É montagem o tuíte atribuído à deputada Maria do Rosário sobre perdoar estupradores
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- Publicado em 15 de julho de 2022 às 23:01
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- Por AFP Brasil
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“Se algum dia eu for estuprada perdoarei o estuprador pois estupradores são pessoas frágeis e desequilibradas que precisam de apoio e carinho”, teria tuitado a deputada, segundo usuários no Facebook, Twitter e Instagram.
Ao longo de sua carreira legislativa, a deputada Maria do Rosário se envolveu em discussões intensas com o presidente Jair Bolsonaro, que em 9 de dezembro de 2014 chegou a dizer à política que nunca a estupraria, pois ela “não merecia”.
A mensagem viralizada teria sido publicada no perfil da parlamentar no Twitter em 24 de agosto de 2017.
Uma busca avançada no perfil de Maria do Rosário na rede social, entretanto, não trouxe como resultado o suposto tuíte.
Por meio das ferramentas Archive e Wayback Machine, que salvam versões arquivadas de páginas da internet, foi possível localizar registros antigos do perfil da deputada na rede social. Mas tampouco mostram que ela publicou a mensagem em agosto de 2017.
O restante do conteúdo arquivado mostra que, na época, o perfil oficial de Maria do Rosário não usava o acento agudo em “Rosário” (1, 2), diferentemente do suposto tuíte viralizado.
Outro indicativo de manipulação é a maneira como a data está escrita: “24 ago 17”. Logo abaixo da data, o suposto tweet traz ainda as informações “22 Retweets” e “18 Likes”.
O Twitter permite que o usuário escolha qual idioma de exibição a ser usado na plataforma. Dessa forma, quando o usuário seleciona que quer utilizar o português como idioma de exibição, a plataforma informa o número de curtidas que um determinado tuíte recebeu usando a palavra “Curtidas” ao lado do símbolo de coração. Caso o idioma selecionado seja o inglês, será exibida a palavra “Likes” ao lado do símbolo.
O fato de a imagem viralizada exibir a palavra “Likes”, portanto, sugere que quem fez a captura de tela viralizada usava o Twitter com o idioma de exibição em inglês. Isso significa que a data exibida deveria ser apresentada como “24 Aug 2017”, do inglês “August”, e não como “24 ago 17”.
Veja na comparação abaixo entre o tuíte viral e uma versão arquivada do perfil da deputada em agosto de 2017:
Esse tipo de conteúdo pode ser obtido por meio de montagens, acrescentando o texto sobre um fundo real, ou alterando o código HTML de uma página ou tuíte, como explicado nessa checagem da AFP.
Em 25 de agosto de 2017, a deputada negou em seu perfil oficial no Twitter a autoria da mensagem viralizada:
Sou obrigada a esclarecer+um absurdo. O texto do tuíte abaixo é fraude. Ñ penso assim é não o escrevi. É coisa da máfia propaga ódio. pic.twitter.com/wG0QsFUFFU
— Maria do Rosário (@mariadorosario) August 25, 2017
Declarações a respeito do tema
Em outras ocasiões, a parlamentar deu declarações opostas à da mensagem viralizada.
Em 2014, Maria Do Rosário tuitou que “soltar estuprador é punir a vítima”.
Já em 2018, a política negou que tenha defendido um “bandido ou estuprador”, dizendo que ela própria havia feito leis contra isso.
A deputada integrou uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) a respeito da violência sexual contra crianças e adolescentes no Brasil que deu origem à lei 12.015, de 7 de agosto de 2009. Essa legislação incluiu o abuso sexual como crime hediondo e estabeleceu pena de 8 a 15 anos de prisão para quem tiver relações sexuais com menores de 14 anos (1, 2).
Em novembro de 2020, a parlamentar publicou um vídeo em sua página oficial no Facebook comentando um caso de estupro que ganhou repercussão à época. Junto à sequência, a publicação diz: “Estupro é crime hediondo. É inaceitável qualquer decisão judicial que retroceda em relação a este conceito”.
Em 17 de março de 2022, em uma transmissão ao vivo no Facebook, após aproximadamente 4 minutos e 47 segundos, a deputada afirmou: “Eu jamais teria defendido um assassino, estuprador".
Após vir à tona um caso em que um anestesista foi preso em flagrante pelo estupro de uma paciente grávida durante sua cesariana (1, 2), a política exigiu em 11 de julho a “responsabilização imediata para o estuprador”.
A AFP já verificou outras publicações nas quais a deputada Maria do Rosário foi alvo de desinformação (1, 2, 3).
Verificação semelhante foi feita pela Agência Lupa.