Este vídeo não mostra um ataque russo com um míssil Kinzhal na Ucrânia, é uma recriação digital

Desde 19 de junho de 2022, um vídeo que supostamente mostra um ataque russo com o míssil hipersônico Kinzhal em território ucraniano foi visto mais de 60 mil vezes em publicações nas redes sociais. Apesar de a Rússia ter declarado que está utilizando esse tipo de armamento no conflito, a sequência viral mostra a criação de um artista de efeitos especiais.

"O míssil russo Kinzhal, com uma velocidade de 12.000 km por hora, que é 10 vezes mais rápido que o som, foi lançado para destruir um depósito de armas ucraniano a 136 metros de profundidade. (Veja o espanto do repórter americano quando de repente viu o míssil) Parece uma mini bomba atômica. Bunker subterrâneo???Sem problema." , diz uma das publicações que circula no Facebook (1, 2), Kwai (1, 2) e Twitter.

O vídeo que supostamente prova o uso dessa arma pela Rússia mostra um projétil que atinge uma zona rural e produz uma explosão da qual surge uma enorme nuvem de fogo e de fumaça. Junto com a explosão, se escuta a voz de um homem gritando “Meu Deus”, em inglês.

Segundo as publicações virais, trata-se de um jornalista norte-americano que expressa sua “aflição” pelo que acaba de ver.

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Captura de tela feita em 29 de junho de 2022 de uma publicação no Facebook ( . / )

A sequência circula com a mesma afirmação em publicações em inglês e espanhol.

Origem da sequência

A equipe de checagem da AFP realizou uma busca reversa no Google pelos fragmentos do vídeo viral até encontrar a publicação correspondente mais antiga, no perfil do usuário Insane Patient2 no TikTok, que conta com mais de 385.000 seguidores.

Intitulado “E se a Rússia iniciar uma guerra nuclear?”, o vídeo foi publicado em 27 de fevereiro de 2022, três dias depois do começo da invasão russa na Ucrânia.

@insanepatient2

What if Russia Started Nuclear War?

♬ original sound - InsanePatient2

Nos comentários da publicação, vários usuários elogiam o realismo da cena, enquanto outros advertem que ela está sendo compartilhada como se fosse real. Há, ainda, os que dizem ao dono do canal que ele está divulgando imagens falsas.

A isso, InsanePatient2 respondeu: “A todos os descerebrados que pensam que estou tentando enganar as pessoas, literalmente as palavras ‘E se…?’ estão no título. Busquem ajuda”.

No perfil do usuário consta um link para o seu canal no YouTube, com 12.900 inscritos. Na seção “sobre”, InsanePatient2 se descreve como "VFX.. that's it” (“Efeitos especiais, nada mais”, em português).

O vídeo viral também foi publicado em seu canal na plataforma em 28 de fevereiro de 2022 com o mesmo título.

Uma análise feita pela AFP permitiu constatar que o mesmo cenário utilizado para a suposta explosão pode ser visto em outra sequência, intitulada “A Lua se choca com a Terra!”. Ela foi publicada na conta de InsanePatient2 no TikTok e em seu canal no YouTube em 3 de março de 2022.

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Comparação de capturas de tela feita em 28 de junho de 2022 de dois efeitos especiais em vídeos do usuário InsantePatient2 que utilizam a mesma paisagem ( . / )

A AFP tentou entrar em contato com o InsanePatient2, porém não obteve resposta até a publicação dessa verificação.

Míssil hipersônico Kinzhal

Em março de 2022, durante o bombardeio a um depósito de armas ucraniano próximo à fronteira romena, Moscou anunciou que havia utilizado pela primeira vez um míssil hipersônico de precisão chamado Kinzhal (o termo significa “daga” em russo).

O presidente russo, Vladimir Putin, disse que essa arma faz parte do “invencível” arsenal do país.

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O míssil hipersônico Kinzhal, apresentado por Putin em 2018, é mais difícil de ser atingido e interceptado pelos sistemas de defesa antimísseis do que as armas convencionais. Isso se deve à sua velocidade, mas também por se aproximar do alvo em menor altura.

Desde o início da invasão russa à Ucrânia, o AFP Checamos verificou diferentes vídeos e imagens sobre o conflito, incluindo publicações virais que confundiram imagens reais com as de um videogame.

Há alguma informação que você gostaria que o serviço de checagem da AFP no Brasil verificasse?

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