aparece na peça audiovisual, não o primeiro-ministro da Bélgica, Alexander De Croo, como afirmam as publicações difundidas nas redes sociais.
A partir do minuto 1 e 32 segundos é possível ver a mesma sequência viralizada nas redes sociais:
Somer escreveu na publicação que o objetivo do ensaio era analisar áreas que precisavam ser melhoradas no centro de vacinação para iniciar a imunização quando as vacinas estivessem disponíveis. Ele ainda explicou que realmente não recebeu a primeira dose no evento. “Para ser claro: não recebi uma injeção real”, disse em holandês.
O jornal local Het Laatste Nieuws também publicou um artigo sobre o teste: “Sob o olhar de aprovação do ministro flamengo de Administração Interna, Bart Somers, cerca de cinquenta pessoas de Bilzen [no nordeste da Bélgica] e seus arredores receberam hoje sua primeira dose contra o coronavírus. Ao menos por assim dizer, porque foi um ensaio. O centro de vacinação do pavilhão esportivo De Kimpel foi submetido a testes extensivos pela primeira vez”, diz o texto.
O ministro do Interior explicou à AFP, em 4 de fevereiro de 2021, que o evento que aparece no vídeo foi um ensaio para provar capacidades logísticas dos pontos de vacinação e não uma vacinação real:
“Vemos novamente o perigo das notícias falsas. Esta semana começará o teste em vários centros de vacinação flamengos. Para ver se tudo andará bem assim que as vacinas estiverem disponíveis, vários centros de vacinação organizaram uma simulação. Por exemplo, eles olham quanto tempo demora para vacinar uma pessoa e se não há grandes filas. É irresponsável e perigoso que as pessoas usem esse momento de prática para difundir notícias falsas”.
O ministro também publicou, em holandês, sobre o material que foi usado para desinformar. Em tradução livre, diz: “Para ser claro: nenhuma vacina foi administrada durante esse ensaio e nem mesmo uma injeção foi dada. Do contrário, teria gritado ‘ai’ mais alto”.
Voor alle duidelijkheid: er werd tijdens deze dry-run geen vaccin toegediend en zelfs geen prikje gegeven. Anders had ik wel harder ‘Auww’ geroepen https://t.co/sLAvanqENA
— Bart Somers (@BartSomers) February 1, 2021
Em 7 de junho de 2021 o político divulgou uma foto do momento em que recebeu a primeira dose da vacina contra a covid-19. No mesmo dia, o canal belga RTV publicou um vídeo do evento no Facebook.
Vandaag heb ook ik mijn eerste vaccin gekregen. Dankjewel aan alle medewerkers en vrijwilligers van het Mechelse vaccinatiecentrum. pic.twitter.com/oKEZGE6mkR
— Bart Somers (@BartSomers) June 7, 2021
No início de 2021, publicações falsas e enganosas envolvendo dirigentes ao redor do mundo e a vacinação foram recorrentes. A AFP verificou várias dessas alegações (1, 2, 3).