Este vídeo não prova que os testes de covid-19 venham contaminados
- Este artigo tem mais de um ano
- Publicado em 15 de julho de 2022 às 19:42
- 3 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
Copyright © AFP 2017-2025. Qualquer uso comercial deste conteúdo requer uma assinatura. Clique aqui para saber mais.
“Teste de covid vindo contaminado e uma análise prova o fato”, destaca um usuário no Facebook. O conteúdo também circula no Twitter e foi enviado ao WhatsApp do AFP Checamos para verificação.
No vídeo viral, um homem exibe duas caixas: uma do teste rápido QuickVue At-Home, que não tem registro na Anvisa, e outra com um microscópio.
"Recebi de vocês um vídeo dizendo que as pessoas estão sendo vacinadas através do teste de covid. [...] Então para comprovar, para tirar a prova dos nove, eu comprei aqui um teste de covid e um microscópio", diz o homem não identificado que pega o swab do kit de testagem e um outro cotonete comum e posiciona um ao lado do outro no microscópio.
Ao comparar as imagens de ambos, ele aponta para fios negros no swab de testes e afirma que o material estaria vivo: "Se move e tem luz própria". Com base nessa imagem, ele atesta que "está comprovado que tem alguma coisa no teste de covid".
Experimento inadequado
A pedido do AFP Checamos, a biomédica Mellanie Fontes Dutra assistiu ao vídeo. Ela afirmou que "os pontos observados pelo autor do vídeo [no microscópio] não trazem relação com a vacinação contra a covid-19".
De acordo com Dutra, não é possível identificar o que são os fios pretos que aparecem na imagem, mas que eles podem ser "os próprios fios que compõem o swab num aumento maior com algum tipo de contaminação" já que o homem aparece "manuseando sem os cuidados higiênicos adequados e em local não esterilizado".
A biomédica explicou que as condições em que o experimento foi feito não foram adequadas, sendo "um ambiente não esterilizado e sujeito a vários contaminantes".
Para um conteúdo semelhante, segundo o qual as máscaras de proteção viriam com parasitas, Marina Jovanovic, especialista em Ciências Biológicas e pesquisadora associada ao Instituto de Química Geral e Física de Belgrado, explicou à AFP que, em condições reais de laboratório, o elemento a ser analisado no microscópio deve ser colocado entre ao menos duas camadas de vidro e não deve ser tocado constantemente com as mãos.
Sobre o método do experimento, Dutra acrescenta que não é possível observar a presença de nenhum vírus utilizando o tipo de microscópio que aparece nas imagens.
O Instituto Pasteur explica em seu site a história dos microscópios e, particularmente, a diferença entre os microscópios ópticos e eletrônicos: “Para observar os vírus, os cientistas tiveram que descer ao nível de nanômetro [...] e aguardar até a segunda metade do século XX e a chegada dos microscópios eletrônicos” para “observar elementos ainda menores do que aqueles visíveis com microscópios ópticos”.
Segundo a especialista, a "luz própria" à qual o narrador se refere não pode servir como uma prova da presença de um vírus, já que "os vírus não emitem luz".
Sobre a alegação de que os swabs estariam sendo usados para vacinar a população, Dutra afirmou que não existe essa tecnologia de vacinação por meio de um cotonete até o presente momento. "O mais próximo disso são as vacinas intranasais, que estão em fase de estudos para a covid-19 e que tem outro tipo de mecanismo, não envolvendo cotonetes".
Além disso, "dificilmente [um vírus] sobreviveria por tanto tempo [em um cotonete], dado que o vírus necessita estar dentro de uma célula para sobreviver".
Esta verificação foi realizada com base em informações científicas e oficiais sobre o novo coronavírus disponíveis na data desta publicação.