Não há evidências de que as vacinas de RNA contra a covid-19 estejam "contaminadas com DNA"

Os cientistas têm refutado repetidamente a alegação de que as vacinas contra a covid-19 podem alterar o genoma de uma pessoa, mas publicações visualizadas mais de 2.500 vezes nas redes sociais desde setembro de 2023, e que voltaram a ser compartilhadas em 2024, afirmam que os imunizantes estão “contaminados” com DNA e que isso poderia provocar parada cardíaca ou câncer. Mas isso é falso. Não há evidências da existência de quantidades significativas de material genético nas vacinas e, mesmo que houvesse, especialistas explicaram à AFP que isso não poderia alterar as células.

“A vacina da Pfizer está contaminada com DNA plasmídico, não é apenas mRNA, contém pedaços de DNA”, diz a legenda de publicações no Facebook, no Instagram, no Kwai, no Telegram e no X.

As mensagens são compartilhadas junto com um vídeo do biólogo Phillip Buckhaults, da Universidade da Carolina do Sul, discursando durante um painel que ele ministrou em 13 de setembro de 2023 perante o Comitê Ad-Hoc de Assuntos Médicos do Senado da Carolina do Sul sobre vacinas de RNA mensageiro (mRNA) contra a covid-19.

Na sequência, Buckhaults afirma que as vacinas contêm vestígios de DNA que podem causar efeitos colaterais raros, como “morte por parada cardíaca”.

O conteúdo circula em espanhol e também há registros em inglês em setembro de 2023.

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Captura de tela feita em 15 de agosto de 2024 de uma publicação no X (.)

Conteúdo desmentido

Em sua apresentação completa diante do Senado da Carolina do Sul, Buckhaults não citou nenhuma pesquisa que sustentasse as suas afirmações e se limitou a mostrar supostas análises realizadas em seu laboratório. Ele também fez referência a um artigo preprint que foi desmentido pela organização de verificação de fatos Health Feedback em junho de 2023. 

Após a sua explanação, Buckhaults explicou seus comentários sobre a vacina em uma publicação no X em 23 de setembro 2023, na qual confirmou que havia DNA nos imunizantes, mas que o risco era teórico. 

“Essas vacinas salvaram muitas vidas, muitas mais do que as pessoas que tiveram problemas médicos após a vacinação. Portanto, no geral, essas vacinas foram um sucesso”, acrescentou. 

Perguntado sobre as alegações de contaminação das vacinas por DNA, o virologista da Universidade de Michigan Michael Imperiale disse à AFP que elas não têm fundamento.

As regulamentações dos Estados Unidos exigem a realização de testes desses medicamentos e Imperiale apontou que qualquer lote com ingredientes inaceitáveis teria sido retirado de circulação.

A AFP já verificou outras alegações sobre a covid-19, incluindo que os imunizantes causariam câncer ou alterariam o genoma.

Segurança das vacinas

As vacinas de mRNA produzidas pela Pfizer e pela Moderna diferem dos imunizantes tradicionais porque contêm instruções para as células produzirem proteínas do coronavírus e, assim, gerarem uma resposta imunológica.

O Ministério da Saúde do Canadá já havia declarado à AFP que “as vacinas de mRNA contra a covid-19 não incluem DNA como parte de seus ingredientes”.

“O mRNA nunca entra na parte central (núcleo) da célula, que é onde está localizado o nosso DNA (material genético), e o DNA das células não pode ser alterado pelas vacinas de mRNA”, disse o departamento em julho de 2023.

Imperiale acrescentou que, para afetar o genoma de uma pessoa, os contaminantes teriam que entrar nas “células em divisão”, e não nas células musculares ou da pele onde as vacinas são aplicadas.

“Para causar câncer, o DNA teria que ser incorporado ao genoma de uma maneira que se saiba estar implicada no câncer e ativar o gene. Não há forma de fazer isso”, acrescentou o virologista da Universidade de Michigan.

David Gorski, professor de cirurgia e oncologia na Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Wayne, nos Estados Unidos, também disse em uma publicação em seu blog de setembro de 2023 que as alegações de Buckhaults sobre possíveis danos genéticos são infundadas.

Gorski indicou que o processo pelo qual o DNA é inserido no genoma e introduz mutações só pode levar ao câncer “se a mutação ativar ou aumentar a expressão de oncogenes (genes que causam câncer) ou inativar genes supressores de tumores”.

“Não há nenhuma evidência ou plausibilidade biológica que ligue quantidades minúsculas de pequenos fragmentos de DNA com uma parada cardíaca ou mortes súbitas”, escreveu.

Monitoramento da FDA

A agência de Medicamentos e Alimentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês), assim como os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), respaldam a segurança e a eficácia das vacinas.

Os CDC indicam que a vacinação contra a covid-19 foi realizada sob o monitoramento de segurança mais rigoroso da história do país e que é raro que reações adversas sejam notificadas após a vacinação.

Referências

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