Bill Gates não encerrou entrevista ao ser questionado sobre vacinas; vídeo foi manipulado

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  • Publicado em 14 de março de 2023 às 19:33
  • Atualizado em 29 de abril de 2024 às 20:59
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  • Por AFP Brasil
O fundador da Microsoft, Bill Gates, não encerrou uma entrevista abruptamente após ser questionado sobre a suposta ineficácia de vacinas contra a covid-19, ao contrário do que mostra um vídeo compartilhado mais de 2 mil vezes nas redes sociais desde 9 de março de 2023. Vários detalhes indicam que a sequência viralizada foi produto de uma manipulação com ferramentas de inteligência artificial . Além disso, nenhuma das falas compartilhadas nas redes  aparece na entrevista original com o empresário, que se tornou grande porta-voz das vacinas durante a pandemia.

“Interessante entrevista do Bill Gates, o magnata”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook, Twitter e Instagram.

O material, também encaminhado ao WhatsApp do AFP Checamos, parece mostrar como o empresário ficou constrangido ao ouvir perguntas de uma jornalista sobre o início da Microsoft e seu papel na divulgação de vacinas contra a covid-19.

Nas imagens compartilhadas nas redes, uma jornalista parece perguntar ao empresário como ele se sente “agora que está ficando cada vez mais evidente” que as vacinas que ele promoveu, “após ter investido pesadamente, lucrando bilhões”, causaram “incontáveis danos, efeitos colaterais e mortes”. Em resposta, Gates teria pedido para encerrar a entrevista.

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Captura de tela feita em 10 de março de 2023 de uma publicação feita no Twitter (.)

O vídeo, de 1 minuto e 40 segundos, também circulou em espanhol, em inglês e em romeno

No entanto, o fato de a imagem ter baixa qualidade e de o movimento dos lábios da jornalista e de Gates não coincidirem com suas falas geraram suspeita sobre a veracidade do conteúdo.

Entrevista cordial

Por isso, a equipe de verificação digital da AFP conduziu uma busca pelas palavras-chave “Bill Gates” e “7.30” –  o logo que aparece no canto superior direito da tela –, para encontrar o vídeo original do programa. A pesquisa demonstrou que as imagens viralizadas foram retiradas de uma entrevista exibida pela ABC News Austrália em 31 de janeiro de 2023. 

Ao assistir a emissão na íntegra é possível constatar que o diálogo relatado nas publicações virais não existiu. 

No conteúdo viralizado a apresentadora supostamente inicia a entrevista perguntando em inglês: “Sr, Gates, com suas próprias palavras, de que forma o senhor contribuiu para o mundo?”. O empresário teria respondido sobre a criação do “sistema operacional de computadores mais popular”, ao que ela teria dito: “Sim, mas como todos sabemos, não foi realmente você quem o criou”.  

No entanto, esse diálogo não aparece na entrevista original, nem nenhum dos outros intercâmbios, incluído o questionamento sobre a suposta ineficácia das vacinas contra a covid-19.

Na verdade, a maior parte da conversa com a apresentadora Sarah Ferguson, que durou 13 minutos no total, girou em torno da função que a Austrália poderia assumir no combate às mudanças climáticas, do papel das redes sociais na disseminação de conteúdo falso e em como ele financiou pesquisas sobre vacinas, e inteligência artificial. 

Ao final do programa, os dois se despedem cordialmente, diferente do que é mostrado nas publicações virais.

“Gerado por inteligência artificial”

Além disso, outras buscas por palavras-chave levaram ao vídeo viralizado publicado no TikTok em 8 de março com a legenda em inglês: “O quão  perigosa a IA [inteligência artificial] pode ser”, e a tarja “AI generated”, ou “gerado por IA”, em tradução livre. 

Quando usadas com esse intuito, técnicas de inteligência artificial podem modificar rostos e vozes fazendo com que pessoas pareçam ter dito frases que nunca pronunciaram. “É um conteúdo falso, mas totalmente realístico, como a voz e o rosto de uma pessoa”, resumiu à AFP Bruno Sartori, jornalista e especialista em deepfakes.

Para Sartori, o vídeo que circula nas redes foi fruto de manipulação com inteligência artificial. Alguns elementos permitem chegar a essa conclusão, listou: “A baixa qualidade, para esconder imperfeições, e os movimentos labiais não estão devidamente sincronizados com as falas em determinados trechos”

O AFP Checamos já fez outras verificações sobre Bill Gates (1, 2) e o uso de inteligência artificial (1, 2) na disseminação de conteúdo falso. 

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