The New York Times não “admitiu” menos casos e hospitalizações por covid-19 entre não vacinados

Publicações compartilhadas nas redes sociais desde o começo de 2022 asseguram que o jornal The New York Times “admitiu” que as taxas de infecção e hospitalizações pela covid-19 entre pessoas não vacinadas são mais baixas do que entre as vacinadas. No entanto, essa afirmação é enganosa: ela se baseia em um recorte tendencioso de um texto do veículo norte-americano. As publicações viralizadas omitem parágrafos inteiros, incluindo o título do artigo, que indica que as vacinas seguem sendo “a melhor defesa” contra o vírus. O texto também explica que os dados não são válidos para a variante ômicron.

New York Times admite que as pessoas não vacinadas têm ‘taxas mais baixas de infecção e hospitalização’ de COVID-19 do que as vacinadas”, afirmam as publicações no Facebook e Twitter (1, 2).

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Captura de tela feita em 9 de maio de 2022 de uma publicação no Twitter ( . / )

Notícias similares também circulam em inglês, francês e espanhol.

Algumas publicações incluem um link para um artigo em inglês publicado em 27 de janeiro de 2022 pelo portal The National Pulse. No primeiro parágrafo encontra-se parte do texto viralizado nas redes: “The New York Times finalmente aceitou que as pessoas não vacinadas contra a covid-19 e que já tenham contraído previamente o vírus tiveram ‘taxas mais baixas de infecção e hospitalização do que os protegidos só pela vacina’”.

O artigo faz referência a uma matéria do jornal norte-americano publicada em 19 de janeiro de 2022 sobre um estudo dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. Esta, inclusive, cita textualmente os seguintes parágrafos:

“Durante a semana que começou no dia 30 de maio de 2021, as pessoas vacinadas que não haviam contraído covid tiveram um menor risco de infecção por coronavírus e de hospitalização, seguidas por pessoas não vacinadas que haviam sido diagnosticadas com covid previamente.”

“No entanto, na semana do dia 3 de outubro, as pessoas vacinadas que tiveram o diagnóstico [de covid-19] previamente, tiveram melhores resultados contra a variante delta. As pessoas não vacinadas com histórico de covid também tiveram taxas mais baixas de infecção e hospitalizações do que as protegidas unicamente pelas vacinas.”

O artigo, no entanto, omite outros pontos do texto. A começar pelo título da matéria original veiculada pelo The New York Times: “Imunidade após a infecção protegeu contra a Delta, informam os CDC, mas as vacinas seguem oferecendo a melhor defesa”, assim como outros parágrafos que advertem sobre a importância das vacinas:

“(...) A infecção implica consideráveis riscos para a saúde e, em longo prazo, a vacinação segue sendo a melhor defesa contra o vírus, segundo os pesquisadores”.

Além disso, no artigo, os CDC advertem que os dados foram coletados antes da aplicação mais ampla das doses de reforço e da aparição da variante ômicron, “fazendo com que os resultados possam não ser relevantes” na atualidade.

A nota cita também um estudo da Clínica Cleveland, que concluiu que, ainda que durante os primeiros meses a vacinação não acrescente muitos benefícios, caso haja histórico de uma infecção anterior, “pode oferecer uma melhor proteção contra a doença sintomática em longo prazo”.

No texto, Eli Rosenberg, subdiretor científico do Departamento de Saúde do estado de Nova York, explica que “tanto a vacinação como ter sobrevivido à covid proporcionam uma proteção contra a infecção e a hospitalização”. Mas também afirma que ter covid-19 implica em um risco significativo, ou seja, “se vacinar e estar em dia com as doses de reforço é realmente a única opção segura”.

Últimas descobertas

A informação mais atualizada foi publicada no site dos CDC em 6 de maio de 2022 e indica que, em março deste ano, a possibilidade de ser hospitalizado por covid-19 era 2,7 vezes mais alta em adultos entre 18 e 49 anos não vacinados e 6,3 vezes mais elevada nos maiores de 65 anos sem a vacina comparado com pessoas que receberam a dose de reforço.

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Captura de tela feita em 9 de maio de 2022 de um gráfico publicado no site dos CDC ( . / )

Em relação à infecção, as estatísticas do CDC mostram que os não vacinados têm até duas vezes mais probabilidade de padecer de covid-19 que os vacinados que contam com a dose de reforço.

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