Comentarista Kelly Powers, da Fox News, não morreu de “câncer turbo”
- Publicado em 16 de dezembro de 2024 às 18:44
- 4 minutos de leitura
- Por Alexia PARTOUCHE, AFP Estados Unidos
- Tradução e adaptação AFP Brasil
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“A médica da Fox News Kelly Powers, totalmente vacinada, que sobreviveu a um ataque cardíaco no ar, morre de câncer turbo”, diz uma das publicações que circulam no Facebook, no Instagram e no X.
Algumas postagens também são acompanhadas de uma captura de tela de uma matéria do The People’s Voice - portal que a AFP já verificou em outras ocasiões (1, 2).
Mensagens semelhantes circulam em inglês.
Após o anúncio da morte de Powers aos 45 anos em 1º de dezembro de 2024, usuários norte-americanos no X começaram a afirmar que seu câncer teria sido provocado pelas vacinas contra a covid-19 (1, 2).
Kelly Powers, cirurgiã e comentarista de saúde em programas da Fox News, foi diagnosticada com um glioblastoma em julho de 2020, de acordo com uma postagem sua no Instagram. Glioblastomas são tumores de crescimento rápido, com uma taxa de sobrevivência relativa em cinco anos de 5.6% para adultos com mais de 40 anos.
Mas, em julho de 2020, ainda não havia doses de vacina contra a covid-19 disponíveis nos Estados Unidos.
Apesar de ter realizado três cirurgias cerebrais e múltiplos tratamentos, Powers afirmou em um post no Instagram em 23 de fevereiro de 2024 que o câncer tinha retornado.
As publicações sobre sua morte reforçam uma tendência antivacinação, marcada pela associação de doses contra a covid-19 ao suposto “câncer turbo” - termo que não é usado por oncologistas, mas comumente utilizado por críticos das vacinas contra o coronavírus.
Essa alegação também é falsa. As evidências atuais mostram que não existe relação entre os imunizantes contra a covid-19 e tipos agressivos de câncer. Agências de saúde pública em todo o mundo afirmam que as doses são seguras e eficazes em prevenir doenças graves e em salvar milhões de vidas.
Sem evidências
O Memorial Sloan Kettering Cancer Center, com sede nos Estados Unidos, classificou como “mito” a alegação de que a vacina contra a covid-19 cause câncer.
As vacinas contra a covid-19 “não podem causar câncer”, diz em seu site oficial. “Não é verdade que a vacina contra a covid-19 possa de alguma forma inativar os genes que suprimem os tumores”. A posição é corroborada pelo Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos e pela Sociedade Americana de Câncer.
David Gorski, oncologista cirúrgico da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Wayne, nos Estados Unidos, escreveu em seu blog Science-Based Medicine que as evidências disponíveis não mostram que as vacinas de mRNA causam “câncer turbo”.
“Oncologistas não o reconhecem como um fenômeno, nem biólogos do câncer, e se você procurar por isso na PubMed, não encontrará referências”, afirmou Gorski em 2022.
À AFP, especialistas já disseram anteriormente que os atrasos em exames e a falta de cuidados preventivos durante a pandemia estão entre os fatores que explicam o aumento de diagnósticos e mortes por câncer.
O AFP Checamos já verificou outras alegações sobre o chamado “câncer turbo”.
Referências
- Comunicado sobre o início da vacinação contra a covid-19 nos EUA
- Comunicados de agências de saúde pública sobre as vacinas contra a covid-19 (1, 2, 3, 4)
- Publicação do Memorial Sloan Kettering Cancer Center
- Publicação do Instituto Nacional do Câncer dos EUA
- Publicação da Sociedade Americana do Câncer
- Texto no blog Science-Based Medicine