Fala sobre "civis desarmados" em Gaza não foi último discurso do papa Francisco; gravação é de 2023

  • Publicado em 29 de abril de 2025 às 16:58
  • 4 minutos de leitura
  • Por AFP México
  • Tradução e adaptação AFP Brasil
Após o falecimento do papa Francisco em 21 de abril de 2025, publicações com mais de 28 mil interações nas redes sociais compartilham um vídeo que mostraria a “última aparição pública” do pontífice. Na gravação, o papa pede um cessar-fogo na Faixa de Gaza, citando bombardeios de “civis desarmados” e danos a uma igreja e a um convento no local. Mas, apesar de o pontífice ter de fato pedido um cessar-fogo em Gaza durante seu último discurso em público, o vídeo viral mostra um trecho da oração do Angelus feita em 17 de dezembro de 2023.

“ATENÇÃO!! A Globo não vai mostrar mas o Papa Francisco usou sua última aparição pública pra denunciar o GENOCÍDIO feito por Israel e exigir um cessar fogo em Gaza!! Que descanse em paz”, diz uma das publicações compartilhadas junto ao vídeo no Facebook, no Instagram e no X.

Na gravação viral, o pontífice lamenta um tiroteio do Exército israelense em frente à paróquia da Sagrada Família em Gaza, reporta danos ao Convento das Irmãs de Madre Teresa, cita o nome de vítimas e pede por um cessar-fogo.

O conteúdo, que também circula em inglês e espanhol, foi encaminhado ao WhatsApp do AFP Checamos, para onde os usuários podem enviar mensagens vistas em redes sociais, caso duvidem de sua veracidade.

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Captura de tela feita em 28 de abril de 2025 de uma publicação no X (.)

Em 20 de abril de 2025, um dia antes de seu falecimento, o papa Francisco apareceu na varanda da Basílica de São Pedro, no Vaticano, para dar a tradicional bênção "Urbi et Orbi" (à cidade de Roma e ao mundo).

Durante seu discurso, ele denunciou “a dramática e indigna crise humanitária” em Gaza, onde é travada uma guerra entre Israel e o movimento islamista Hamas desde 7 de outubro de 2023.

“Me sinto próximo do sofrimento dos cristãos na Palestina e em Israel, assim como de todo o povo israelense e de todo o povo palestino. É preocupante o crescente clima de antissemitismo que está se espalhando pelo mundo todo. Ao mesmo tempo, meu pensamento se dirige à população e particularmente à comunidade cristã de Gaza, onde o terrível conflito segue causando morte e destruição e provocando uma dramática e indigna crise humanitária”, disse Francisco em uma mensagem lida pelo monsenhor Diego Ravelli.

Ele concluiu: “Apelo às partes beligerantes para que cessem o fogo, libertem os reféns e ajudem a quem tem fome e deseja um futuro de paz”. 

Contudo, a sequência viral não corresponde ao último discurso feito pelo pontífice.

Oração de 2023

Uma busca reversa por fragmentos da gravação no Google conduziu a um vídeo publicado em 17 de dezembro de 2023 no canal do Vaticano no YouTube.

A descrição da sequência indica que “após o tiroteio do Exército israelense em frente à paróquia da Sagrada Família na cidade de Gaza, Francisco volta a orar pela paz nesta terra atormentada e pronuncia os nomes das vítimas, surpreendidas pelo ataque fatal ocorrido”.

No vídeo, é possível ouvir o pontífice afirmar: “Continuo a receber notícias muito graves e dolorosas de Gaza. Civis desarmados são alvos de bombardeios e disparos, e isso aconteceu até mesmo dentro de um complexo paroquial da Sagrada Família, onde não há terroristas, mas famílias, crianças, doentes, pessoas com deficiência e freiras. Uma mãe e sua filha foram assassinadas (...).

Uma pesquisa no Google pelos nomes das vítimas citadas pelo papa encontrou um artigo sobre o seu discurso publicado em 17 de dezembro de 2023 em um portal de notícias do Vaticano. A mesma busca também levou a matérias de diferentes veículos sobre o ataque mencionado, publicadas em dezembro de 2023 (1, 2, 3).

Segundo anunciou o Vaticano em 26 de abril de 2025, cerca de 200 mil pessoas participaram do funeral do papa Francisco na Praça de São Pedro e arredores.

Em 28 de abril, os cardeais da Igreja católica decidiram que iniciarão o conclave para a eleição do próximo papa em 7 de maio

O AFP Checamos já verificou outras alegações relacionadas à morte do papa Francisco.

Referências

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