Publicações associam falsamente Bill Gates a empresa que produzia leite à base de insetos

O empresário e bilionário norte-americano Bill Gates não investiu na produção do chamado EntoMilk, um tipo de leite à base de insetos, como afirmam usuários nas redes sociais. Publicações com essa alegação foram compartilhadas dezenas de vezes desde 15 de julho de 2024 afirmando que o filantropo teria a intenção de criar uma “alternativa aos laticínios”. Mas a empresa sul-africana que fabricava o produto está inativa desde 2021 e não tinha relação com o magnata.

“BILL GATES ORDENA QUE O GOVERNO SUBSTITUA O LEITE DE VACA POR ‘LEITE CREMOSO DE LARVA’. O eugenista bilionário Bill Gates ordenou que governos do mundo todo eliminem gradualmente o uso de leite de vaca em favor do leite de larva. Gates anunciou o novo produto ‘alternativo aos laticínios’ chamado ‘EntoMilk’”, diz uma das publicações que circulam no Facebook, no Telegram, no Instagram e no X.

Publicações semelhantes circulam em inglês, alemão e espanhol.

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Captura de tela feita em 20 de agosto de 2024 de uma publicação no Facebook (.)

O conteúdo é acompanhado por uma matéria do portal Planeta Prisão, que, por sua vez, diz reproduzir um conteúdo do site norte-americano Natural News, publicado em 7 de julho de 2024. 

Algumas publicações (1, 2) compartilham, ainda, um vídeo de como seria feito o EntoMilk — um tipo de leite fabricado a partir de insetos.

Uma busca reversa por fragmentos dessa sequência indicou que o conteúdo original, com imagens do modo de preparo do “EntoMilk”, foi publicado no YouTube em 21 de setembro de 2018.

Start-up sul-africana com produtos à base de insetos

Por meio de uma busca por palavras-chave no Google, a AFP identificou que o EntoMilk era produzido pela Gourmet Grubb, uma extinta start-up sul-africana especializada em produtos à base de insetos.

Uma consulta pelo nome da empresa no Wayback Machine — plataforma que permite arquivar páginas da internet — trouxe mais informações sobre o EntoMilk, um produto alternativo aos laticínios feito a partir de um tipo de mosca. A página menciona Gates, mas não afirma que o bilionário teria investido no projeto.

“Richard Branson, Bill Gates e Arielle Zuckerberg investiram em start-ups com projetos baseados em insetos em um passado recente e várias espécies de insetos comestíveis foram popularizadas como potenciais superalimentos”, diz um comunicado na página arquivada em dezembro de 2020.

“Como muitas iguarias modernas, é só uma questão de tempo até o mundo ocidental adotar as novas, mais saudáveis e mais sustentáveis formas de proteínas alternativas aos laticínios”, complementa o comunicado.

Uma pesquisa no site oficial da Fundação Bill & Melinda Gates pelos termos “Gourmet Grubb” e “EntoMilk” não levou a nenhum resultado. A AFP também não encontrou evidências de que o empresário norte-americano tenha investido em start-ups que fabricassem bebidas à base de insetos.

A Gates Venture, empresa de capital de risco que inclui sua equipe pessoal e portfólio de investimento em tecnologia, disse à AFP em 10 de julho de 2024 que as publicações que a associam ao EntoMilk são falsas.

A gravação que acompanha algumas publicações virais mostra uma mulher chamada Leah Bessa. Consultada pela AFP em 20 de agosto de 2024, a fundadora da Gourmet Grubb, disse que a empresa não recebeu financiamento de Bill Gates. Em seu perfil no LinkedIn é possível ver que a empresa esteve em atividade de 2017 a 2021.

O bilionário norte-americano, porém, já investiu em empresas que produzem alternativas aos lacticínios à base de plantas, como a BIOMILQ e a Ripple Foods. Devido a esses investimentos no setor, Gates costuma ser alvo de teorias da conspiração sobre métodos alimentares.

A agência de Medicamentos e Alimentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) disse à AFP em 11 de julho de 2024 que produtos podem utilizar insetos em seus ingredientes, mas devem cumprir a Lei Federal de Alimentos, Medicamentos e Cosméticos, além de outras regulamentações.

Referências

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