Vídeo do Jornal Nacional foi adulterado para mostrar Jair Bolsonaro à frente em pesquisa Ipec
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- Publicado em 20 de setembro de 2022 às 00:10
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- Por AFP Brasil
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“EM NOVA DE PESQUISA BOLSONARO GANHA NO 1º E NO 2º TURNO”, diz um dos usuários ao compartilhar a sequência viral que circula no Facebook (1, 2), Twitter (1, 2) e Kwai. O conteúdo também foi enviado ao Whatsapp do AFP Checamos para verificação.
A sequência de quase 3 minutos se inicia com William Bonner anunciando que o instituto Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec) divulgou uma nova pesquisa contratada pela TV Globo sobre as intenções de voto para as eleições presidenciais. Em seguida, Bonner parece dizer: “A disputa segue estável. Jair Bolsonaro tem 46% e Lula tem 31% das intenções de voto”.
Nesse momento, surge um gráfico que aparentemente mostra como Bolsonaro tinha 44% das intenções de voto em uma pesquisa anterior e Lula, 32%.
No retorno para o estúdio, Renata Vasconcellos anuncia as intenções de voto supostamente estimadas para um segundo turno entre Lula e Bolsonaro: 53% para Bolsonaro e 36% para Lula.
O vídeo segue apresentando outros dados que teriam sido apurados no que era o levantamento mais recente do Ipec até então: a quantidade de pessoas que avalia a administração de Bolsonaro como “ótima ou boa” (45%) e aqueles que aprovam “a maneira como Jair Bolsonaro governa o país” (59%).
No entanto, nenhum desses números corresponde ao que foi divulgado pelo Ipec em 12 de setembro.
Nomes trocados
Diferentemente do que os usuários dizem, quem estava na frente na pesquisa era o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O áudio dos apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos, assim como os gráficos que mostram os percentuais da pesquisa, foram manipulados para inverter as porcentagens.
O nome de Bolsonaro e Lula foram recortados e trocados. No vídeo viral, quando um dos apresentadores mostra os números de Bolsonaro, na verdade, são os números de Lula que estão sendo divulgados.
Uma busca pelas palavras-chaves “Pesquisa IPEC”, “12 de setembro” e “Jornal Nacional” permitiu encontrar o vídeo original no site do Jornal Nacional e no Globoplay.
Abaixo, uma comparação entre a publicação viralizada e o gráfico verdadeiro, no qual também é possível ver a porcentagem dos demais candidatos à Presidência.
de uma publicação no Facebook e do site do Jornal Nacional ( . / )
O mesmo procedimento foi realizado na pesquisa que simulava o segundo turno entre os dois candidatos. Novamente, os números de Bolsonaro e Lula foram invertidos. No vídeo original, é possível ver também a porcentagem de brancos/nulos e dos que não souberam/não responderam.
Os números também foram invertidos na pesquisa de avaliação da administração de Jair Bolsonaro.
Ao contrário do que mostra o vídeo viral, não foram 45% dos entrevistados que consideraram a administração do presidente ótima/boa, mas sim 30%. A cifra de 45% corresponde na verdade aos consultados que consideraram a gestão ruim/péssima.
De acordo com o gráfico viralizado nas redes, 59% dos ouvidos aprovam a maneira de governar do atual presidente, porém esse valor, mais uma vez, foi trocado. Na verdade, 59% desaprovam o jeito de governar de Bolsonaro, enquanto 35% o aprovam, como pode ser visto na arte gráfica original - 5% não souberam avaliar.
A pesquisa pode ser encontrada no site do Ipec e os dados coincidem com aqueles divulgados no vídeo verdadeiro veiculado pelo Jornal Nacional em 12 de setembro de 2022.
Procurada pelo AFP Checamos, a assessoria de imprensa do Ipec reiterou que “é falso” o vídeo que mostra o presidente Jair Bolsonaro com 46% das intenções de voto “segundo dados do Ipec e com imagens do Jornal Nacional, da TV Globo”.
“Divulgada dia 12 de setembro, a pesquisa mostra o contrário: o ex-presidente Lula lidera a disputa, com 46% das intenções de voto, seguido por Bolsonaro, com 31%. O Ipec está denunciando o vídeo no Sistema de Alerta de Desinformação Contra as Eleições do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e no Ministério Público Eleitoral (MPE) para que adotem as medidas cabíveis”, acrescentou.
O Checamos já fez outras verificações sobre a divulgação de pesquisas eleitorais (1, 2).
Este conteúdo também foi verificado pela Agência Lupa, Fato ou Fake e UOL Confere.