Não há evidências de que as vacinas de RNA contra a covid-19 estejam "contaminadas com DNA"
- Publicado em 20 de agosto de 2024 às 21:18
- 4 minutos de leitura
- Por Rob LEVER, AFP Estados Unidos, AFP França
- Tradução e adaptação Carla DIAZ , AFP Brasil
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“A vacina da Pfizer está contaminada com DNA plasmídico, não é apenas mRNA, contém pedaços de DNA”, diz a legenda de publicações no Facebook, no Instagram, no Kwai, no Telegram e no X.
As mensagens são compartilhadas junto com um vídeo do biólogo Phillip Buckhaults, da Universidade da Carolina do Sul, discursando durante um painel que ele ministrou em 13 de setembro de 2023 perante o Comitê Ad-Hoc de Assuntos Médicos do Senado da Carolina do Sul sobre vacinas de RNA mensageiro (mRNA) contra a covid-19.
Na sequência, Buckhaults afirma que as vacinas contêm vestígios de DNA que podem causar efeitos colaterais raros, como “morte por parada cardíaca”.
O conteúdo circula em espanhol e também há registros em inglês em setembro de 2023.
Conteúdo desmentido
Em sua apresentação completa diante do Senado da Carolina do Sul, Buckhaults não citou nenhuma pesquisa que sustentasse as suas afirmações e se limitou a mostrar supostas análises realizadas em seu laboratório. Ele também fez referência a um artigo preprint que foi desmentido pela organização de verificação de fatos Health Feedback em junho de 2023.
Após a sua explanação, Buckhaults explicou seus comentários sobre a vacina em uma publicação no X em 23 de setembro 2023, na qual confirmou que havia DNA nos imunizantes, mas que o risco era teórico.
“Essas vacinas salvaram muitas vidas, muitas mais do que as pessoas que tiveram problemas médicos após a vacinação. Portanto, no geral, essas vacinas foram um sucesso”, acrescentou.
Perguntado sobre as alegações de contaminação das vacinas por DNA, o virologista da Universidade de Michigan Michael Imperiale disse à AFP que elas não têm fundamento.
As regulamentações dos Estados Unidos exigem a realização de testes desses medicamentos e Imperiale apontou que qualquer lote com ingredientes inaceitáveis teria sido retirado de circulação.
A AFP já verificou outras alegações sobre a covid-19, incluindo que os imunizantes causariam câncer ou alterariam o genoma.
Segurança das vacinas
As vacinas de mRNA produzidas pela Pfizer e pela Moderna diferem dos imunizantes tradicionais porque contêm instruções para as células produzirem proteínas do coronavírus e, assim, gerarem uma resposta imunológica.
O Ministério da Saúde do Canadá já havia declarado à AFP que “as vacinas de mRNA contra a covid-19 não incluem DNA como parte de seus ingredientes”.
“O mRNA nunca entra na parte central (núcleo) da célula, que é onde está localizado o nosso DNA (material genético), e o DNA das células não pode ser alterado pelas vacinas de mRNA”, disse o departamento em julho de 2023.
Imperiale acrescentou que, para afetar o genoma de uma pessoa, os contaminantes teriam que entrar nas “células em divisão”, e não nas células musculares ou da pele onde as vacinas são aplicadas.
“Para causar câncer, o DNA teria que ser incorporado ao genoma de uma maneira que se saiba estar implicada no câncer e ativar o gene. Não há forma de fazer isso”, acrescentou o virologista da Universidade de Michigan.
David Gorski, professor de cirurgia e oncologia na Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Wayne, nos Estados Unidos, também disse em uma publicação em seu blog de setembro de 2023 que as alegações de Buckhaults sobre possíveis danos genéticos são infundadas.
Gorski indicou que o processo pelo qual o DNA é inserido no genoma e introduz mutações só pode levar ao câncer “se a mutação ativar ou aumentar a expressão de oncogenes (genes que causam câncer) ou inativar genes supressores de tumores”.
“Não há nenhuma evidência ou plausibilidade biológica que ligue quantidades minúsculas de pequenos fragmentos de DNA com uma parada cardíaca ou mortes súbitas”, escreveu.
Monitoramento da FDA
A agência de Medicamentos e Alimentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês), assim como os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), respaldam a segurança e a eficácia das vacinas.
Os CDC indicam que a vacinação contra a covid-19 foi realizada sob o monitoramento de segurança mais rigoroso da história do país e que é raro que reações adversas sejam notificadas após a vacinação.
Referências
- Artigo sobre a presença de DNA em vacinas
- Publicação de Phillip Buckhaults no X
- Publicação no blog de David Gorski em setembro de 2023
- Referências da FDA e dos CDC sobre a vacina contra a covid-19