O príncipe Charles fala com o público no National War Memorial, em Wellington, Nova Zelândia, em 4 de novembro de 2015 ( AFP / Marty Melville)

Não há provas de que vídeo mostre “vacinado” desmaiando em frente ao príncipe Charles

Uma sequência em que uma pessoa desmaia em frente ao príncipe Charles circula em redes sociais ao menos desde 24 de outubro de 2021 com a afirmação de que o homem colapsou pouco após ser vacinado. A alegação é enganosa: o vídeo mostra um funcionário de um supermercado que desmaiou enquanto conversava com o herdeiro do trono britânico em julho de 2020, cinco meses antes de o Reino Unido começar a imunizar sua população contra a covid-19. O homem se recuperou logo após o incidente, segundo a mídia local.

“O príncipe Charles da Inglaterra fala com um homem vacinado que diz estar bem... e desmaia (ou morre?) diante dele... E o príncipe vai e inaugura uma placa. Tudo muito real. Não é uma vacina, é uma arma biológica”, escreveu um usuário em uma das publicações que circulam no Twitter (1, 2, 3), Facebook (1, 2, 3) e Telegram.

A legenda é acompanhada por um vídeo em que o príncipe conversa com um homem vestido de preto, que repentinamente cai no chão.

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Captura de tela feita em 3 de novembro de 2021 de uma publicação no Telegram ( . / )

A sequência também circula com alegações semelhantes em inglês, espanhol e francês.

Uma busca reversa no Google por fragmentos do vídeo levou a este artigo de 10 de julho de 2020, publicado pelo site de notícias britânico The Independent. “O funcionário recebeu atendimento médico imediato e se recuperou rapidamente, com colegas tranquilizando o príncipe. Não se sabe por que o homem desmaiou”, reportou.

O vídeo compartilhado nas publicações enganosas foi publicado originalmente pelo jornal The Telegraph em 9 de julho de 2020.

Nesse dia, Charles e sua esposa Camila estavam visitando um centro de distribuição da rede de supermercados Asda em Bristol, no sudoeste da Inglaterra, para “agradecer aos funcionários que trabalharam durante a pandemia do coronavírus”, informou o veículo britânico Metro ao publicar o mesmo vídeo.

Procurado pela AFP, um porta-voz da Asda explicou que o homem - cujo nome a companhia não divulgou - desmaiou pela “magnitude” do encontro:

“A magnitude do momento foi um pouco demais para um dos nossos colegas, que desmaiou brevemente, mas que, após tirar alguns minutos para se recuperar, voltou para continuar seu turno e garantir a todos que ele estava totalmente bem”, disse à AFP.

O uso da vacina da Pfizer-BioNTech - o primeiro imunizante contra a covid-19 aprovado no Reino Unido - só foi autorizado em 2 de dezembro de 2020, cinco meses após o incidente.

Em 8 de dezembro de 2020, Margaret Keenan, de 90 anos, recebeu a primeira dose do imunizante no país, se tornando também a primeira pessoa no mundo ocidental a receber uma vacina aprovada contra a covid-19.

Embora os ensaios clínicos em humanos tenham começado no Reino Unido em abril de 2020, o porta-voz da Asda disse acreditar ser “altamente improvável” que o homem no vídeo tenha participado de um dos testes. No entanto, a empresa não pôde confirmar essa informação por não ter acesso a dados médicos dos funcionários.

Grafeno

Em vários dos vídeos ouve-se uma voz em inglês que sinaliza que o desmaio foi provocado pela vacina, que teria grafeno em sua composição.

O grafeno é um nanomaterial composto por átomos de carbono que tem sido alvo de peças de desinformação.

Como especialistas já explicaram à AFP em várias oportunidades (1, 2), esse nanomaterial não está presente nas vacinas contra a covid-19.

“O grafeno não é solúvel, portanto, um dispositivo de grafeno não poderia ser injetado em solução”, disse à AFP o pesquisador Diego Peña, do Centro Singular de Pesquisa em Química Biológica e Materiais Moleculares, da Espanha, em maio de 2021. “Se houvesse grafeno, as vacinas seriam soluções de cor escura”, acrescentou.

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