Xangai e Pequim confirmaram os primeiros casos do novo coronavírus em janeiro

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  • Publicado em 6 de abril de 2020 às 22:31
  • Atualizado em 2 de setembro de 2020 às 19:58
  • 6 minutos de leitura
  • Por AFP Uruguai, Bruno SCELZA, AFP Brasil
Várias publicações compartilhadas no Facebook e no Twitter asseguram que o novo coronavírus, detectado pela primeira vez em Wuhan em dezembro de 2019, não chegou às “cidades importantes da China”, como Xangai e a capital Pequim. Essa afirmação, no entanto, é falsa: ambas as cidades, assim como Shenzhen, apresentaram os primeiros casos positivos antes que se completasse um mês da identificação do vírus.

 

“CORONA VÍRUS, ATINGIU PESSOAS À 12 MIL KMS E NÃO ATINGIU MUITO XANGAI E NEM PEQUIM À 619 KMS E 1.052 KMS. CAPITAIS FINANCEIRAS , POLÍTICAS E COMERCIAIS DA CHINA [sic] e “O vírus da Corona viajou o mundo inteiro de Wuhan, mas não chegou a Pequim e Xangai... alguém consegue colocar luz? [sic], são algumas das legendas que acompanham as publicações, compartilhadas mais de 17 mil vezes desde o último dia 29 de março no Facebook.

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Captura de tela feita em 6 de abril de 2020 de publicação no Facebook
 

O texto também foi publicado por vários usuários nessa rede social (1, 2, 3) e no Twitter (1, 2, 3), com algumas alterações em seu conteúdo, mas cuja afirmação central - de que o vírus não havia chegado às cidades de Xangai e Pequim - se mantém. Essa publicação foi igualmente enviada ao número do WhatsApp do AFP Checamos para ser verificada.

Em espanhol (1, 2, 3) a alegação foi replicada e compartilhada mais de 88 mil vezes.

A postagem também afirma que “parece tão lógico.... Depois de tudo o mercado de valores chinês não caiu.... Os mercados americanos e europeus fizeram.... Destruir outros mercados e preparem-se para capturá-los em todos os sentidos”.

Coronavírus na China

O novo coronavírus foi detectado pela primeira vez na cidade de Wuhan, na China, em dezembro de 2019. Em 20 de janeiro de 2020, a AFP já informava sobre a chegada da doença à capital, Pequim, e a Xangai, onde se encontra o maior mercado de valores do país. Em 25 de janeiro se escrevia sobre a decisão do governo chinês de fechar ao público a Cidade Proibida de Pequim e o Parque da Disney localizado em Xangai.

Em 26 de janeiro, quando os contágios na China continental superavam oficialmente os 2.000 e as mortes eram mais de 50, era registrada a primeira vítima fatal em Xangai. Em 27 de janeiro, a AFP também mencionava Shenzhen entre as cidades que registravam casos positivos da COVID-19. Nesta mesma data, a AFP reportava a primeira morte “causada pela epidemia de pneumonia viral” em Pequim.

Construção de hospitais

Em outro ponto da publicação afirma-se que há “uma demonstração de eficiência, construindo hospitais dentro de alguns dias. Afinal, você já estava preparado, com os projetos, encomendando o equipamento, contratando o trabalho, a rede de água e esgoto, os materiais de construção pré-fabricados e abastecido num volume impressionante”.

O governo anunciou em 24 de janeiro, quando os casos positivos de COVID-19 haviam chegado a 830 e as mortes a 26, que seria construído em um espaço de 10 dias um novo hospital em Wuhan com 25 mil m² de extensão, destinado a atender apenas pacientes que tivessem a doença. Em sua construção trabalharam mais de 4 mil operários e equipes do Exército.

O centro de saúde abriu as suas portas em 3 de fevereiro e registrou 50 internações no primeiro dia. Até aquele momento, os infectados com o novo coronavírus eram mais de 20 mil e os mortos superavam os 400.

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Foto aérea tirada em 2 de fevereiro de 2020 mostra o hospital Huoshenshan depois de ser entregue ao Exército da China em Wuhan
 

No mesmo dia foi anunciada a criação de “hospitais temporários” em locais como ginásios e centros de exposição para atender à emergência. No total foram 16 locais utilizados para tratar os infectados em Wuhan, que deixaram de funcionar com essa finalidade em 11 de março, segundo informou a agência estatal chinesa Xinhua.

Mas não foram construídos “hospitais”, como assinala a publicação, e sim apenas um hospital erguido em 10 dias, além de 16 espaços usados para atender à emergência.

A Bolsa chinesa

A pandemia de COVID-19 provocou perdas colossais nos mercados, a queda das principais Bolsas europeias e de Wall Street. Segundo Kristalina Georgieva, presidente do Fundo Monetário Internacional (FMI), o mundo entrou em recessão econômica.

A China não ficou de fora desta situação. Na verdade, a Bolsa de Xangai teve em fevereiro a sua pior queda em cinco anos, a ponto do governo do país implementar uma injeção de 175 bilhões de dólares para mitigar as consequências econômicas.

O “antídoto” do coronavírus

A publicação viralizada também afirma, em suas diferentes versões, que a China criou um vírus para o qual “já tinha um antídoto”. Isto, contudo, é falso.

Como verificado pelo AFP Checamos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) assinala que até a data não há vacina ou remédio antiviral específico para prevenir ou tratar” o novo coronavírus. “Entretanto, os infectados devem receber atendimento para aliviar os sintomas”, assinala o organismo.

Em 31 de março, a Agência Europeia do Medicamento assinalou que pode levar ao menos um ano antes que uma vacina contra a COVID-19 esteja pronta para sua aprovação e que haja quantidades suficientes que permitam seu uso estendido”.

Epidemia controlada

“Controle rapidamente a epidemia no seu país. Afinal de contas, você já estava preparado”, indica a publicação mais à frente.

Os primeiros casos do novo coronavírus na China foram detectados em dezembro de 2019. Quando foi anunciada a construção do hospital, em 24 de janeiro, já havia mais de 800 pessoas contaminadas e cerca de 30 mortos. Dez dias depois, quando o hospital abriu as suas portas, havia 20 mil infectados e mais de 800 mortos apenas neste país.

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A epidemia seguiu se espalhando. Um mês depois, em 6 de março, a China contabilizava mais de 80 mil casos confirmados da COVID-19 e 3 mil mortos. A cada dia as cifras de contaminados aumentavam. Em 13 de março foi comunicada uma cifra menor de novos infectados, que era de somente oito. Até aquele momento já havia mais de 3.100 mortos no país asiático.

Em Wuhan a quarentena continua e deve chegar ao fim em 8 de abril. O governo, contudo, teme uma nova onda de contágio. Após ser detectado um caso positivo, foi anunciado em 2 de abril que a cidade de Jia, com 600 mil habitantes, entrava em isolamento.

Xi Jinping em Wuhan

“O presidente da China Xi Jinping... acabou de usar uma máscara simples aproximadamente Rm1 (Rm1 = CNY 1.60 taxa de câmbio atual) para visitar as áreas efetuadas sem quaisquer outras precauções de segurança. Como presidente, ele deveria ser coberto da cabeça aos pés..... mas não foi o caso. Ele já foi injectado para resistir a qualquer mal do vírus.... isso significa que já estava em vigor uma cura antes do vírus ser libertado [sic], menciona a publicação.

O presidente chinês visitou Wuhan em 9 de março para realizar “uma inspeção das medidas de prevenção de epidemias” na região, indicou a Xinhua. Lá, foi visto usando uma máscara de proteção, como mostra este vídeo, em espanhol, registrado pela AFP.

Segundo a OMS, as máscaras devem ser usadas apenas quando um indivíduo estiver em contato com alguém suspeito de ter a infecção, ou se estiver apresentando sintomas como tosse e espirros. 

Em resumo, é falso que Pequim e Xangai não tenham registros de casos da COVID-19, como afirmam um série de publicações viralizadas.

EDIT 07/04: Corrige a cifra total de mortos na China continental em 6 de março no 20º parágrafo

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