Reportagem do SPTV de 2018 sobre morte após vacina de febre amarela circula fora de contexto
- Publicado em 20 de setembro de 2024 às 16:07
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- Por AFP Brasil
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“Agora que Bolsonaro não é mais o Presidente, a vacina mata...E quem está dizendo isso é a Globo! Acho interessante é a cara de pau desses jornalistas canalhas!!!”, diz a legenda de publicações no Facebook, no Instagram, no Threads, no Telegram e no Kwai.
A alegação é compartilhada junto a um vídeo em que o jornalista Cesar Tralli diz: “Gente, é importante lembrar o seguinte: a vacina tem sim contra indicações, tem riscos à saúde. O secretário Municipal da Saúde aqui de São Paulo, Wilson Pollara, me confirmou agora há pouco por telefone que duas pessoas já morreram aqui em São Paulo depois de tomar a vacina: um homem e uma mulher”.
Sobreposta à gravação lê-se: “Vacinas (a verdade proibida)”. Na parte inferior do vídeo, também podem ser vistos os dizeres, supostamente exibidos como o descritivo da reportagem: “Vacinas matam” e “2 pessoas morreram depois de tomar a vacina aqui na Capital”.
Em um dos trechos da gravação, observa-se o logo do programa “SP 1”, transmitido pela Rede Globo.
Uma busca por palavras-chave no Google mostrou que o vídeo viral é o fragmento de uma reportagem veiculada pelo canal em 19 de janeiro de 2018.
Na época, o Ministério da Saúde, em conjunto com os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, havia iniciado uma campanha de vacinação contra a febre amarela, em uma tentativa de evitar o surto da doença ocorrido no ano anterior.
Naquele momento, Michel Temer (MDB) era o presidente do Brasil. Portanto, o reconhecimento dos efeitos colaterais de imunizantes já era noticiado antes do governo Bolsonaro.
Reportagem editada
Além disso, em nenhum momento da reportagem o jornalista afirma que “vacinas matam”, como indicam as publicações virais.
Ao assistir à íntegra da matéria, vê-se que o jornalista informa, sim, sobre as mortes relatadas após a vacinação, mas também adverte que “só deve tomar essa vacina contra a febre amarela quem for viajar ou mora em área de risco”. Esse trecho é omitido no conteúdo viral e não é exibida a explicação sobre o imunizante ao qual o jornalista se referia.
Uma comparação entre a sequência viral e o vídeo original também permite observar que a tarja descritiva da reportagem foi manipulada: as palavras “febre amarela” foram substituídas por “vacinas matam”:
Em março de 2018, pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) descartaram que uma das mortes investigadas na época teria ocorrido devido a uma reação adversa à vacina da febre amarela. Os pesquisadores constataram que a paciente havia sido infectada pelo vírus dias antes de ser imunizada e veio a óbito antes que a proteção tivesse tido tempo de fazer efeito.
Em 22 de fevereiro de 2018, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) destacou em seu boletim que a “vacina contra febre amarela é raramente associada a eventos graves” e que as reações mais comuns incluem dor de cabeça e no corpo.
De acordo com a bula do produto, publicada pela mesma fundação, os “eventos muito raros” incluem reações de hipersensibilidade, reações anafiláticas, doença neurológica e doença viscerotrópica — com “maior risco de tais eventos graves em pessoas idosas”.