É falso que Simone Tebet tenha feito este discurso pessimista sobre o governo Lula em dezembro de 2024

  • Publicado em 16 de dezembro de 2024 às 21:02
  • 4 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Um vídeo em que a atual ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, faz um discurso “pessimista” sobre o futuro do Brasil não é recente, e nem relacionado ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao contrário do que alegam publicações visualizadas mais de 5 mil vezes nas redes sociais desde 10 de dezembro de 2024. A gravação viralizada é de maio de 2016, quando Tebet ainda era senadora e discutia a admissibilidade do impeachment da então presidente Dilma Rousseff.

“A própria ministra está pessimista demais para 2025, se prepare que o GROSSO vai chegar, o IVA (imposto sobre valor agregado) vai começar com 27,5% em tudo que você consome, inclusive todos os tipos de serviços. É só o começo…”, diz uma das publicações compartilhadas no X.

O conteúdo também circula no Facebook, no Instagram, no Gettr, no Telegram e no TikTok.

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Captura de tela feita em 13 de dezembro de 2024 de uma publicação no X (.)

Na sequência viral, Simone Tebet fala em um púlpito com uma bandeira do Brasil ao fundo: “Ocupo esta tribuna hoje com a consciência da responsabilidade que pesa sobre os meus ombros, com a consciência da responsabilidade que pesa sobre os ombros de cada um dos senhores e das senhoras. E, por isso mesmo, ocupo esta tribuna com a coragem e com o equilíbrio que o momento exige”.

“Não há como exagerar a gravidade da situação brasileira. Vivemos um dos mais difíceis, talvez até perigosos e sensíveis momentos da história deste país. O Brasil, senhoras e senhores, não está parando. O Brasil está parado”, continua.

Sobrepostos ao vídeo estão os dizeres “Ministra do lule” e a data de “05/12/24”.

Mas o discurso da ministra não é atual.

Vídeo de 2016

Uma busca reversa no Google por fragmentos da filmagem, especificamente pela imagem de Tebet, conduziu ao conteúdo original, publicado no canal da TV Senado no YouTube em 11 de maio de 2016. Sob o título de “Simone Tebet reafirma seu voto pela admissibilidade do processo de impeachment”, a gravação completa tem cerca de 13 minutos.

Na descrição, é indicado que o discurso foi feito no Senado Federal no mesmo dia 11, quando era discutida a destituição da então presidente, Dilma Rousseff. A fala de Tebet também foi registrada na página de notícias do Senado.

À época, Simone Tebet era senadora do MDB pelo Mato Grosso do Sul. Em dezembro de 2016, na ocasião do julgamento de Dilma, a então senadora reiterou seu voto a favor do impeachment.

Dados antigos

Os números acerca da economia do país citados por Tebet no discurso também demonstram que a fala é datada.

Aos 45 segundos da sequência viral, ela afirma: “Vivemos numa paralisia econômica. O PIB por dois anos consecutivos negativo fechará este ano em -3,8%. A inflação em novembro do ano passado fechou em 10% no acumulado dos últimos 12 meses”.

“O significado de tudo isso foi uma taxa de desemprego recorde passando os 10%. São mais de 11 milhões de brasileiros na fila do desemprego. Poderíamos continuar com a taxa de juros — uma das maiores do mundo, na ordem de 14,25% — que desanima qualquer um a investir no país”, continua.

No entanto, conforme a projeção do relatório Focus, divulgada em 16 de dezembro de 2024, é esperado que o PIB do Brasil cresça 3,42% nesse ano. As expectativas para 2025 e 2026 são de crescimento de cerca de 2%. Em 2023, o resultado também foi positivo: o PIB cresceu 2,9%.

Já em relação à inflação, o acumulado de 12 meses em novembro de 2024 atingiu 4,87%, com previsões de que o índice feche o ano em 4,89%. Em novembro de 2023, a inflação acumulou uma alta de 4,68% nos 12 meses anteriores.

Os dados relativos ao desemprego também estão obsoletos: no trimestre finalizado em outubro de 2024, o índice de desemprego chegou a 6,2% — o menor da série histórica iniciada em 2012 —, correspondendo a 6,8 milhões de desempregados.

Por fim, segundo estimativas do mercado financeiro, a taxa de juros do país em dezembro de 2024 pode atingir 12% ao ano, e superar os 14% em 2025.

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