
Namíbia não anunciou a deportação de 500 norte-americanos em resposta às medidas de Donald Trump
- Publicado em 29 de abril de 2025 às 18:28
- 4 minutos de leitura
- Por Tendai DUBE, AFP África do Sul
- Tradução e adaptação AFP Brasil
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“Namíbia: A primeira mulher presidente do país ordenou a deportação de 500 americanos em resposta às operações de deportação de Trump, que têm como alvo principalmente africanos”, diz um trecho das publicações que circulam no Facebook, no Instagram, no Telegram, no Threads, no TikTok e no X.
Algumas postagens virais, que também foram compartilhadas em inglês, acrescentam que a presidente Netumbo Nandi-Ndaitwah teria indicado a liberação da necessidade de visto para todas as nações africanas.

A Namíbia, país do sudoeste da África, mudou recentemente seus requisitos de visto para entrada no território, tornando o processo mais rigoroso para cidadãos de mais de 30 países, incluindo os Estados Unidos.
O conteúdo também circula em meio ao endurecimento da política anti-imigração desde que Donald Trump retornou à Presidência dos Estados Unidos, associando a medida a uma suposta represália do país africano.
Mas o governo da Namíbia não anunciou um plano de deportação de 500 cidadãos norte-americanos.
Uma busca pelas palavras-chave no Google “Namíbia” e “deportação” levou a artigos de portais compartilhando a mesma alegação viral, apesar de não haver um anúncio oficial por parte do governo.
Procurada pela AFP, a porta-voz de Assuntos Internos da Namíbia, Margaret Kalo, afirmou em 15 de abril de 2025 que a entidade não tem conhecimento de “nenhuma medida desenvolvida” com esse teor.
No mesmo dia, a Presidência da Namíbia publicou um desmentido no X, classificando a alegação como “fake news”.
Fake news! pic.twitter.com/nkpqjc2Vva
— Namibian Presidency (@NamPresidency) April 15, 2025
Em nota enviada à AFP em 17 de abril, o governo reiterou a informação: “A Presidência da Namíbia reportou isso como ‘fake news’”.
Países africanos ainda precisam de visto na Namíbia
A alegação de que a presidente Netumbo Nandi-Ndaitwah também teria liberado “todas as nações africanas” de entrar sem visto no país tampouco procede.
Uma busca por palavras-chave no Google levou a uma publicação de um portal de turismo oficial da Namíbia com uma lista de países que necessitam de visto para entrada, entre eles nações africanas como Camarões, Guiné-Bissau e Madagascar.
A mesma publicação também indica os países com isenção de visto na Namíbia, como Indonésia, Angola e Brasil.
Reciprocidade
De acordo com os dados de turismo do país, mais de 25.500 pessoas viajaram dos Estados Unidos para a Namíbia em 2023.
Em 2024, o Parlamento namibiano aprovou novos requisitos de visto para 31 países, incluindo os Estados Unidos. A Austrália e a Nova Zelândia foram adicionadas posteriormente à lista, aumentando para 33 o número de países afetados pela medida.

“Nos últimos anos, a República da Namíbia tem oferecido gestos de boa vontade e tratamento favorável a cidadãos de vários países”, diz um comunicado do Ministério de Assuntos Internos.
“No entanto, apesar desses esforços, algumas nações não têm se mostrado recíprocas”, acrescenta. “À luz dessas disparidades, o governo considerou ser necessário implementar uma exigência de visto para garantir paridade e justiça nas relações diplomáticas”.
Os novos requisitos começaram a valer em 1º de abril de 2025. No dia seguinte, a embaixada dos Estados Unidos na Namíbia anunciou que o governo namibiano “exigiria aos cidadãos norte-americanos obter o visto antes da entrada no país”, recomendando que os visitantes o fizessem com antecedência.
A embaixada informou que não houve mudanças em outros tipos de vistos, como de estudante, voluntariado ou de trabalho, que devem ser obtidos antes da viagem.
O comunicado também indicou que os viajantes que permanecerem além do tempo de estadia ou possuírem um carimbo de entrada irregular ou ausente poderão ser detidos, presos e multados — mas não mencionou deportações.
O secretário de imprensa da Namíbia Alfredo Hengari indicou à AFP que a atual presidente não comentou publicamente sobre os novos requerimentos de visto no país.
O AFP Checamos já verificou outras alegações sobre imigração desde que Donald Trump retornou à Casa Branca, em janeiro de 2025 (1, 2).