Dose de vacina contra a covid-19 é preparada antes de ser aplicada em centro de imunização em Londres, em 26 de dezembro de 2021 ( AFP / NIKLAS HALLE'N)

Indenização do governo do Reino Unido para efeitos colaterais de vacinas existe desde 1979

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  • Publicado em 24 de julho de 2023 às 17:50
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  • Por AFP Brasil
Um programa do Reino Unido, em vigor desde 1979, oferece indenização de 120 mil libras por danos causados por vacinas. Em vídeo visualizado mais de 10 mil vezes desde 12 de julho de 2023, um deputado estadual menciona o projeto para questionar a segurança dos imunizantes contra a covid-19. Mas, o programa indeniza pessoas que tiveram efeitos colaterais raros relacionados a quase 20 vacinas para diferentes doenças. O político também sugere que os imunizantes são ineficazes citando dados de óbitos. Mas especialistas explicaram à AFP que esses números podem enganar sem o contexto adequado.

“MORTOS PELA VACINA, INDENIZAÇÃO E A IMPRENSA BRASILEIRA CALADINHA” diz a legenda de publicações no Facebook, no Twitter, no Instagram, no Telegram e no Kwai.

O conteúdo também foi encaminhado para o WhatsApp do AFP Checamos, para onde leitores podem enviar sugestões de temas para serem checados.

A alegação é acompanhada de um vídeo em que o deputado estadual Cristiano Caporezzo (PL) segura um documento atribuído ao governo do Reino Unido e pede às pessoas que pesquisem sobre o “Vaccine Damage Payment” e ele afirma que mostra o “pagamento pelos danos gerados pela vacina”.

E continua: “O governo do Reino Unido está pagando 120 mil libras, que equivale a R$ 750 mil para as pessoas que morreram em decorrência da vacina ou que tiveram algum dano em decorrência dela”.

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Captura de tela feita em 20 de julho de 2023 de uma publicação no Twitter ( .)

O programa “Vaccine Damage Payment” (“Pagamento por danos causados por vacina”, em tradução livre do inglês), citado no conteúdo viral, não é recente e existe desde 1979.

O projeto oferece uma indenização de 120 mil libras para pessoas ou familiares de pessoas que ficaram gravemente incapacitadas ou com alguma deficiência causada por quase 20 vacinas, entre elas as que combatem a covid-19, a difteria, o sarampo, a poliomielite e a rubéola, por exemplo.

Segundo dados de julho de 2023 divulgados pelo Departamento de Saúde e Proteção Social do Reino Unido, 119 pessoas estavam aptas a receber a indenização em decorrência de efeitos colaterais raros das vacinas contra a covid-19. Ao todo, foram 6.183 notificações, dentre as quais 1.982 foram rejeitadas e outras 137 não atenderam aos critérios de avaliação médica.

Isso em uma nação onde mais de 50 milhões de pessoas completaram o protocolo inicial de imunização contra a covid-19 até setembro de 2022.

Dados do departamento de saúde também deixam claro que o programa não é apenas para efeitos colaterais relacionados aos imunizantes contra a covid-19, tendo concedido ao menos 964 indenizações entre janeiro de 1978 e dezembro de 2020, antes do início da vacinação contra o coronavírus na região.

Mortes no Reino Unido e no Brasil

Na gravação, o deputado menciona outras afirmações enganosas sobre vacinas contra a covid-19, verificadas anteriormente pelo Checamos.

Caporezzo sugere, por exemplo, que o número maior de mortes por covid-19 em 2021, quando comparado com 2020, demonstraria a ineficácia dos imunizantes – o que não é verdade. À AFP especialistas explicaram que esses dados refletem fatores como o surgimento de novas variantes do vírus, a maior circulação de pessoas e o ritmo lento na vacinação.

Em outro momento do vídeo, o deputado afirma: “Sabe o que se falou aqui no site do governo britânico? Que morreu mais gente vacinada por covid do que não”.

A fala parece ser uma referência a um conteúdo que circulou nas redes em março de 2022 afirmando que um relatório do governo britânico teria indicado que pessoas totalmente vacinadas representavam 9 em cada 10 mortes por covid-19 na Inglaterra no momento.

Mas, como explicado pelo AFP Checamos na época, a alegação enganava ao analisar dados brutos sem contexto, uma vez que grande parte da população britânica já havia sido vacinada.

“No contexto de uma cobertura vacinal muita alta na população, mesmo com uma vacina altamente efetiva, é esperado que uma grande proporção de casos, hospitalizações e mortes ocorra em indivíduos vacinados, simplesmente porque uma proporção maior da população está vacinada, em vez de não vacinada, e nenhuma vacina é 100% efetiva”, explicava o documento britânico.

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