Tablets em depósito visitado por vereador de Niterói não são compras de Bolsonaro escondidas pelo PT

  • Publicado em 20 de setembro de 2024 às 18:42
  • 3 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Um vídeo em que o vereador de Niterói Douglas Gomes (PL) mostra equipamentos escolares da rede municipal armazenados em um depósito da Prefeitura circula em publicações que alegam que os aparelhos teriam sido comprados pela gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e escondidos pelo PT. A afirmação é compartilhada em conteúdos que somam mais de 18 mil interações desde 28 de agosto. Mas a gravação, de maio de 2024, exibe dispositivos adquiridos em 2022 pela administração local, comandada por Axel Grael (PDT), sem intervenção do governo federal.

“Descobriram o esconderijo dos materiais escolares que Bolsonaro havia comprado para distribuição nas escolas. A intenção é manter a educação do brasileiro na pior condição!”, afirma uma das publicações compartilhadas no Facebook, no Instagram, no Threads, no Kwai e no X*. Alguns dos vídeos também apresentam os dizeres “VOTAR NO PT É APOIAR O CRIME”.

O conteúdo também foi enviado ao WhatsApp do AFP Checamos, para onde os usuários podem encaminhar mensagens vistas em redes sociais, se duvidarem da sua veracidade.

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Captura de tela feita em 18 de setembro de 2024 de uma publicação no Facebook (.)

Na sequência viral, um homem de camisa, gravata e colete abre caixas de papelão depositadas em uma sala e indica: “5.011 tablets aqui”. Ao longo do vídeo, em diferentes galpões, o homem, que se identifica como “vereador Douglas Gomes”, mostra carteiras escolares empilhadas e caixas com sapatos, mochilas, aparelhos de ar-condicionado, kits escolares e equipamentos eletrônicos.

No entanto, ao contrário do que indicam as publicações, os materiais não foram adquiridos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2022 e posteriormente “escondidos” pelo Partido dos Trabalhadores (PT).

Materiais escolares de Niterói

Uma pesquisa no Google pelo nome de “Douglas Gomes” levou ao perfil no Instagram do vereador de Niterói, no Rio de Janeiro. O vídeo viralizado aparece no primeiro post da conta de Gomes, publicado em 24 de maio de 2024 e fixado em seu perfil.

Na legenda da publicação, ele indica: “NÃO VÃO ME PARAR! Enviados da prefeitura tentaram barrar minha fiscalização no depósito da Fundação Municipal de Educação. Não conseguiram e não vão conseguir! Nos ouvindo, talvez errem menos. Já estou programando a próxima fiscalização. Aguardem!”.

Uma nova busca, dessa vez pelas palavras-chave “Douglas Gomes”, “materiais escolares” e “Niterói”, conduziu a uma matéria do portal g1 de 24 de maio de 2024. Segundo a reportagem, em 2022 a Prefeitura de Niterói — e não o governo federal —, liderada por Axel Grael (PDT), teria adquirido mais de 5 mil tablets para alunos da rede municipal de ensino por R$ 6 milhões.

A compra, parte do projeto de Adequação Tecnológica da Rede Escolar, da Fundação Municipal de Educação (FME), foi considerada suspeita e embargada pelo Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) após o recebimento dos materiais, no mesmo ano.

Porém, no início de 2023, o órgão autorizou (1, 2) a Prefeitura a distribuir os tablets para os alunos — o que não ocorreu.

Na matéria de maio de 2024, mais de um ano após a autorização, o município declarou que, após realizar procedimentos determinados pelo TCE, como instalação de fibra ótica nas escolas e treinamento dos docentes, os aparelhos seriam distribuídos “na volta das férias escolares”.

Consultada pelo AFP Checamos em 17 de setembro de 2024, a assessoria de comunicação da Prefeitura de Niterói confirmou que “os equipamentos foram comprados pela Prefeitura”, e que “não é verdade que os tablets mencionados tenham sido comprados pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro”.

O órgão acrescentou que, “por orientação da Procuradoria Geral do Município, [os tablets] só poderão ser entregues na rede de ensino ao fim das eleições — em cumprimento à Lei 9504, artigo 73, que veda a distribuição gratuita de bens em ano eleitoral”, reafirmando que a entrega dos equipamentos deve ocorrer “devidamente após o período eleitoral”.

Referências

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